Cidades

A Cidade do Futuro e a cidade das pessoas

Construtores fazem lobby pela verticalização de Ipatinga, mas não debatem os impactos da degradação urbana

(*) Fernando Benedito Jr.

As audiências públicas para revisão do Plano Diretor de Ipatinga se tornaram um terreno propício para o “lobby” pela verticalização da cidade. É um tema controverso, cujo debate não pode ser interditado pela verticalização em si, já que é evidente o exíguo espaço territorial do município. Sem ter como crescer para os lados, resta o céu como limite, embora não seja, como se imagina, o melhor dos mundos, já que pode se tornar uma Torre de Babel. Mas o debate também não pode se circunscrever aos argumentos simplistas e repetitivos dos construtores, que insistem no discurso da geração de empregos e desenvolvimento econômico. Existem outros fatores que precisam ser considerados e que são até mais importantes do que a verticalização, o emprego e o tal progresso. O principal deles chama-se gente.

Com uma área de 165 km 2 e uma densidade demográfica de 1.381.16 hab/km2, ou seja, um amontoado de pessoas, que conforme o último Censo totaliza 227.731 mil almas, a verticalização parece inevitável. Mas também é inevitável uma solução para o escoamento e tratamento do esgoto gerado pela verticalização; para a coleta, destinação e tratamento do lixo gerado por tais empreendimentos e seus habitantes; e, igualmente, para o abastecimento de água, serviços de energia elétrica e comunicação (o amontoado de cabos que atravessa a cidade se transformaram num ninho de guacho que estão quase a derrubar os postes, além dos blecautes constantes). E também a questão do trânsito, da mobilidade urbana, dos espaços de convivência e do planejamento urbanístico, etc.

Estes são apenas alguns dos poucos temas sobre os quais os investidores e construtores não falam. Essa parte do problema não lhes interessa. Isto é problema que o poder público tem que resolver, enquanto eles apenas geram “emprego”  e “desenvolvimento”. Na verdade, se omitem sobre o quanto lucram e enriquecem com a degradação urbana que provocam. No cruzamento destes interesses é preciso avaliar melhor o que é progresso e o que é atraso.

Neste sentido, a “Cidade do Futuro” tem que ser a cidade das pessoas do futuro, tem que cabê-las, tem que ser dignamente habitável, humana e não somente um amontado de concreto. É necessário que a verticalização tenha uma função social, como reduzir o déficit habitacional, por exemplo, e não seja tão somente especulação imobiliária.

Ainda em fase de redação pela Prefeitura de Ipatinga, após as oficinas realizadas com a população da cidade, o projeto deve ser enviado à Câmara Municipal no final de agosto. Nesse interím, é importante que o debate seja melhor formulado e que seja levada em conta também a corresponsabilidade dos interessados na verticalização. Da mesma forma, é preciso considerar os limites desta verticalização, até onde ela vai, quais seus impactos na vida urbana, no meio ambiente, no trânsito, qual a contrapartida dos interessados no “desenvolvimento” e qual legado terão as pessoas da “cidade do futuro”.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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