Opinião

As escolas de Minas sob ataque

Algumas considerações sobre Zema, Tiradentes e traições

(*) Fernando Benedito Jr.

Já faz algum tempo que a educação em Minas Gerais vem sofrendo todo tipo de ataques. O mais grave deles, certamente, é a deterioração da qualidade do ensino, a desvalorização dos trabalhadores em educação, o limitado conteúdo, a falta de recursos didáticos e pedagógicos, para citar os mais visíveis. Mas também existem os verdadeiramente trágicos, como o caso ocorrido na creche em Janúba, em 5 de outubro de 2017 com 14 mortes; ou em Caraí, no Vale do Jequitinhonha, em novembro de 2019, quando um estudante de 17 anos invadiu uma escola armado e vestido de preto, atirou contra colegas, repetindo os casos de Suzano e Realengo.

Agora, vem de acontecer também ameaças de ataques terroristas, de massacres e bombas, que, em muitos casos são invencionices de alunos arruaceiros e gazeteiros querendo matar aula, mas podendo ser também algum surto psicótico influenciado por outros casos parecidos, o que deixa a tensão no ar da mesma forma. E exige medidas urgentes.

Outro tipo de ataque não menos grave, que também exige a presença de uma “patrulha escolar” são os de ordem “teórica”, mas não menos ameaçadoras, como esta “brilhante” ideia do governo de Zema de “ressignificar” a história de Tiradentes em pleno dia de sua morte, classificando como “um golpista”. Curiosamente, o faz ao entregar a Medalha da Inconfidência a dois dos mais recentes traidores da Pátria: o senador e ex-juiz Sérgio Moro e o ex-vice-presidente Michel Temer. Perto deles, Joaquim Silvério dos Reis, o traidor de Tiradentes, era um santo.

A Tiradentes, não bastou ser enforcado, ter o corpo dilacerado e espalhado pelo Caminho Real, as posses confiscadas e a família excomungada pela Igreja e pela Coroa até a última geração. Depois de tudo, algum estúpido não-ser governamental quer continuar “salgando” a carne dilacerada do “golpista” até os dias atuais.

A agressão à história e à inteligência dos mineiros pelo governador Romeu Zema (Partido Novo) é de uma falta de verniz cultural e de uma estupidez difícil de acreditar. Burrice é o nome que se dá. Segundo ele, a Inconfidência Mineira, no século 18, foi uma consequência de tentativas de golpe contra os portugueses pelas pessoas que participaram da revolta, contrária à política fiscal imposta por membros do País europeu no Brasil.

“Temendo as consequências do golpe à Coroa Portuguesa, os inconfidentes não confessaram seus crimes. O único a fazê-lo foi Joaquim José da Silva Xavier, que se tornou o Mártir Tiradentes, ao receber a pena mais dura, em 21 de abril de 1792″, afirmou o chefe do Executivo mineiro.

Observe-se que os inconfidentes eram em sua maioria pessoas abastadas que não suportavam mais pagar o “quinto” das riquezas de Minas à Coroa. Talvez o mais pobre deles fosse Tiradentes e por isso, sem ter quem intercedesse por ele, pagou a pena capital. Os outros, quando muito, foram degredados. Os inconfidentes, embora embalados pelos então revolucionários pensamentos iluministas e republicanos, que chegavam dos EUA e Europa, lutavam por uma bandeira que interessava à nobreza, aos fazendeiros e comerciantes. Aos abastados. Defendiam gente como Zema, meritocráticos.

Quando Zema perguntou à locutora da rádio da Divinópolis se a escritora Adélia Prado trabalhava lá, deu uma demonstração de ignorância sobre literatura. Agora, dá outra ainda maior sobre a história de Minas.

Esse povo precisa aprender a eleger melhor seus governantes. Ou os governantes precisam voltar ao banco da escola para aprender.

(*) Fernando Benedito Jr é editor do DP.

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