Opinião

O que há em comum entre abstenção na eleição presidencial e governança corporativa?

(*) Janilson Vaz

O Brasil acordou dia 3 de outubro com algumas ressacas, umas boas e outras ruins. Vamos começar pelo lado bom da força. A principal foi a comprovação de que o 1º turno das eleições ocorreu de forma pacífica em todo país, cenário melhor que os atritos, brigas, “impugnações” ocorridas nos grupos de amigos, colegas, sócios e principalmente familiares nas redes sociais. Isso reforça a esperança de que há mesmo luz no fim do túnel e que o eleitor começa a entender que o coleguinha que pensa diferente não é inimigo. No mundo corporativo muitas vezes sócios, gestores, empreendedores também divergem de opiniões e das ações em prol da organização. E infelizmente essas divergências podem resultar em discordâncias tão sérias, que os impedem de conviver entre si nos círculos que até os familiares participam, afetando o clima do almoço de domingo e a confraternização nos encontros com amigos e familiares comuns. A falta do diálogo, da empatia, pode conduzir para um caminho de afetar pilares do sucesso das organizações, que são o respeito e confiança entre os acionistas e gestores.

Outra ressaca positiva foi o menor número de votos nulos e brancos para eleição nos últimos anos, demonstrando que o eleitor parecia estar consciente em quem votar e já vinha se preparando de alguma forma para aquela decisão.  Ah, se no mundo empresarial todos os acionistas e gestores sempre se preparassem para tomar as decisões. Que bom que seria!

Mas voltando a ressaca eleitoral, tivemos também ressacas ruins. Claro que não vamos falar de resultados de candidatos, nem de partidos, pois o foco aqui é ter uma reflexão maior. A ressaca ruim foi o elevado nível de abstenções, nos patamares das eleições anteriores, com quase 35% da população se esquivando de votar, por diversos motivos, considerando até que alguns dos quais possam ser entendidos como “justos”, consistentes, embora o dano com a tomada de decisão seja irreversível. Explico melhor…  Abster-se resulta em entregar para o outro a decisão de um caminho longo, que tem uma parada mínima de 4 anos. Mesmo que não se sinta representado pelos candidatos ou pelas propostas do outro eleitor considerou melhores, quem se esquiva corre um risco muito maior ao delegar para outro a sua opinião.

Infelizmente, isto também acontece no mundo corporativo. Acionistas muitas vezes não se preparam para votar nas Assembleias, nem para questionar os números e as propostas ditas “estratégicas”, nas reuniões dos Conselhos de Administração, Conselho Consultivo e demais Comitês. Esta abstenção resulta em algo ainda mais grave: a falta de comprometimento.

Relacionando abstenção de votos com os pilares de uma Governança Corporativa, é necessário lembrar da responsabilidade corporativa, em que os agentes devem zelar pela sustentabilidade econômica, financeira, social, ambiental e de governança, reduzindo as externalidades negativas das organizações, aumentando as positivas. E como fazer isto sem estar acompanhando, auditando e se comprometendo para o sucesso daquela organização? Abstendo-se de votar e de participar do processo é que não é. 

Portanto, o que se espera, como brasileiro e como apaixonado por governança, é que no 2º turno cada um dos cerca de 31 milhões de brasileiros que não exerceu seu direito ao voto repense mais um pouco e assuma o seu papel individual de votar sobre as decisões que vão afetar a vida de todo cidadão, inclusive a dele próprio, quer queira ou não. Sejamos otimistas!

(*) Janilson Vaz, professor, mestre em Administração e Governança Corporativa.

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