Opinião

A destruição e o genocídio em Gaza

(*) Fernando Benedito Jr.

É provável, após concluírem que a vingança atingiu seu ponto máximo em Gaza e que o genocídio palestino já é suficiente para mostrar aos “terroristas” o poder de fogo de seu potente arsenal, Israel, EUA e Reino Unido (“estes grandes ícones mundiais de democracia e respeito aos direitos humanos e tratados internacionais”), façam um daqueles acordos de reconstrução no pós-guerra. Destroem e depois e reconstroem, claro, sob seu domínio absoluto, para mostrar ao mundo como são bons. Os bombardeios e o genocídio foram um mal necessário, dirão. Era preciso acabar com o terrorismo.

É possível que cometam uma hipocrisia destas, porque o genocídio atual em Gaza tomou uma proporção que os bombardeios, a destruição e as matanças de 2008, 2012, 2014 e 2021 não tiveram. Se bem, que após estes bombardeios não reconstuiram nada. Seguiram humilhando os palestinos, batendo na cara dos “terroristas” que atravessam a fronteira em busca de água, comida e trabalho em Israel (fazendo o serviço pesado e sujo que os israelenses se recusam a fazer).

A opinião pública mundial pode até reconhecer o erro do Hamas ao atacar Israel, mas também viu a virulência desproporcional do contra-ataque e não está gostando nada do que está vendo.

A Faixa de Gaza, geográfica e territorialmente falando, tem pouco significado. É um território com 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados, sem indústrias, sem água, sem saneamento. Absolutamente pobre. Mas é o que resta aos palestinos. Mesmo pequena, é densamente povoada por aproximadamente 2,4 milhões de pessoas, em sua maioria palestinos sunitas refugiados que, assim como os judeus com Israel, consideram Gaza sua pátria, sua Terra Santa.

Mas, o que importa é que os israelenses querem Gaza. Acham que assim estarão em segurança na fronteira, em seu estado sionista, bom e justo. Inviolável. Só eles podem violar o território do outro, erguer muros, construir prédios e kibutz na terra alheia.

Israel não estará em paz. E não se trata de nenhuma profecia. É impossível que um pai veja o filho (e são muitos) ser morto, a esposa, a mãe, um parente, pelo bombardeio israelense e ache normal. Que um filho veja um pai, uma mãe, um irmão, ser morto e considere natural. Quando menos se esperar, haverá vingança, uma emboscada. Como houve em 7 de outubro.

Não haverá paz se não houver um Estado palestino, respeito ao povo e suas crenças, sua cultura. Não haverá paz se não houver escolas, hospitais, água, comida, trabalho. Se não houver pátria.

É mais ou menos a mesma coisa que os judeus sofreram antes de se estabelecerem em Israel. Quando não tinham terra, nem Estado e só lhes restava o ódio, o preconceito. As fogueiras da Inquisição e as câmaras de gás do nazismo.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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