Opinião

A extrema-direita e seus limites

(*) Fernando Benedito Jr.

Certamente inspirada em seus “faróis do mundo”, soberanamente EUA, Reino Unido e Israel, a extrema-direita brasileira, argentina e de outros países do mundo (vê-se algo parecido na França, Espanha e Portugal), mudou sua rota em defesa do livre mercado, da livre iniciativa, da propriedade privada, dos bens e meios de produção e outros pilares de sustentação do capitalismo para pautas mais esdrúxulas, como a reinvenção da mentira, a disseminação da cultura do ódio e do preconceito e a pseudo defesa de valores morais. Fazem tudo às avessas, mas se consideram os senhores da razão absoluta.

Pode parecer um pleonasmo, mas é uma direita extremamente estúpida. Apenas faz eco a um apelo social por mudanças, mas não muda, nem faz nada.

A defesa da propriedade privada, principalmente das terras, se transforma na negação das mudanças climáticas, que consideram “ecoterrorismo”. Transformam a motosserra ou o fuzil em símbolo. Não consideram que a destruição dos recursos naturais vai destruir o capital que tanto prezam, que a exaustão da terra e dos recursos hídricos, mais cedo ou mais tarde, vai prejudicar a irrigação e, quem sabe, levar à bancarrota do agronegócio.

Sustentam que o porte e a posse de armas para a “autodefesa” garante a segurança que o Estado não consegue viabilizar. E como a violência e o ódio são parte de sua ideologia, pouco importa se ela vai aumentar, se as armas vão cair em mãos de bandidos e de organizações criminosas, afinal, “bandido bom é bandido morto” e quanto mais armados estiveram, melhor. Tem-sem um bom motivo para revidar e aniquilá-los. Se der tempo de revidar. Em muitos casos não dá e os defensores do armamento acabam mortos pelas armas que tanto defenderam. Às vezes, acontece.

Também gostam muito de defender a família, embora não prezem tanto as suas. Tanto que costumam ter duas ou três. Se imiscuem em temas que não lhe dizem respeito, como o aborto, política interna de outros países, na religião alheia e nas tendências sexuais de outras pessoas, sem nenhum respeito às liberdades individuais, religiosas, etc.

A extrema direita chafurda num poço de contradições, num lamaçal de moralismo pútrido que só faz piorar o conceito de mundo, porque lhe falta empatia, respeito ao outro. O cipoal de contradições no qual se prendem reduz a pó o liberalismo clássico. E não lhes resta senão fazer política para destruir a política, integrar o sistema para destruir o sistema, negar o Estado democrático de direito tentando governá-lo. Eis a razão, simples, porque, como os anarquistas, não chegam a lugar nenhum, senão ao limbo da história, ao grande depósito de rejeitos em que tentam transformar a sociedade e o mundo.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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