Economia

Escalada de importações derruba desempenho da indústria do aço em 2023 e ameaça 2024

Perda para o país este ano chega a R$ 2,8 bilhões em arrecadação, além de 248 mil postos de trabalho

BRASÍLIA – A indústria do aço chega ao fim de 2023 sob impacto do forte aumento das importações do produto verificado desde o fim do primeiro semestre, que concorrem de forma predatória no mercado brasileiro. Como resultado, a previsão final para o ano é de queda de 8% na produção, para 31,4 milhões de toneladas; recuo de 5,6% nas vendas internas, para 19,2 milhões de toneladas; e salto de 48,6% das importações, para 4,98 milhões de toneladas de aço estrangeiro. As projeções são do Instituto Aço Brasil.

As exportações caem 1%, para 11,8 milhões de toneladas, e o consumo aparente (vendas internas mais importação por distribuidores e consumidores) se mantém estável em 23,5 milhões de toneladas, segundo as previsões.

DISPARADA DE IMPORTAÇÕES

Nos primeiros meses do ano, com base no desempenho das unidades siderúrgicas e projeções de demanda, o Instituto Aço Brasil vinha alertando para o fato de não haver no horizonte, até então, sinais que sustentassem otimismo no setor. Por essa razão, promoveu, em abril e julho, duas revisões para baixo no desempenho esperado das empresas, comparado às projeções apresentadas ao fim de 2022. A enxurrada de aço estrangeiro deteriorou o cenário de forma ainda mais dramática, levando a indústria a reagir ao impacto na demanda, o que se reflete nas atuais projeções.

Em agosto, quando a disparada das importações seguiu sem sinais de inversão da tendência, o setor passou a defender, junto ao governo brasileiro, a necessidade de elevação temporária e emergencial da alíquota de importação de aço para 25%, em 18 NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul), de 273 NCMs da indústria do aço. Trata-se da mesma alíquota praticada em países como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e México. Atualmente a alíquota em vigor no país é 9,6% para a maioria dos produtos.

Os executivos Marco Polo de Mello Lopes e Jefferson de Paula, da Aço Brasil

PRODUTOS CHINESES

A China é a origem da maior parte do aço importado que ingressa no Brasil, vendido abaixo do preço de custo por determinação do governo chinês, controlador da maioria das siderúrgicas locais, em esforço anticíclico para manter a economia aquecida. Atualmente o país responde por 56,7% das importações no Brasil. O empenho de colocação do excedente de produção chinês, somado à assimetria das defesas brasileiras em comparação com outras em vigor em mercados relevantes, tornou o Brasil alvo inevitável do aço estrangeiro.   

GUERRA ASSIMÉTRICA

“A indústria brasileira do aço enfrenta uma guerra assimétrica, provocada pela avalanche de aço estrangeiro. Não se trata de questão de falta de competitividade da indústria brasileira, mas da submissão do setor a uma concorrência desleal diante um produto colocado no mercado a preço artificialmente baixo, o que torna urgente o reforço das nossas defesas comerciais, sob risco de repetirmos o triste desempenho deste ano em 2024”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil.

Cálculos realizados peço Aço Brasil indicam que o volume de 4,98 milhões de toneladas de aço importado em 2023 representa, para o país, uma perda de arrecadação de R$ 2,8 bilhões e de 248.225 mil empregos, que estão sendo deslocados para os países produtores desse aço. A perda de faturamento nas usinas de aço chega a R$ 30,6 bilhões.

AMEAÇA AOS NEGÓCIOS

“O setor do aço vem investindo R$ 12 bilhões por ano, em modernização e desenvolvimento tecnológico, patamar que deveria se manter nos próximos anos. A atual crise provocada pelas importações, porém, se não revertida, ameaça não apenas os investimentos como a própria sustentabilidade da indústria brasileira do aço, um setor que gera empregos de qualidade e desenvolvimento econômico e social nas regiões onde atua, com grande contribuição para o crescimento sustentado do país”, diz Jefferson De Paula, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam.

PROJEÇÕES 2024

Considerando as atuais condições de mercado, em que as importações de aço encontrem fraca resistência para ingressar no país, o Instituto Aço Brasil prevê, para 2024, queda de 3% na produção de aço, para 30,4 milhões de toneladas, e de 6% nas vendas internas, para 18 milhões de toneladas. As importações deverão disparar 20%, acima da escalada ocorrida em 2023, para 6 milhões de toneladas, ou 79% acima do que foi realizado apenas dois anos antes, em 2022. Exportações devem crescer 1,3% e consumo aparente, 1%, uma alta decorrente exclusivamente do aumento das importações.

Esse volume de aço estrangeiro representa uma perda de arrecadação de R$ 3,4 bilhões e de 297 mil empregos diretos e indireto. A perda potencial de faturamento do setor chega a R$ 36,7 bilhões.

ICIA

O Indicador de Confiança da Indústria do Aço (ICIA) cresceu 0,6 ponto em novembro ante outubro, para 35,9. O resultado corrobora a falta de confiança dos CEOs da indústria do aço e leva o índice a acumular o 13º mês consecutivo abaixo da linha divisória de 50 pontos, que demarca o limite entre confiança e falta de confiança.

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