Policia

Pitote matou Rodrigo Neto e Walgney Carvalho

Acusado de vários crimes e com mandado de prisão em aberto, Pitote tinha acesso franqueado às delegacias
(Crédito: Arquivo Pessoal)

IPATINGA – A morte dos repórteres Rodrigo Neto e Walgney Carvalho foram cometidas pela mesma pessoa. Alessandro Augusto Neves, o Pitote, foi apontando pela Polícia Civil como o homem que atirou e matou os dois profissionais da imprensa do Vale do Aço, em um curto espaço de 36 dias. Ele atuou em conjunto com o investigador Lúcio Lírio Leal.

A informação foi dada nesta terça-feira (23) durante coletiva de imprensa concedida pela alta cúpula da PC mineira e pelos delegados do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) que apuraram os crimes. Enquanto a motivação da execução de Rodrigo Neto não foi totalmente esclarecida, a morte de Walgney Carvalho foi considerada uma queima de arquivo.

RELAÇÃO

Rodrigo foi assassinado em 8 de março deste ano. Dois homens em uma motocicleta abordaram o repórter na avenida Selim José de Sales e efetuaram cinco disparos contra o jornalista. Já Carvalho foi morto de forma semelhante: enquanto estava em um pesque pague de Coronel Fabriciano foi abordado por um motociclista que alvejou e fugiu em seguida.

A relação entre os casos foi comprovada por provas como o exame de balística, que atestou que a arma utilizada nos dois crimes foi a mesma. Além disso, a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos foi a chave para a elucidação do caso.

Além de Alessandro, foi preso pela polícia por suspeita de participação na execução de Rodrigo o investigador Lúcio Lírio Leal, de 22 anos, que atuou como um informante dos executores momentos antes do crime, pilotou a moto e foi preso com um Fiat Strada roubado.

DINÂMICA
A força-tarefa vinda de Belo Horizonte para apurar o caso detalhou a dinâmica que levou à morte de Rodrigo Neto. De acordo com o delegado Emerson Morais, que presidiu o inquérito, foi feita uma investigação criteriosa da vida pessoal e profissional do radialista, em “um trabalho de extrema complexidade”, conforme avaliou.
Na apuração deste homicídio, segundo a equipe, foram realizadas inúmeras diligências e utilizados diversos recursos investigatórios como análise de vínculo e interceptação telefônica.

A quebra do sigilo das ligações foi fundamental para que os investigadores da PC chegassem aos executores do crime. Uma antena de telefonia celular que atende à região do bairro Canaã, onde Rodrigo foi morto, registrou dezenas de ligações entre os dois suspeitos do crime. Câmeras de segurança do comércio também mostraram que o carro de Lúcio Lírio Leal circulou algumas vezes pelo caminho usado como rota de fuga da dupla que estava sobre motocicleta. A função do investigador seria atestar que o caminho estaria livre no momento da fuga.

Cerca de 10 minutos antes de o jornalista ser executado, o carro de Lúcio foi flagrado pelas imediações de onde Rodrigo estava. Ele fez por várias vezes o trajeto entre a avenida Gerasa, rua Profetas, avenida Selim José de Sales, ruas Síquem, Judite e Pentateuco.

Alessandro já estava sobre a moto esperando que Rodrigo Neto saísse da barraca e quando isso aconteceu, foi em sua direção e efetuou os disparos contra o jornalista. A PC ainda não tem certeza se Lúcio estaria na motocicleta junto com Alessandro, mas possui indícios, entre eles, os inúmeros telefonemas e a utilização do Fiat Strada de Lúcio.

ROTA DE FUGA
Após o crime, os bandidos fugiram pelo caminho antes percorrido de carro pelo detetive: passaram pela rua Profetas e avenida Selim José de Sales. À 00:32, Lúcio ligou para sua namorada, que estava no Centro de Ipatinga.
Os registros telefônicos e a identificação do veículo também levaram a Polícia Civil a descobrir que Lúcio e Alessandro possuíam um grande vínculo de amizade. Os dois passaram a ser suspeitos do assassinato de Rodrigo e foram ouvidos pelo DIHPP.

Em seu depoimento, Alessandro afirmou que no momento do crime estava em sua casa, no bairro Novo Cruzeiro. Já seu cúmplice disse que no dia 8 de março, ficou na casa da namorada até as duas da madrugada. Contudo, o sinal telefônico e o registro das ligações foram provas contundentes contra os dois.
Antes do crime, a força-tarefa de Belo Horizonte levantou que foram feitas 130 ligações telefônicas entre Lúcio e Pitote. Após o crime até a data em que foram presos, foram efetuadas mais de 200 chamadas de um para o outro.

AUDACIOSO
Alessandro Augusto Neves, o Pitote, foi preso no último dia 14 de junho em virtude de uma condenação pelo crime de tentativa de homicídio, ocorrida em julho de 2012. Ao ser preso, estava com uma pistola calibre 380, o que resultou em outra prisão pelo crime de porte ilegal de arma de fogo.

No momento de sua abordagem pelo DIHPP, Pitote chegou a apresentar para os investigadores de Belo Horizonte uma carteira falsa de policial civil. Ele foi encaminhado para o Centro de Remanejamento de Presos de Ipatinga e, após ter seu pedido de prisão temporária decretado, três dias depois foi levado para a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de BH. Enquanto estava em Ipatinga, a primeira visita que recebeu foi de seu amigo Lúcio.

