Cidades

Proposta de fim do plantio de eucalipto causa polêmica

Floresta de eucalipto em meio a mananciais de água: especialistas negam que monocultura cause impacto ambiental

IPATINGA – Os debates sobre o plantio de eucalipto dominaram o encontro do Plano Diretor na Regional 9, que reúne os bairros e localidades da zona rural de Ipatinga. O principal motivo das discussões foi a inclusão da proibição do plantio da espécie na zona rural de Ipatinga e seu fim gradativo num prazo de 10 anos.

Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Hélcio Muzzi, este item não foi discutido durante as plenárias do Plano Diretor, promovidas pela Prefeitura. O item teria sido incluído na redação final do documento e aprovado por pequena diferença de votos. A questão ganhou repercussão entre moradores, produtores, pequenos proprietários e mobilizou também a Cenibra, produtora de papel e celulose, que tem no eucalipto sua matéria-prima.


Moradores da Regional 9 compareceram em peso à audiência

ESTUDOS
O professor e pesquisador José de Castro Silva, da Universidade Federal de Viçosa, fez uma exposição demonstrando que o impacto do plantio de eucalipto no meio ambiente, em relação a outras monoculturas, principalmente em relação às áreas de pastagens, é mínimo.

Durante a exposição ele demonstrou que o consumo de água na produção da espécie é menor que o da produção de milho, cana-de-açúcar ou da soja, por exemplo. Desmitificou também a informação de que a raiz do eucalipto cresce na mesma proporção que o tronco e falou sobre as vantagens da produção do vegetal na indústria moveleira e de construção, em relação ao uso do plástico e outros materiais provenientes de petróleo e derivados.

O professor descartou a tese de que os processos de desertificação e assoreamento de rios sejam provocados pela monocultura do eucalipto. Ele mostrou imagens do Parque Florestal do Rio Doce: algumas lagoas estão secando em meio à mata nativa de espécies da floresta atlântica, onde não existe qualquer vestígio de eucalipto.

DESMATAMENTO

“Tenho 35 anos de pesquisas dedicadas à cultura do eucalipto e afirmo que não é o eucalipto que devasta a natureza, mas sim o homem. Sem alternativas, a população irá desmatar as matas nativas no lugar do eucalipto”, disse ele.

“Em regiões de Governador Valadares onde nunca houve plantio de eucalipto, mas sim a formação de pastagens para a criação de gado, a situação dos terrenos é precária, com grande incidência de erosões. Será que é isso que queremos para Ipatinga?”, questionou José Castro.

O produtor rural Élcio Seabra, que planta eucalipto na zona rural de Ipatinga, defendeu o que chamou de “direito à propriedade e à livre iniciativa”. Ele disse que mantém várias famílias de trabalhadores com a produção de eucalipto e que a considera uma atividade muito mais rentável e propícia ao tipo de solo predominante da zona rural de Ipatinga. “O fim da produção de eucalipto pode acarretar um aumento do fenômeno do êxodo rural para a área urbana, um aumento da demanda habitacional. Onde estas pessoas vão morar?”, questionou.

O construtor Wilson Brasileiro, morador do Ipaneminha, também fez uma defesa enfática sobre o papel do eucalipto. Ele ressaltou que mantém cerca de dez trabalhadores do setor da construção com as atividades resultantes da produção de eucalipto, atualmente uma importante matéria-prima do setor. “Hoje temos fácil acesso a este material, que é orgnico e tem várias funções na construção civil. Com o fim do plantio de eucalipto estas pessoas que trabalham comigo fatalmente vão perder o emprego”, exemplificou.


O professor José de Castro Silva: “Não é o eucalipto que devasta a natureza, mas sim o homem”

ESTUDOS
O presidente da Câmara de Ipatinga, vereador Ley do Trânsito (PSD), responsável pela condução da audiência pública, pediu uma cópia do estudo apresentado pelo professor José de Castro Silva. A Comissão de Meio Ambiente da Câmara irá analisar o material.

“É de suma importância para as discussões do Plano Diretor a informação embasada em estudos técnicos e científicos sobre um tema tão complexo e controverso. A presença do professor José de Castro enriqueceu de forma singular os debates sobre a proposta inserida no Plano Diretor de se extinguir a plantação de eucalipto. O preocupante dessa proibição embutida nesse projeto de lei é que ela não traz argumentos técnicos que a justifique”, disse Ley.


Wilson Brasileiro defendeu o direito ao trabalho

Moradores do Barra Alegre reclamam de “esquecimento”
Os moradores e lideranças comunitárias do distrito Barra Alegre afirmam que “foram esquecidos” nos últimos anos. Eles aproveitaram audiência pública sobre o Plano Diretor para exigir mais atenção da administração pública quanto aos problemas enfrentados pela comunidade.
Eles afirmam que “foram esquecidos” nos últimos anos e que o poder público só aparece em época de eleição “para pedir votos”.

Essa foi a 3ª rodada de encontros, num total de cinco, promovida pela Câmara Municipal de Ipatinga, que tem por objetivo debater as necessidades de cada comunidade antes da votação do projeto de lei que trata das novas diretrizes do Plano Diretor.

A audiência contou com a participação de vereadores, líderes comunitários, moradores e representantes da Prefeitura e de empresas localizadas na região.

GARGALOS
Entre os principais gargalos apontados por moradores, estão as más condições do posto de saúde, das duas vias de acesso à comunidade e do campo de futebol.
Problemas com as encostas também foram lembrados. Os moradores afirmam que correm risco de morte com as iminentes ameaças de deslizamentos em época de chuvas.
Eles reclamam também das dificuldades de acesso às comunidades rurais da região. As condições ruins das estradas, dizem, “causam transtornos diariamente”, além de prejuízos com a manutenção dos veículos. Eles querem também uma melhor cobertura de telefonia e internet móveis.

PRESENÇAS

A Prefeitura Municipal de Ipatinga foi representada pelo secretário Hélcio Muzzi Martins (Desenvolvimento Econômico). Sobre as críticas da população do distrito de Barra Alegre, o secretário afirmou que o governo federal irá liberar para a comunidade verbas do PAC.

A vereadora Lene Teixeira (PT) garantiu também que a Prefeitura irá reconstruir um novo posto de saúde. O atual, segundo moradores, não possui condições mínimas para o atendimento médico, “onde não há profissionais de saúde e estrutura suficientes”.

Estiveram também presentes na audiência pública no distrito do Barra Alegre os vereadores Saulo Manoel (PT), Agnaldo Bicalho (PT), Juarez Pires (PT), Léo Escolar (PC do B), Adiel Oliveira (SDD), Adelson Fernandes (PSB), Nilsin da Transnil (PRTB), Jadson Heleno (SDD), além de Lene Teixeira e Ley do Trânsito.

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