Opinião

Os atos antidemocráticos e o tiro no pé

(*) Fernando Benedito Jr.

Ao convocar os atos golpistas e antidemocráticos do dia 7, Bolsonaro queria dar uma demonstração de força e deu. Mostrou que ainda tem apoio popular. Não que isto lhe garanta a reeleição, mas certamente tem apoio de uma parcela significativa da população, ainda que a custo de caravanas vindas de vários locais do País e reunidas na Esplanada dos Ministérios e na avenida Paulista, com apoio do agro e de empresários apoiadores das pautas fascistas do presidente. Por outro lado, os atos revelaram seu total isolamento político e para usar um trocadilho que lhe é caro, deu um tiro no próprio pé. Seus discursos atiçaram sua base popular e criaram uma arapuca que agora ele tem que desmontar. Os bloqueios de caminheiros bolsonaristas, por exemplo, que podem prejudicar ainda mais a já combalida economia, é uma das conseqüências mais visíveis de seus atos inconseqüentes. O mercado reagiu com a queda da Bolsa e aumento do dólar. Outro reajuste dos combustíveis e o aumento da inflação vêm na esteira. Além da insegurança de investidores estrangeiros, que começam a migrar para mercados mais estáveis.

Bolsonaro também atiçou a ira de outros setores que resolveram se movimentar para colocar fim à sanha golpista e o impeachment, que andava meio esquecido, voltou à baila. Vários partidos políticos decidiram desembarcar de sua aventura antidemocrática, como PSDB e PSD, que prometem se unir aos partidos de oposição, ainda que com algumas dissidências, com o objetivo de colocar fim às tensões diárias criadas pelo presidente.

O STF também reagiu com o duro discurso de Luiz Fux que lembrou o crime de responsabilidade em caso de não cumprimento das decisões judiciais. O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira, num discurso morno, ressaltou que é preciso baixar a temperatura. O líder do Senado Rodrigo Pacheco também disse que é preciso se atentar para as crises reais e que o autoritarismo não é a solução. O presidente do TSE, Roberto Barroso, anunciou uma comissão de transparência eleitoral e disse que está ficando cansativo desmentir falsidades, em uma resposta à insistência do presidente Jair Bolsonaro de descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro.

Ao fim e ao cabo, Bolsonaro apostou todas as fichas no 7 de setembro. Se por um lado ficaram satisfeitos, ele e sua base de apoio, com a mobilização popular; por outro lado, deixou um gosto amargo na boca. Não teve golpe, não houve vitórias. A PM não se insurgiu, as Forças Armadas se mantiveram em silêncio. Foi mais do mesmo.

E teve ainda os que não foram e nem irão. E são muitos. E provavelmente aumentarão, a depender dos rumos da política econômica, que sequer foi tema do discurso de Bolsonaro. No palanque eleitoral, Bolsonaro não falou do Brasil real, aquele da fatura da energia elétrica, do preço das compras no supermercado, do preço dos combustíveis, das vítimas da pandemia, da escassez hídrica. Não parece ser esta a sua preocupação. Além disso, para resolver estes problemas, ele não precisa do STF. Precisa de políticas públicas, planejamento e vontade política. Coisas que não estão no seu radar, nem nunca estiveram.

Quando for atirar com seu fuzil, Bolsonaro precisa calibrar melhor a mira.

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