REGALIAS
Pitote foi retirado do Vale do Aço para que não pudesse contar com regalias na cadeia devido ao seu bom relacionamento com agentes de segurança de Ipatinga e Coronel Fabriciano. Ele era conhecido como um falso policial civil e chegava ao extremo de participar de operações da instituição, como se fosse membro efetivo.

O assunto é tabu dentro da instituição e muitos delegados negam que conhecessem Alessandro. Entretanto, a presença do falso policial era notada por todos, a ponto do sub-corregedor da Polícia Civil Elder D´angelo, afirmar que toda a Polícia Civil foi conivente com o caso.

Lúcio Lírio Leal foi preso em 18 de junho em sua casa, no bairro Canaã. Contra ele e seu comparsa pesam a denúncia do Ministério Público, feita na semana passada. Lúcio permanece preso na Casa de Custódia da Polícia Civil, em Belo Horizonte.

MOTIVAÇÃO

Após serem presos, os suspeitos de assassinarem Rodrigo Neto foram ainda interrogados outras vezes pelos investigadores, mas disseram não pretender contribuir com informações e nem mesmo revelar quem seria o mandante para o crime, bem como a motivação.
Segundo Emerson Morais, o assassinato de Rodrigo continuará sendo investigado até que se esgotem as possibilidades de reconhecimento dos autores intelectuais. A polícia também precisa confirmar se a pessoa que pilotava a motocicleta era mesmo o investigador Lúcio, caso contrário, precisará apurar quem era o condutor.

INCOMPLETO

O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa Durval Ângelo (PT), que acompanhou o caso, disse que as provas apresentadas pela Polícia são inquestionáveis, mas que o inquérito da morte de Rodrigo Neto ainda está incompleto. “Há uma trama maior por trás da morte de Rodrigo envolvendo políticos, delegados. Temos que observar a quem interessa a morte dele. Para mim, é claro que ele morreu pelo exercício de sua profissão”, afirmou.

Durval também disse que a polícia errou ao não dar proteção a Carvalho, quando o fotógrafo anunciou que sabia quem havia matado o radialista e disse que a Comissão irá cobrar respostas contundentes sobre os casos. “O Rodrigo e o Carvalho foram mortos por uma rede de corrupção da polícia. Considero um avanço a apresentação, mas está incompleto, nós esperamos os mandantes”, disse.


O investigador Lúcio Lírio era amigo de Pitote: o dois trocaram mais de 300 ligações antes e depois do
assassinato de Rodrigo Neto
  (Crédito: Arquivo Pessoal)

Na internet, assassino era amigo de vítimas
IPATINGA
– Alessandro Neves Augusto, o Pitote, era “amigo” tanto de Rodrigo Neto, quanto de Walgney Carvalho em uma rede social da internet. Além dos dois, em sua lista de amizades aparecem diversos delegados e outros detetives apontados como criminosos pela Polícia Civil, como Elton Pereira da Costa e Ronaldo de Oliveira.

A rede social, conforme acredita a Polícia, foi utilizada pelo suspeito para monitorar os passos de Carvalho no dia de sua morte. O repórter fotográfico havia escrito em sua página na internet que estaria em um encontro de cavaleiros na localidade de Cocais de Baixo, em Fabriciano, no dia 14 de abril, o domingo em que foi assassinado.

A moto que Pitote utilizou no dia do assassinato era emprestada de um amigo e este relatou em seu depoimento que quando o veículo foi devolvido estava sujo de lama, o que leva a crer que o assassino teria procurado por Carvalho mais cedo em Cocais, antes de executá-lo à noite, em um pesque e pague no bairro São Vicente.

A polícia acredita que Pitote usou a internet e vigiou os passos de Carvalho. Contudo, na rede social é possível ver alguns comentários de Alessandro Augusto em fotografias do repórter fotográfico. O possível assassino dos profissionais da imprensa também possui em seu rol de amigos virtuais políticos de Ipatinga, Fabriciano e Santana do Paraíso e até mesmo o Comitê Rodrigo Neto, criado para pedir justiça e acompanhar as investigações do caso.


Arsenal apreendido com Francisco Miranda quando a PC investigava o paradeiro da arma que teria
matado Rodrigo e Carvalho

Procura por arma levou à prisão de empresário
IPATINGA
– A Força Tarefa do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) prendeu o empresário Francisco Miranda Rezende Filho depois de cumprir na residência dele um mandado de busca e apreensão no dia 18 de junho. As suspeitas eram de que no local estivesse a arma usada para matar Rodrigo Neto.
Durante as diligências foram encontradas na casa de Francisco várias armas de fogo, uma submetralhadora 9mm, pistolas, espingardas, munições de fuzil, silenciadores, munição de calibre 50 utilizada em baterias anti-aéreas pelas forças armadas.
Em função do arsenal, Francisco foi preso em flagrante por posse ilegal de arma e munições de uso restrito e recolhido no Ceresp de Ipatinga. A justiça já negou aos advogados do empresário pelo menos três pedidos de relaxamento de prisão.


Francisco está preso no Ceresp (Crédito: Polícia Civil)


O fotojornalista Walgney Carvalho foi morto com a mesma arma utilizada para assassinar Rodrigo

 

 


O jornalista e radialista Rodrigo Neto teve que morrer para que as autoridades resolvessem apurar os crimes
impunes no Vale do Aço

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