Cultura

Teatro Nervoso lembra a tragédia de Mariana

IPATINGA – A maior tragédia socioambiental da história do país será bem lembrada pelo grupo Teatro Nervoso no espetáculo Rejeitos, uma criação coletiva dirigida por Camila Vaz. A peça será apresentada dia 25 no Teatro da Fundação Aperam Acesita, em Timóteo, às 20 horas. Há dois anos o rompimento da Barragem do Fundão no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, que deixou 19 mortos, devastou fauna e flora e poluiu as principais fontes de água da Bacia do Rio Doce até a foz no Oceano Atlântico.

REALISMO
O ingresso custa R$ 15,00 e permitirá uma experiência realista da tragédia ambiental de Mariana, que também afetou Ipatinga às margens do Rio Doce. O espetáculo traduz, em linguagem teatral, um intenso trabalho de pesquisa, feito pelos atores por meio de artigos de jornais e notícias da mídia em geral, fotos, vídeos e entrevistas com moradores atingidos pela catástrofe, explicou Camila Vaz. Também contribuíram com a pesquisa os fotógrafos Nilmar Lage e Rodrigo Zeferino, de Ipatinga, e Pedro Bastos, de Belo Horizonte, que fizeram cobertura fotográfica do acidente e cederam imagens dramáticas dos fatos. O grupo participou ainda de palestra com Camila Brito, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Vale do Aço.

IMPACTO

“O grupo ficou muito impactado, sobretudo, pelos relatos dos moradores dos povoados de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, em Mariana, e do município de Barra Longa, os mais prejudicados pela lama. Os moradores desses lugares perderam pessoas, casas, memórias, objetos pessoais, dinheiro, empregos que dependiam do rio e da natureza e a própria relação entre eles e o espaço que habitavam”, detalhou a diretora, que já montou os espetáculos Lady Macbeth e Mariana Catibiribana e a brincadeira mais bacana, respectivamente com o Grupo Drama, de Sete Lagoas, e Casa Laboratório, de Ipatinga.
Todo o impacto do desastre na vida das pessoas foi convertido pelos atores em cenas individuais que são apresentadas no palco pelo elenco formado pelas atrizes Nilmara Castro, Camila Mendonça, Natália Fonseca, Marcela Fernanda, Marisa Satler, Júnia Reis e Monica Mendes e os atores Nick Viana e André Rissi. A diretora, Camila Vaz, que é formada em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais e faz mestrado em Artes, acumula a função de sonoplasta do espetáculo. A arte visual é assinada por Gustavo Jácome, com apoio do fotógrafo Nilmar Lage. Na trilha sonora há duas músicas que se referem diretamente ao rompimento da barragem: “Quando vale?”, da banda belorizontina Djambê e “Homem versus Homem”, do grupo Cavalo Motor, de Governador Valadares. Produção e Iluminação de Michel Ferrabiamo.

FORMAÇÃO E AMADURECIMENTO
A história do Grupo Teatro Nervoso está diretamente ligada à Casa Cult Darci Di Mônaco, espaço cultural criado em 2013 para divulgar a memória do pioneiro do teatro ipatinguense. Entre as várias atividades desenvolvidas estão a formação de intérpretes e a promoção de eventos artísticos e culturais. O Teatro Nervoso nasceu do curso livre de teatro da Casa Cult em 2016. O grupo, que apresentou como formatura do curso, a peça Teatro Nervoso, do dramaturgo Luiz Carlos Góes, tem em Rejeitos sua segunda criação, com o acréscimo de novos atores e a direção de Camila Vaz, que também é atriz, dubladora e contadora de histórias.
Para a coordenadora da Casa Cult Isabella Ribeiro, o espetáculo Rejeitos representa duas vitórias para a entidade. “De um lado significa a continuidade e amadurecimento do trabalho de um coletivo de teatro que nasceu dentro de nossa casa; do outro lado, representa o nosso repúdio a um desastre ambiental que nos atingiu também aqui em Ipatinga e cujas reparações continuam ineficazes dois anos depois. A peça Rejeitos é a nossa forma de não deixar que essa terrível tragédia seja esquecida” concluiu.

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