Opinião

A estupidez contra a vacina

Governo procura de toda forma provar que tem razão em sua cruzada anti-vacina e procura família de criança com comorbidade que teve parada cardíaca 12 dias após imunização; parentes de 620 mil vítimas da pandemia não tiveram o mesmo tratamento

(*) Fernando Benedito Jr.

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga e a ministra Damares Silva estiverem em Botocatu para visitar a família da criança de Lençóis Paulista que sofreu parada cardíaca 12 dias após tomar a vacina contra covid-19. Bolsonaro também telefonou para os pais. A criança foi levada para o hospital de referência em Botucatu, onde seu quadro clínico foi analisado por uma junta composta por mais de 10 médicos e foi descartada qualquer relação entre a vacina e a parada cardíaca. A criança já tinha problemas de saúde, razão pela qual foi das primeiras a ser vacinada. O Plano Nacional de Imunização prevê que primeiramente devam ser vacinadas as crianças com comorbidades.

Após mais de 620 mil mortes – um verdadeiro genocídio – provocadas pela pandemia, a maior parte delas pelo descaso e negligência do governo Bolsonaro no trato da catástrofe sanitária, Queiroga, Damares e, principalmente, Bolsonaro, não demonstraram nenhuma condolência, nenhum afeto, nenhum apreço pelas vítimas da doença e seus parentes enlutados.

Mas não se contiveram diante da possibilidade de provar que a vacina causa efeitos colaterais terríveis, mata, contém chip chinês, transforma em jacaré e todas as sandices que diz o presidente com o apoio de seu séquito de imbecis.

Como hienas sedentas, sairam em busca de uma demonstração de que o governo sempre esteve certo, que a teoria conspiratória dos antivax faz algum sentido. Feita a visita e contatado que não foi a vacina que causou a parada cardíaca, nenhum deles veio a público para desfazer a mentira que propagaram. Ficaria pior. Seriam, além de mentirosos, mentirosos públicos e notórios.

Toda vez que há algum movimento para conter a crise sanitária, o governo se coloca, primeiramente, contra. É talvez uma das atitudes mais imbecis, genocidas, desumanas, anti-científicas que se vê desde a Revolta da Vacina.

O Brasil conseguiu erradicar ao longo dos anos, com muita luta e dificuldades, inúmeras doenças através das vacinas, sem que houvesse tamanha cartarse, polêmicas inúteis em gruposde Whatsaap e mentiras como as propagadas por este governo ignorante.

No combate a endemias e pandemias, barcos e aviões cruzaram a Amazônia, médicos, enfermeiras, Exército, Marinha e Aeronáutica foram mobilizados, inúmeras campanhas foram realizadas, criaram o SUS, o Zé Gotinha… A vacina tornou-se comum e natural.

Senão vejamos. Ao nascer as crianças são vacinadas com a BCG-ID (Bacilo Calmette-Guerin), que previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea e Hepatite B. Aos 2 meses, são “batizadas” com 1ª dose da Pentavalente, que previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, infecções causadas pelo Haemophilus Influenza, VIP – 1ª dose (que previne a poliomielite tipos I, II, III), Pneumocócica 10 V – 1ª dose (previne doenças causadas pelo Pneumococo: pneumonia, otites, meningites), Rotavírus – 1ª dose (previne diarreia por rotavírus). No terceiro mês são vacinadas contra a Meningocócica C – 1ª dose (previne doença invasiva causada pela Neisseria Meningitidis do sorogrupo C). E a vacinação segue pela vida toda a fora contra o vírus da gripe H1N1; H3N2 e Influenza B, HPV, cólera, sarampo, febre amarela, caxumba, rubeola, etc.

E nunca se viu, nem durante o regime militar, para usar uma régua bem baixa de governos ignorantes, tamanha estupidez contra as vacinas como se vê atualmente.

É absolutamente inexplicável que o governo, aqueles que gerenciam o Estado façam tal coisa. A menos que queiram o retorno das doenças já erradicadas, os hospitais lotados, os gastos com saúde aumentados e os lucros das farmacêuticas nos píncaros, ou seja, a menos que queiram o caos, a doença e morte. O que parece ser o caso, o que justifica os termos genocida e necropolítica para o atual governo.

Que outubro chegue logo!

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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