Opinião

Com votos regionais consolidados, Lula amplia vantagem no 2º turno

Bolsonaro aumenta diferença em pequenos colégios eleitorais e Lula encurta distância nos grandes; abstenção não garante vitória e Nordeste segue como bastião da democracia

(*) Fernando Benedito Jr.

(DA REDAÇÃO) – O primeiro turno das eleições presidenciais terminou com a vitória de Lula pela expressiva diferença de 6.187.159 votos. Lula obteve 57.259.504 (48,43%) e Bolsonaro, 51.072.345 (43,20%). A diferença total por si só é significativa, mas são as diferenças regionais que tornam esta totalização ainda mais expressiva, porque, isoladas, parecem muito consolidadas e de difícil ou nenhuma possibilidade de reversão. Quando muito, oscilações de ganha aqui, perde ali, com diferenças favoráveis a Lula.

VOTOS PETRIFICADOS

A menos que haja uma hecatombe eleitoral, o que não é totalmente descartado diante da avalanche de fake news e de outros expedientes não menos espúrios que a campanha de Bolsonaro tem utilizado na reta final das eleições (abuso de poder político e econômico, assédio eleitoral, ameaças, pressão sobre os evangélicos, etc), uma virada que lhe garanta a vitória sobre Lula é simplesmente improvável. Além da consolidação “petrificada” dos votos, Lula lidera regionalmente com uma larga diferença, o que torna a aproximação de Bolsonaro improvável, embora o presidente tenha terminado o 1º turno liderando em 14 estados e Lula em 13, mais os votos do Exterior.

Bolsonaro venceu no AC, DF, ES, GO, MT, MS, PR, RJ, RS, RO, RR, SC, SP e TO. Nestes estados somados, a diferença a favor de Bolsonaro é de 8.626.905 votos. O ex-presidente Lula venceu nos seguintes estados: AL, AP, AM, BA, CE, no Exterior, MA, MG, PB, PA, PE, PE, RN e SE, com um total de 14.308.850 votos de diferença.

CURIOSIDADES E DIFERENÇAS

Numa análise mais detida da votação por estados constata-se algumas curiosidades que parecem ter saído direto da cabala. No Piauí, por exemplo, a diferença de votos entre os dois candidatos é de 1.111.111. Lula tem 1.518.008 (74,25%) e Bolsonaro: 406.897 (19,90%).

Além da curiosidade numérica, percebe-se também uma grande diferença nos números, como aliás ocorre em quase todos os estados do Nordeste, a última fronteira da luta da civilização contra a barbárie, ainda que o bolsonarismo queira transformá-la em “guerra santa”, um combate entre Deus e o diabo na terra do sol. E aqui é preciso fazer um contraponto sobre o “paradoxo do pau-de-arara”.

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE

Durante muito tempo o Sul e Sudeste foram o território por excelência da modernidade, do avanço, da cultura, da inteligência. Já o Nordeste era sinônimo de pobreza, seca, atraso, da cultura limitada do cordel contra as salas eruditas dos theatros municipais e das sinfônicas. Num êxodo interminável, os nordestinos deixavam seus estados para migrarem para o Sudeste, principalmente São Paulo, em busca de melhores condições de vida que lá não havia.

Foi assim.

Hoje, o Sudeste e o Sul, brancos e ricos de olhos azuis, votam no atraso; e os nordestinos, no avanço e na modernidade. A bela gente branca sudestina vota contra vacina, a favor do desmatamento, da exploração descontrolada do meio ambiente, das fake news, do autoritarismo e contra a democracia. O Nordeste vota pelo Estado democrático de direito, contra a política do ódio, contra o preconceito, contra a violência miliciana, pelas suas belas praias despoluídas, contra o racismo e a xenofobia…

TIRA E PÕE

Na Bahia, Lula teve 5.873,081 (69,73%) e Bolsonaro 2.047.599 (24,31%), com uma diferença de de 3.825.482, quase 4 milhões de votos. No Ceará, Lula teve 3.578.355 (65,91%) e Bolsonaro, 1.377.827 (25,38%). A diferença foi de 2.200.528.

