Cidades

PMI garante assistência à saúde dos moradores de rua

IPATINGA – Garantir o acesso aos serviços básicos de saúde. Reduzir danos causados pela dependência do álcool e outras drogas. Encaminhar e permitir o acompanhamento adequado em programas e serviços públicos voltados à reintegração social. Em linhas gerais, estes são objetivos do programa Consultório na Rua, desenvolvido pelo Governo Federal em parceria com a Prefeitura de Ipatinga.

Implantado há pouco mais de um ano, o programa inédito no Vale do Aço aos poucos está mudando a realidade de pessoas que “vivem” nas ruas, na maioria das vezes invisíveis e evitadas por quem passa. “É um trabalho de convencimento. Primeiro é preciso fazê-los acreditar que eles também têm direitos, depois fazer o atendimento e garantir a adesão ao tratamento de saúde”, relata Ester Oliveira Duarte Gonzaga, psicóloga da equipe do Consultório na Rua de Ipatinga.

CASOS
Hoje, são 190 pacientes acompanhados pelo Consultório na Rua. Entre estes, há casos de usuários de crack e álcool, hipertensão, tuberculose, HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. Além de oferecer os cuidados básicos no próprio espaço da rua, a equipe faz encaminhamentos para os serviços das redes de saúde e assistência social do município. O programa funciona de segunda à sexta-feira, em horário adequado as necessidade e situações do público-alvo.

“A assistência é realizada por uma equipe multiprofissional composta por enfermeiro, psicólogo, assistente social, técnico de enfermagem e dois agentes sociais. Para se deslocarem até os pontos pré-estabelecidos, os profissionais contam com um suporte de veículo (Doblò), que funciona como base móvel para as ações do programa, além de um motorista”, detalha o secretário municipal de Saúde, Eduardo Penna.

“Existem casos, como os de tuberculose e soro positivo, que precisam de atendimento especializado e também de acompanhamento de perto para que os pacientes não abandonem o tratamento”, completa Tatiana Mendes Ávila, coordenadora da equipe do Consultório na Rua de Ipatinga.

CIDADANIA
O Consultório na Rua trabalha com o foco na redução de danos, como reforçam os profissionais da equipe de Ipatinga. No entanto, ao romper a barreira da exclusão, olhar e cuidar destes pacientes marginalizados, o serviço tem ajudado pessoas a deixarem a situação de rua. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, em 15 meses de atividade, cinco pacientes assistidos pelo serviço deixaram essa condição e hoje vivem com suas famílias, em casa “com teto e paredes”, trabalham ou estão em busca de emprego.

Este é o caso de Ivanete Almeida Pereira, 35 anos, e seu companheiro Dimas Avelino Rodrigues, 38 anos. Ambos eram usuários de drogas e se conheceram nas ruas, onde viveram por quase dois anos. Ivanete estava grávida de cinco meses quando foi abordada pela equipe do Consultório de Rua. Aos poucos os profissionais conquistaram a sua confiança, a encaminharam para um albergue e a convenceram fazer o pré-natal na rede municipal de Saúde de Ipatinga. A decisão de deixar as drogas e as ruas veio com o nascimento do Josué, hoje com 10 meses.

ANJOS
“Estas pessoas que estão aqui são verdadeiros anjos. Olharam para mim, cuidaram e devolveram a minha dignidade. Até o nascimento do Josué, o Consultório da Rua me acompanhou para que meu filho nascesse com saúde. E ainda hoje, eles sempre me visitam para ver se está tudo bem”, conta. Hoje, Ivanete, Dimas e o pequeno Josué vivem em uma casa alugada, estão inseridos em programas sociais, como o Bolsa Família, e recebem acompanhamento da rede municipal de saúde. “É tudo simples, mas hoje temos um teto para o nosso filho”, comemora Ivanete. Atualmente, o companheiro trabalha na construção civil e Ivanete, que é diarista, busca emprego. Ambos não usam mais drogas.

CUIDADOS INTEGRADOS
Em Ipatinga, as ações do Consultório na Rua são compartilhadas e integradas às Unidades Básicas de Saúde, ao Programa Municipal de Saúde Mental, aos serviços de Urgência e Emergência (Hospital Municipal de Ipatinga e UPA 24 Horas). Além dos serviços de saúde e de assistência social, a reestruturação e ampliação do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Ipatinga têm garantido o retorno destas pessoas aos bancos da escola.

“Aderimos ao Consultório na Rua para garantir o acesso das pessoas que mais necessitam de serviços básicos, acompanhamento adequado e oportunidades para deixar a situação de marginalidade. E aos poucos, por meio de ações integradas, temos conseguido êxito em devolver a cidadania para estas pessoas”, pontua a prefeita de Ipatinga, Cecília Ferramenta.

AÇÕES EFETIVAS
O serviço integra as ações previstas pelo programa “Crack, é possível vencer”, do governo Federal, em implantação em Ipatinga, além de fortalecer e ampliar a rede de atenção à saúde mental no município. A Prefeitura também trabalha para implantação de uma unidade do Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), com atendimento especializado e multiprossional 24 horas.

Desde fevereiro de 2014, o município também conta com o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), com capacidade para atender 80 pessoas/dia; equipe de abordagem social e convênio com entidades terapêuticas do município. O serviço de acolhimento noturno para pessoas em situação de rua é ofertado pela Prefeitura, por meio de convênio com a Associação Projeto Videiras.

Consultório na Rua, no Brasil e Minas

O Consultório na Rua é um projeto de responsabilidade das prefeituras e financiado pelo Ministério da Saúde. Nos últimos dois anos, segundo dados do governo federal, foram feitos mais de 140 mil atendimentos para população em situação de rua, apenas considerando o programa. No Brasil hoje, existem mais de 140 Consultórios na Rua em funcionamento, instalados em mais de 80 cidades no Brasil. Em Minas Gerais, apenas 12 municípios contam com o programa. Mas há a proposta de ampliar as equipes já existentes e contemplar novas cidades com o serviço.

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