Cidades

Especialistas da ONU pedem testes da água

Na quarta-feira (25), dois especialistas das Nações Unidas em direitos humanos – John Knox, relator especial na área de meio ambiente, e Baskut Tuncak, em substâncias e resíduos perigosos –, pediram ao governo brasileiro e às empresas envolvidas no rompimento da barragem em Mariana que tomem medidas imediatas para proteger o meio ambiente e as comunidades, que estariam em risco de exposição a substâncias que declaram ser “tóxicas”, apesar de os órgãos governamentais e a mineradora Samarco garantirem que o rejeito liberado é inerte.

Os relatores também sugeriram que as autoridades avaliem se as leis do Brasil para a mineração são consistentes com os padrões internacionais. “Incluindo o direito à informação”, destacou Baskut Tuncak.
Nessa quinta-feira (26), o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Agência Nacional de Águas divulgaram que nos testes com amostras de água e sedimentos, coletadas no Rio Doce entre os dias 14 e 18 de novembro, não há indicações de que a lama seja tóxica em relação a metais pesados.

De acordo com o CPRM, os resultados obtidos em mais de 40 coletas mostram alta turbidez, ou seja, grande quantidade de material em suspensão, muito acima dos valores observados na região na última medição, em 2010.
As análises do Serviço Geológico do Brasil também mostram redução significativa na quantidade de oxigênio dissolvido na água, o que pode explicar a morte de nove toneladas de peixes, retirados ao longo do Rio Doce, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Um dia após o rompimento da barragem, a Samarco disse, em nota, que a lama era composta “basicamente por sílica e água”. O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, afirmou que os rejeitos liberados pela barragem não eram tóxicos e não teriam nenhuma consequência, além da destruição física causada pela onda de lama.
Procurada nessa quinta-feira (26) pela Agência Brasil, a mineradora informou que os resultados de análises feitas pela SGSGeosol Laboratórios a seu pedido também atestam que a lama não apresenta periculosidade às pessoas e ao meio ambiente e que não deixa contaminantes para a água, mesmo em condições de chuva.
Segundo a empresa, as amostras foram coletadas no dia 8 de novembro próximo ao local do acidente e analisadas conforme a norma brasileira.

A Samarco não respondeu à pergunta sobre qual é a composição exata da lama de rejeitos da Barragem de Fundão. A empresa informou que os testes mostraram que o rejeito coletado em Bento Rodrigues tem ferro e manganês “acima dos valores de referência da norma, mas abaixo dos valores considerados perigosos”, mas não disse a quantidade registrada desses elementos.

Valadares teve que se virar e criar um plano emergencial

A primeira grande cidade atingida pela enxurrada de lama foi Governador Valadares. A lama de rejeitos chegou ao município de 280 mil habitantes no dia 9 de novembro, quatro dias após a catástrofe, causando transtorno à população que depende totalmente da água do rio para o abastecimento.

Para a secretária de Comunicação da prefeitura de Governador Valadares, Nagel Medeiros, a primeira semana após a chegada da lama foi caótica porque a cidade não estava preparada para lidar com o problema. “Não fomos avisados sobre como seria e nunca havíamos vivido uma situação parecida”. Segundo a assessora, a Samarco não apresentou um plano emergencial para a cidade. “Quem fez o plano emergencial de um dia para o outro fomos nós. Fomos atrás deles para implementar a solução, que no primeiro momento foi feita por meio de caminhões-pipa custeados pela mineradora.”

A secretária lembrou que o abastecimento foi precário na primeira semana. “A cidade é muito grande para ser atendida dessa forma. Foram dias muito difíceis”. Ela contou que alguns dias após a tragédia autoridades como a presidenta Dilma Rousseff e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, foram à cidade e criaram um Comitê de Gerenciamento de Crise, envolvendo a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil das esferas municipais, estaduais e federal e o Exército, organizando a distribuição de água na cidade.

No dia 16 de novembro, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto, autarquia da prefeitura que faz o tratamento de recursos hídricos na cidade, voltou a captar água da Rio Doce. “Conseguimos um produto usado no Sul do país chamado “polímero de acácia negra”, que consegue separar a lama da água, fazendo a lama decantar com uma rapidez imensa. Foi por meio dessa tecnologia que voltamos a captar e tratar a água do Rio Doce.”
Nagel disse ainda que o sistema levou cinco dias para voltar a funcionar e agora o abaste
cimento está normal, mas garrafas de água mineral ainda estão sendo distribuídas em diversos pontos da cidade.

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