Claro, Bolsonaro também teve boas votações com largas diferenças no Sudeste. O principal exemplo vem de Santa Catarina, para citar um lugar de gente de olhos azuis, embora nem todos. Aí, Bolsonaro teve 2.694.406 (62,21%) e Lula, 1.279.216 (29,54%). Uma diferença substancial de 1.415.190 milhão de votos. Ou São Paulo, a grande metrópole brasileira, onde Bolsonaro teve 12.239.989 (47,71%) e Lula: 10.490.033 (40,89%), com uma diferença de 1.749.956 milhão de votos no maior colégio eleitoral do País. Nem é tanto, mas é lamentável.

MAIS ESFORÇO

De grão em grão a galinha enche papo, diz o ditado. Mas mesmo juntando todos os grãos, isto é, aquelas diferenças de 100, 200, 400 e 500 mil votos nos estados onde lidera, Bolsonaro ainda terá que se esforçar muito para vencer.

Segundo o G-1 a pouco mais de uma semana do segundo turno, o ex-presidente Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) lideram a corrida presidencial em 5 estados cada um. Há empate técnico em dois estados.

O segundo turno será realizado em 12 estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Lula lidera em todos os estados do Nordeste onde há segundo turno: Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. A maior vantagem, segundo o Ipec, está na Bahia: 69% a 25%.

Já Bolsonaro está à frente em outros cinco estados, dois deles no Sul: Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ele vai melhor em Rondônia: 68% a 25%, onde obteve 581.306 (64,36%) no 1º turno e Lula: 261.749 (28,98%), com uma diferença pró-Bolsonaro de 319.557. Não é um grande colégio eleitoral que desequilibre o jogo.

Em São Paulo, onde Bolsonaro terminou o 1º turno com 12.239.989 (47,71%) e Lula: 10.490.033 (40,89%), portanto, uma diferença de 1.749.956, a distância entre os dois encurtou: Bolsonaro teria 45% e Lula 44%, segundo a pesquisa. Também há empate técnico no Amazonas onde o 1º turno terminou com Lula na dianteira com 1.019.684 (49,58%) votos e Bolsonaro com 880.198 (42,80%) votos. Agora, segundo a pesquisa Ipec para o G-1, Lula tem 50%  e Bolsonaro 46%, numa região onde o eleitorado total foi de 2.113.771 no 1º turno. O que também não parece ameaçador.

Em linhas gerais, Bolsonaro teve ligeiro aumento em colégios eleitorais menores, à exceção da Bahia, onde subiu 1% (saiu de 24 para 25%) e Lula manteve os 69%. Em compensação em Alagoas, onde a votação ficou em 56% a 36% no 1º turno, a pesquisa Ipec mostra que hoje Lula tem 62% e Bolsonaro 29%.

EFEITO TEBET

O engajamento da senadora Simone Tebet na campanha de Lula, também parece estar surtindo efeito no Mato Grosso do Sul. Ainda que Bolsonaro continue liderando na terra natal da senadora, onde predomina o agronegócio, o percentual de seu adversário aumentou em 10% no 2º turno.

O presidente terminou o 1º turno com 59% dos votos no MS contra 34% a Lula. Segundo a pesquisa Ipec, se a eleição fosse hoje Bolsonaro teria 56% e Lula 44%. Simone Tebet obteve 5,29% dos votos no Estado (79.719). No MS, o TSE apurou um total de 1.506.989 votos válidos no 1º turno.

ABSTENÇÃO NÃO VIRA

Outro dado relevante, segundo o site “Poder 360”, é que um aumento do não comparecimento no 2º turno, especialmente de mais pobres, tende a favorecer Jair Bolsonaro (PL) no 2º turno das eleições de 2022, mas é insuficiente, por si só, para tirar os 6,2 milhões de votos de diferença que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve no 1º turno. Conforme o “Poder 360” “é isso o que mostra uma simulação feita pelo ‘Poder360’ usando a média histórica de alta na abstenção em todas as unidades da Federação. No cenário projetado, a alta de abstenção, quando muito, conseguiria retirar 1,4 milhão de votos da vantagem do petista”.

Ou seja, para mudar o atual cenário eleitoral do País, Bolsonaro teria que virar votos petistas, mas o que está se vendo ainda que em escala menor é o contrário.

De tal forma que só resta esperar a apuração no dia 30.

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