Cidades

Casa da Esperança suspende projetos por falta de dinheiro

Tia Lúcia comunicou aos pais que os projetos educacionais da entidade estão encerrados por falta de recursos do governo Robson     (Crédito: Nadieli Sathler)

 

IPATINGA – O clima da reunião entre pais, alunos, funcionários e direção da Casa da Esperança na manhã de ontem era de consternação. O encontro convocado por
Maria Lúcia Valadão, a Tia Lúcia, foi para anunciar o encerramento das atividades do Projeto Desafio e da Escola Inclusiva.
Ambos os projetos atendiam crianças de zero a 14 anos, com oficinas fora do período escolar. Mas, os constantes atrasos nos repasses dos convênios e as dívidas contraídas pela direção da entidade culminaram com a suspensão das atividades.
“Resistimos até onde foi possível. Estou tomando uma atitude que machuca não apenas o meu coração, mas a minha alma. No começo, trabalhávamos com os portadores de doença mental acamados. Só depois que os outros projetos foram incorporados. Hoje entendo que o trabalho que fazemos com essas crianças e adolescentes em risco social são mais importantes, pois preparamos eles para a vida. Agora temos que colocá-los na rua”, declarou.
Visivelmente abalada por ter de abrir mão dos seus alunos, Tia Lúcia não escondia a dor de ter que se separar dos estudantes que são tratados como filhos na Casa da Esperança. Além dos projetos, a direção demitiu 10 funcionários que trabalhavam na assistência educacional.
“O arroz da dispensa só dava para alimentar meus filhos até domingo. Fiz uma mobilização com comerciantes conhecidos e consegui mantimentos para mais uns dias. Mas devo farmácia e supermercados”, contou.
Outros 15 profissionais que davam suporte aos pacientes abrigados também foram dispensados. Para quitar os encargos trabalhistas com os funcionários, a entidade vendeu dois veículos doados por apoiadores.
“Confesso que situação chegou a um limite insuportável quando autorizei a venda da nossa Ducato (Van) para pagar contas. Não consegui mais conter o choro ao ter que desfazer do presente dado pelo nosso querido Rinaldo Campos (ex-presidente da Usiminas). Acho que ele lá em cima entende a nossa situação”, afirmou, emocionada.

CONVÊNIOS
As verbas que deveriam ser destinadas à Casa da Esperança para os dois projetos que serão encerrados não ultrapassam R$ 15 mil por mês. Os recursos são da Secretaria de Educação.
De acordo como administrador Ralphy Moreira, o convênio para o Projeto Desafio era de R$ 12 mil, e essa verba não é paga desde abril. Já outro convênio, no valor de R$ 2,3 mil, destinado diretamente pelo governo federal para a entidade, também não é pago desde janeiro.
A entidade recebe ainda da Secretaria de Assistência Social uma ajuda de R$ 40 mil para manter os gastos com os internos abrigados e outro convênio com a saúde de R$ 20 mil. Esses também estão atrasados.

APELOS

Durante a reunião da Casa da Esperança, várias mães, que dependiam dos projetos da entidade para manter os filhos ocupados enquanto trabalhavam, não escondiam a tristeza.
A estudante de enfermagem Valquíria Souza, que era monitora em um dos projetos, estava angustiada porque perdeu o emprego e vaga dos dois filhos assistidos pela Escola Inclusiva.
“Entrei para essa entidade quanto tinha 13 anos. Aqui aprendi a ser uma pessoa melhor e logo que completei 18 anos Tia Lúcia me deu um emprego de carteira assinada. Curso enfermagem por incentivo dela e para ajudar aos assistidos por essa Casa. Agora perdi tudo. Peço ao prefeito que pelo amor de Deus não deixe a situação continuar assim”, lamentou.
Joana D’arc também trabalha há 11 anos na entidade e não sabe como vai sustentar os filhos, já que foi dispensada pela falta de recursos. “Moro no Limoeiro que é um bairro com alto índice de criminalidade. Aqui na Casa da Esperança eles recebiam educação. Não sei onde vou deixar meus filhos”, falou.

CRISE
A Prefeitura de Ipatinga informou, através de nota, que trabalha para cumprir com o repasse de verba para a entidade e também seguir o seu orçamento anual dentro da legalidade. A Administração Municipal empenha-se para resolver este impasse o mais breve possível.
Por causa da crise econômica, desde o ano passado, a PMI adota medidas como a exoneração de 50% de seus cargos comissionados para diminuir gastos. Em virtude das dificuldades financeiras devido à queda na receita do município, a parcela que deveria ser paga à entidade em questão não foi repassada.

 

“Resistimos até onde foi possível. Estou tomando uma atitude que machuca não apenas o meu coração, mas
a minha alma”, desabafou

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