Cultura

Fotógrafo desenvolve projeto “O ferro que escoa sobre o ferro”

Projeto do artista Rodrigo Zeferino investiga cotidiano de comunidades localizadas às margens das ferrovias da mineração no Brasil

IPATINGA – O artista visual da fotografia Rodrigo Zeferino vem acompanhando, desde o início de 2022, o caminho percorrido pelo minério, partindo das jazidas de onde é extraído no Quadrilátero Ferrífero, na região central de Minas Gerais, até o litoral capixaba, onde a maior porção de sua produção – em 2021 foram produzidas mais de 120 milhões de toneladas de minério de ferro em MG – embarca em cargueiros no Porto de Vitória (ES) com destino aos países importadores da commodity.

O trem carregado de minério margeando o município de Antônio Dias – Crédito: Rodrigo Zeferino

Em seu mais recente projeto, Terra em Trânsito, patrocinado pelo Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, Zeferino segue fotografando as comunidades localizadas às margens da ferrovia Vitória a Minas, pertencente à Vale e cuja principal finalidade é escoar o mineral extraído no Estado.

COLABORADORES

Colaboram para o projeto os fotógrafos e pesquisadores Nilmar Lage (que prepara um vídeo documentário sobre o trabalho) e Ricardo Alves (responsável pelo texto de apresentação do ensaio fotográfico), além do fotógrafo Igor Silva, que também registra os bastidores da ação. A jornalista Mariana Penna cuida da assessoria de comunicação do projeto.

Moradia a poucos metros da ferrovia em Ipabinha, comunidade pertencente a Santana do Paraíso – Crédito: Rodrigo Zeferino

PARCERIA

Para identificar as comunidades e suas respectivas lideranças comunitárias, facilitando assim sua inserção e o diálogo com os moradores que cada lugar, Zeferino conta com a parceria do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), instituição que trabalha junto a pessoas que sofrem com os diversos impactos causados pela mineração no território brasileiro.

O material começou a ser produzido em 2020, quando Zeferino ainda atuava individualmente e por conta própria. No ano seguinte veio a seleção no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, o que permitiu ao artista dedicar mais tempo ao projeto e percorrer a estrada de ferro que cruza Minas e o Espírito Santo e os respectivos municípios que se distribuem em sua extensão. O valor oferecido na premiação, R$ 10 mil, foi essencial para arcar com os custos, em especial os de transporte.

DIÁLOGO

Ao aportar em um desses municípios, a equipe se põe a conversar com moradores na tentativa de se inserir na comunidade de modo que as pessoas se sintam à vontade na presença dos profissionais e estes tenham a oportunidade de captar a essência da vida cotidiana naquele lugar.

O propósito elementar do projeto Terra em Trânsito, segundo Zeferino, é entender um pouco da relação dos habitantes com a ferrovia. “Como a linha férrea influencia a vida de quem mora por perto e, principalmente, qual a percepção que essas pessoas têm sobre a quantidade de riqueza que escoa por esta estrada todos os dias, invariavelmente, diante dos seus olhos”, analisa o artista que se propõe a traduzir em imagens essas questões levantadas por ele mesmo.

O fotógrafo revela que a ferrovia Vitória a Minas é apenas uma etapa do projeto, que engloba também outra importante estrada ferro dedicada à mineração no Brasil, que vai de Carajás, no Pará, até o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão. Ele prevê que até 2023 consiga finalizar os dois percursos e editar um livro com as fotografias produzidas.

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