Cidades

Reestruturação ameaça EJA, diz Sind-UTE

Modalidade de ensino alia educação formal com inclusão social para combater o analfabetismo; proposta da Administração Municipal contraria diretrizes da política pública e facilita evasão

 

IPATINGA – A proposta apresentada pela Administração Municipal de alteração do modelo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), reduzindo a oferta nas escolas das comunidades às quais os alunos pertencem e deslocando-as para escolas-pólo pode significar o aumento da evasão escolar, a redução no número de atendidos e, aos poucos, o fim da própria política pública, prevista em lei e também em tratados internacionais. A projeção se baseia em experiências mal sucedidas que seguiram tal modelo bem como no conhecimento da realidade social dos alunos da EJA e suas particularidades, que os tornam altamente vulneráveis a abandonar, mais uma vez, os estudos. A avaliação é da subsede do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), em Ipatinga.

DISTANCIAMENTO

Conforme o Sind-UTE, hoje, os alunos da EJA – cuja idade varia de 15 a 70 anos e que não freqüentaram o ensino básica na época apropriada ou o abandonou por razões familiares, financeiras ou de risco social – freqüenta as aulas em escolas nos bairros onde moram. A concepção da EJA, formada por um público heterogêneo consistente em jovens, adolescentes em situação de risco, donas-de-casa, pais de família, idosos em busca de interação social, busca facilitar o acesso a escola para evitar a evasão.

Conforme o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), subsdede de Ipatinga, a proposta de acabar com a oferta nas escolas e concentrar o ensino em escolas-pólo é motivo de preocupação também para os professores que trabalham no projeto e conhecem de perto a realidade com que lidam.

TRANSPORTE

Ainda que haja o fornecimento de transporte específico ou vale-transporte e alimentação, como propõe a Secretaria Municipal de Educação, tais medidas não serão suficientes para manter o aluno dentro da sala de aula, pois o principal desafio da EJA é conter a evasão.

“Só quem conhece a realidade peculiar da EJA sabe o peso que essa decisão terá na realidade dessas pessoas”, conta uma professora da rede municipal que hoje leciona em três turmas da EJA. “Pegar um ônibus irá desmotivar. Essas pessoas enfrentam todo tipo de obstáculo e boicote para estudar. Pais que trabalham o dia todo e terão que ir direto para o pólo, pegar mais duas conduções. Donas de casa que chegarão em casa depois das 23h e não terão apoio da família para prosseguir nessas condições. Reunir jovens em situação de risco social em apenas um pólo prejudicará a reintegração desses adolescentes e contribuirá para atividades ilícitas como o tráfico”, argumenta.

Outra professora avalia que a proximidade do professor com o aluno e sua comunidade é um fator importante para conter a evasão: “as alterações propostas foram mal sucedidas onde ocorreram. Tivemos o exemplo de Timóteo relatado em um evento recentemente. De sete locais em que o ensino da EJA era inicialmente oferecido, foi reduzido para cinco, depois para três e finalmente para um”, afirma.

BUSCA ATIVA

A Administração argumenta que sobram vagas nas escolas e que reunir os alunos em pólos irá racionalizar os custos. Para o Sind-UTE/MG, uma política pública com fundamento na Constituição Federal e concebida para resgatar a cidadania e combater o analfabetismo, oferecendo educação básica, não pode ser medida em números. “Sabemos que há milhares de pessoas na cidade que não freqüentaram o ensino regular e estão fora da escola. Não sobram vagas, a solução não é fechar as vagas e sim ocupar essas vagas com pessoas, realizando levantamentos nas comunidades, fazendo um trabalho de busca ativa para levar essas pessoas para a EJA”, propõe o Sind-UTE/MG.

DEBATE AMPLIADO

O Sind-UTE/MG propõe a ampliação do debate sobre as mudanças. Em ofício endereçado à Secretaria Municipal de Educação, o sindicato solicitou uma reunião para rediscutir a matéria. Na última semana, o Sind-UTE/MG realizou encontros nas escolas da rede municipal, oportunidade em que conversou diretamente com os educadores que atua na EJA. “Recebemos inúmeras manifestações e ponderações contra as alterações anunciadas que na prática redundará na negativa do direito por dificultar ainda mais o acesso daqueles que já foram alijados do ensino regular durante o processo histórico-social. Precisamos sensibilizar a Administração Municipal sobre a necessidade de uma solução que mantenha não apenas a função educacional da EJA mas também sua função social”, concluiu o Sind-UTE/MG.

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