Opinião

Para Senado, maconha não pode

Senado libera armamento, libera jogos de azar e cassinos, libera agrotóxico, mas quer criminalizar a maconha; na guerra com STF, Pacheco quer punir o maconheiro

(*) Fernando Benedito Jr.

A Câmara dos Deputados e o Senado são as mais corruptas instâncias da República. Evidentemente, guardadas as devidas exceções, mas, nestas duas casas está representado o que há de pior na sociedade brasileira em termos morais. Esquerdistas que votam com a direita, direitistas que votam em interesses próprios, extremistas que se pautam pela moralidade de costumes, mas não vêem nenhum problema em roubar dinheiro público. Claro, não é regra geral, existe uma minoria, tanto na esquerda, na direita e ao centro, que tem convicção sobre seus posicionamentos, opiniões e votam de acordo com sua consciência. É uma ressalva necessária. Mas, no geral, é uma bandalheira.

Por exemplo, o que leva um parlamentar a propor e aprovar uma Lei que pune quem gasta menos energia? Ou para citar outro caso que não teve vida longa, o uso obrigatório do kit de primeiros socorros em veículos? A que libera os jogos virtuais, cassinos e caça-níqueis? A que autoriza o uso e porte de armas? Ou libera o uso indiscriminado de agrotóxicos para atender aos interesses do agronegócio?

Agora, na nova fase do embate com a Suprema Corte, o Senado vai pautar a criminalização do uso e porte de drogas. Como a descriminalização avançava no STF, os conservadores resolveram pautar o tema em sentido contrário. Enquanto o STF tenta colocar parâmetros para definir o que é porte e o que é tráfico, quantificar, evitar o punitivismo que lota as prisões do País; o Senado quer criminalizar, sem diferenciar uma coisa da outra, sem definir quantidades, sem estabelecer critérios. Devia aprovar junto com a proposta, uma outra, aumentando a construção de presídios.

Arma para a milícia, para a “autodefesa do cidadão de bem”, pode. Cassino e jogos de azar, podem. Emenda parlamentar para votar a favor, também pode. Mas maconha, não pode.

Existem muitos interesses inconfessáveis por trás de tais movimentos. Rodrigo Pacheco, por exemplo, quer ser governador de Minas e acena para um eleitorado conservador. Cria polêmica e fica em evidência. “Bater” no STF é bom negócio, até que se precise dele.

O parlamento pode até ser o retrato da sociedade, refletir seus desejos. Mas é improvável que a sociedade seja tão hipócrita.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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