Cidades

Vejam só, Sérgio Moro tinha lado

(*) Fernando Benedito Jr.

O juiz Sérgio Moro nem precisa aceitar o cargo de superministro da Justiça que Bolsonaro lhe oferece para admitir de vez sua parcialidade no caso Lula e nas condutas antipetistas. Seu sorriso largo quando se trata do assunto [ser ministro da Justiça ou do STF, mesmo furando fila], sua demonstração de satisfação e felicidade, “disposição para o diálogo”, demonstram que parece ser isso que ele sempre quis. Sem dúvida é um cargo de prestígio.

Mas no caso específico de Sérgio Moro, que esteve à frente da maior operação anticorrupção do País e que colocou na cadeia, sem provas, um dos presidentes mais populares da história, é no mínimo enigmático que saia de Curitiba diretamente para o Planalto. Parece um prêmio pelos bons serviços prestados, pela grandiosa contribuição à Pátria ao manter Lula preso e evitar que fosse candidato nestas eleições. Os eleitores de Bolsonaro, certamente não pensam assim. Devem considerar “meritório”, que é a palavra do momento nestes tempos anti-sistema, anti-educação, anti-petismo, anti-tudo…

Mas é a parcialidade da justiça que vem ao caso. Não à toa, Thêmis a deusa símbolo da justiça aparece vendada para representar a igualdade, a verdade, a humanidade, colocando-se acima das paixões humanas, das vaidades. O juiz Sérgio Moro parece pouco se lixar para isso. Ao primeiro sinal de que seria convidado para alguma coisa no governo Bolsonaro teve que se conter para não sair pulando aos gritos. Sua esposa foi menos comedida. E tome posts no instagram e faceboock.

Um verdadeiro deslumbramento. Que orgulho! Mas, não se trata somente de vaidades. É a confirmação do que já se dizia quando Moro aparecia em New York ao lado de João Dória, em fraques, de gravata borboleta, taças de espumante nas mãos. Ou festivamente risonho ao lado de Aécio Neves e da cúpula golpista de 2016. Naqueles momentos ele já tinha lado.

Quando o colega Rogério Favretto do TRF-4 mandou soltar Lula e Moro, de férias, entrou em cena para impedir que o ex-presidente fosse solto. Ou agora, em plena eleição, quando divulgou trechos secretos da delação de Antonio Pallocci.

Ao pegar o voo em Curitiba esta manhã para a conversa com Bolsonaro no Rio, Moro assume de vez sua verdadeira identidade e demonstra que a perseguição a Lula era perseguição à Lula. Tem a ver com luta anti-corrupção; mas mais a ver com luta pelo poder. Queria era tirar o personagem da cena, evitar a vitória petista, seguir com a proposta da direita de tomar o poder a qualquer custo.

Aceitando ou não o convite, Moro já revelou seu lado. Mas no caso de seguir adiante e aceitar o cargo (que é o mais provável), como já disse o articulista Josias de Souza, “o juiz passará o resto da vida explicando por que ladrilhou com pedrinhas de brilhante a avenida que levou Bolsonaro ao Planalto. A Lava Jato jamais será a mesma”.

Mas, que importa isso!

 

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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