Opinião

Bolsonaro fica atrás das linhas inimigas e não resgata o soldado Ryan

(*) Fernando Benedito Jr.

O cinismo da extrema direita brasileira não se compara a seus correlatos em nenhum lugar do mundo. Nem Donaldo Trump em seus melhores momentos seria capaz de tanta hipocrisia. As manchetes desta sexta-feira, com a escusa de algum exagero aqui e acolá, algum açodamento, é um retrato deste cinismo: “Bolsonaro diz a TV que Mauro Cid é capaz de qualquer coisa para deixar a prisão” – horas depois, Mauro Cid mudou de ideia – , “Bolsonaro diz a aliados que não vão achar na sua conta depósitos em dinheiro vivo das joias” (talvez ache em imóveis comprados com dinheiro vivo), “Para que quebrar meu sigilo bancário e fiscal? Bastava me pedir, diz Michele”.

Só para contraditar, é preciso lembrar que a direita que tanto criticou o mimi da esquerda, agora passa pano para a corrupção e a roubalheira, assim, na cara dura. Lula ficou 580 dias na prisão, lutando por sua liberdade. Mauro Cid, um militar, que deveria encarar com estoicismo sua prisão ainda mais defendendo com tanta veemência seu chefe, ou seja, na sua cabeça subalterna, por bons motivos – se desespera. Dona Michele, que sumiu com um (que se sabe) estojo de joias, poderia ter se antecipado à decisão judicial, mas não. O hacker estava quieto no seu canto e a deputada foi lá cutucar a onça instável com vara curta. Procurou o rapaz, achou, propôs coisas e benesses e agora desanca o hacker dizendo que é bandido, mentiroso contumaz, etc. E o que estavam fazendo na companhia dele?

Desde as 700 mil mortes por covid-19, Bolsonaro jamais manifestou qualquer tipo de sentimento de solidariedade, amizade, conforto, condolências a quem quer que seja. Talvez a exceção tenha sido a Rainha da Inglaterra, mesmo assim de forma protocolar; e no caso da anistia do ex-deputado bombadão, Daniel Silveira, quando fez um gesto para a galera (qauem também não adiantou nada. O ex-deputado segue enquadrado). Todos os seus amigos e aliados que caíram, foram ficando para trás. Não resgatou um soldado sequer. Foi assim com os milicianos e vizinhos acusados do assassinato de Marielle Franco, que ele finge desconhecer. A lista dos que foram jogados na cova dos leões é longa: o finado Gustavo Bebbiano, foi um dos primeiros. Morreu e não recebeu nem um “oi’ de condolências. Tem o Roberto Jeferson, o Sérgio Moro, a “traidora” Joyce Haussemann e uma penca de outros “traidores”, Mauro Cid Filho e pai (ambos militares do Exército), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Ailton Barros (ex-major do Exército), Silvinei Vasques (ex-diretor da PRF) os golpistas de 8/1, os tantos outros militares que o ex-presidente afagou e que por sua causa estão indo para a cadeia.

Além do cinismo e das mentiras, a extrema direita bolsonarista continua covarde, usando os artifícios de destruir reputações e tentar desqualificar os soldados que contestam as ordens superiores, que marcham noutra direção, abandonam fileiras ou contestam as sandices. E são bons nisso. Nisso e em lavagem cerebral.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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