Cultura

Snowden revela como nenhum segredo está guardado na rede

(*) Fernando Benedito Jr.

(DA REDAÇÃO) – O filme “Snowden – Herói ou Traidor” (EUA, Alemanha e França, 2016), de Oliver Stone, em cartaz na plataforma Netflix é revelador. Joga muita luz sobre o controle que os EUA exercem sobre a rede mundial de computadores, a partir dos programas desenvolvidos por seus organismos de segurança, em particular a CIA, FBI e NSA, em parceria com empresas como a Dell, que acessava de forma indevida serviços populares de tecnologia, como os da Apple, Facebook, Google e Microsoft para saber sobre o que conversavam seus usuários.

Sob o argumento de combater o terrorismo, como diz o intérprete de Snowden no filme (Joseph Gordon-Levitt), a espionagem de cidadãos americanos e de todo o mundo, autoridades, empresas e governos, longe de ser uma teoria da conspiração, é uma realidade bem tangível. Mostra que longe de ser o guardião da liberdade, os EUA não respeitavam nem a própria Constituição, ao violar a 4ª emenda, e bisbilhotar o mundo, seguindo a lógica de que “informação é poder”. E, a partir daí, chegando bem próximo da tirania prevista por George Orwell em “1984”.

Joseph Gordon-Levitt (Snowden) e Shailene Woodley (Lindsay Mills), em cena do filme “Snowden”, de Oliver Stone, em cartaz na Netflix

O filme de Oliver Stone, com roteiro de Kieran Fitzgerald e do próprio Stone, foi baseado nos livros “The Snowden Files”, de Luke Harding, e “Time of the Octopus”, de Anatoly Kucherena, além do documentário “Citizenfour”, de Laura Poitras, a partir das denuncias de Edward Snowden, atualmente exilado na Rússia.

A narrativa não linear de Stone começa com os primeiros contatos de Snowden com jornalistas para denunciar a violação de privacidade cometida pelo governo norte-americano, entrecortado por passagens biográficas de Snowden desde seu ingresso nas forças armadas (interrompida por problemas de saúde), às missões pelo mundo e a relação com a namorada, a bailarina Lindsay Mills (interpretada por Shailene Woodley, da saga “Divergente”).

Snowden denuncia a rede de espionagem ao jornalista Glenn Greenwald (vivido por Zachary “Spock” Quinto), à época colaborador do jornal “The Guardian”. No mesmo período são captadas as imagens e informações para “Citizenfour”, de Laura Poitras, que ganhou o Oscar de melhor documentário em 2014.

Entre outras informações importantes, o filme mostra como no terceiro nível de contatos de um único usuário das redes sociais, rapidamente se chegava a mais de 4,5 milhões de pessoas. A partir de palavras-chave, como “Bush-eliminar-morte”, por exemplo, as agências de espionagem chegavam a qualquer usuário que digitasse tais palavras, enquadrando-o, portanto, no perfil de num potencial terrorista que ameaçava a vida do ex-presidente norte-americano, George W. Bush.

Além disso, o filme mostra como empresas como a Petrobras, os governos de Dilma Rousseff, no Brasil; de Angela Merkel, na Alemanha; de Evo Morales, na Bolívia; Hugo Chávez, na Venezuela; e da Bélgica, onde inclusive, estava uma das bases da NSA; eram espionados inescrupulosamente pelo governo americano com o objetivo de desestabilizá-los para obter controle político, social e econômico em regiões importantes do planeta.

A clareza como o filme demonstra a possibilidade de espionagem e bisbilhotice da vida alheia através das redes sociais, sintetizada na própria paranóia de Snowden, que discute várias vezes com a namorada sobre as suas postagens pessoais, veda com fita crepe a câmera do notebook e discute com outros agentes sobre os programas de hackeamento de informações, coloca todos os cidadãos do mundo a um passo da exposição total.

Definitivamente, no mundo virtual ninguém está seguro e nenhum segredo está verdadeiramente guardado.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do “Diário Popular”.

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