Cultura

O que queremos da escola?

(*) Walber Gonçalves de Souza

Fevereiro chegou e com ele o início das atividades escolares. Cadernos, livros, canetas, lápis, acordar cedo, sirenes das escolas, o vai e vem de alunos torna-se frequente pelas ruas e a dinâmica da vida de muitas famílias volta à rotina que se estenderá por cerca de aproximadamente 10 meses até o dia da chegada das próximas férias. Mas até lá teremos um longo caminho pela frente, um ano letivo a ser vivido. E é nele que agora devemos focar.

Muitos pesquisadores defendem, ferrenhamente, que a educação é o divisor de águas de qualquer sociedade humana. Que a realidade de vida destas sociedades pode ser mensurada antes e depois do processo educacional; sendo que todos os povos que conduziram de fato a educação com seriedade e eficácia, de forma coletiva, tornaram-se infinitamente melhores nas diversas dimensões da vida humana: social, cultural, emocional, etc.

Um pensamento atribuído ao filósofo grego Platão diz que: “O homem … é um animal manso ou civilizado; no entanto, requer uma instrução adequada e uma natureza sortuda, e portanto, de todos os animais, torna-se a criatura mais divina e mais civilizada; mas se ele é insuficiente ou mal-educado, é a mais selvagem das criaturas terrestres”. Reafirmando, portanto, a importância da educação na vida humana.

E nós, brasileiros, o que queremos da escola? Qual papel e importância damos à ela? Será que percebemos e queremos que uma escola seja realmente uma escola? Ou disfarçadamente, em nome das demandas sociais contemporâneas, continuaremos a usar a escola para perpetuar a estrutura social que se arrasta no Brasil há séculos?

Como diria Hamilton Werneck, “a escola continua fingindo que ensina”.E sabe porque ela finge que ensina? A resposta pode ser dada de uma forma muito simples: ela ainda não conseguiu, coletivamente, ser a fonte de transformação da própria sociedade colaborando para que seus vícios sociais paulatinamente fossem se extinguindo.

Não estou aqui culpando a escola, muito pelo contrário, infelizmente ela faz parte do jogo, do mundo do faz de contas, é uma peça a mais da fantasiosa forma de como o Brasil é e continua querendo ser.

Deveríamos querer uma escola que transforma a sociedade, que combata a Lei de Gerson, que promova o respeito à vida e às diferenças no mais amplo sentido. Deveríamos querer uma escola que promova o bem comum, a justiça, os valores de dignidade, que propicie o crescimento intelectual, mas também o emocional, cultural e artístico. Deveríamos querer uma escola de qualidade, que prime pelo desenvolvimento de uma ciência permeada pela ética e que venha de fato ao encontro dos anseios das pessoas. Deveríamos querer uma escola que nos tornasse mais gente e menos animal.

Mas, enquanto este dia não chega, vamos começando mais um ano letivo e envolto de elocubrações pedagógicas criadas em gabinetes perpetuando o nosso jeitinho de ser brasileiro.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

 

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