Opinião

As consequências dos jogos de poder

“Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre. Não existe meio termo” (Cersei Lannister)

(*) Wanderson R. Monteiro

Acredito que, nesse momento, eu tenha trazido à mente de muitos leitores a lembrança de um bom momento de suas vidas, pelo menos para aqueles que gostam das “Crônicas de Gelo e Fogo”, que leram os livros escritos por George R. R. Martin, ou daqueles que acompanharam a série “Game Of Thrones”, da HBO, onde essas pessoas puderam se deliciar com uma boa história de fantasia, seja lendo os livros, ou assistindo a série (menos a última temporada).

Mesmo para quem não acompanhou a história, o próprio título do livro, ou da série, já deixam bem claro que a busca pelo poder é o tema central de “A Guerra dos Tronos”, e essa frase tão nostálgica, dita por Cersei Lannister a Ned Stark, nos revela a natureza implacável dos jogos de poder.

Essa frase nos faz pensar e refletir sobre as consequências que podem surgir quando nos envolvemos em disputas por poder. Seja na esfera política, profissional ou pessoal, a busca incansável e irracional pelo poder, a qualquer custo, sempre nos trará consequências drásticas.

Os jogos de poder são, na maioria das vezes, competitivos e impiedosos. Neles, seja em qualquer uma das áreas em que eles possam ocorrer, as pessoas estão dispostas a tudo para alcançar seus objetivos, muitas vezes colocando em risco a ética, a integridade e, em alguns casos mais extremos, até mesmo a própria vida. A frase do livro nos alerta para a realidade de que, nesse tipo de jogo, não há espaço para meias medidas ou tentativas fracassadas. Para aqueles que encaram, mesmo as disputas diárias, como um “jogo de poder”, a vitória é o único caminho possível, custe o que custar.

Em nosso dia-a-dia não é difícil de nos vermos em alguma “disputa”, seja em qualquer esfera de nossas vidas, e não são poucos aqueles que levam essas pequenas disputas ao extremo, buscando fazer tudo e qualquer coisa para se colocar à frente, e acima, dos demais, assim, essa reflexão nos ajuda a questionar as motivações por trás das nossas ambições de poder. Até que ponto estamos dispostos a ir para alcançar nossos objetivos? Quais são os limites éticos que estamos dispostos a transgredir, ou melhor, que não devemos transgredir? Os jogos de poder nos fazem confrontar nossas próprias ambições e avaliar se os meios que escolhemos para alcançá-las são realmente justificáveis, ou se, simplesmente, queremos alimentar o nosso egoísmo.

Na esfera política, é fácil de perceber como os princípios da busca de poder a qualquer custo se manifestam em diferentes contextos. Nas disputas políticas é fácil ver os jogos de poder sendo travados em busca de cargos e influência, muitas vezes levando a alianças questionáveis e a práticas duvidosas e, até mesmo, a tramas maquiavelicamente orquestradas para derrubar um ou outro político, mesmo que isso prejudique toda uma população. Seja na esfera nacional, estadual, ou municipal, onde há política, existe alguém disposto a fazer praticamente tudo para alcançar o poder.

Fora do campo político, no ambiente corporativo também existem inúmeros casos de competitividade intensa, com indivíduos dispostos a passar por cima de seus colegas para obter promoções e reconhecimento. Assim, a frase também se aplica às disputas que ocorrem nesse meio, de forma a nos fazer refletir sobre o impacto dessas atitudes, que podem, muitas vezes, ser vistas e consideradas como destrutivas, no ambiente de trabalho.

Além disso, na esfera pessoal, a mentalidade de “vencer ou morrer”, de agir de forma egoísta, sem pensar ou se importar com as consequências, pode afetar drasticamente nossos relacionamentos e nosso bem-estar emocional. A obsessão pelo poder a qualquer custo, de sempre estar acima dos outros, pode levar à alienação, à manipulação e à destruição de laços afetivos. Lembram da história de Macbeth, comentada em meu último artigo? A ambição desmedida pode nos levar à ruína e à destruição de todos os nossos bons relacionamentos.

Assim sendo, a frase dita por Cersei Lannister nos leva a refletir sobre as consequências advindas do jogo de poder, e como essa busca desmedida pelo poder a qualquer custo pode nos levar à destruição. 

Que venhamos entender que a verdadeira vitória não reside apenas na conquista do poder, mas também na preservação dos valores que nos tornam humanos, e que bons relacionamentos, em todas as esferas da vida, são infinitamente melhores que o isolamento causado quando se alcança o topo escalando uma montanha de pessoas, pisando e passando por cima de nossos iguais.

(*) Wanderson R. Monteiro é escritor, jornalista, bacharel em Teologia pelo ICP e graduando em Pedagogia.

São Sebastião do Anta – MG

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