Cidades

PC conhecia denúncia de ameaça a Carvalho

Ontem, em Brasília, a ministra Maria do Rosário discutiu junto a diversos setores do poder federal a situação vivenciada no Vale do Aço       (Crédito: Agência Brasil)

 

IPATINGA – Nesta quarta-feira (17), o Grupo de Trabalho sobre Direitos Humanos dos Profissionais de Comunicação no Brasil emitiu nota repudiando a violência contra profissionais de comunicação na região do Vale do Aço, em Minas Gerais. O GT é um órgão do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) e conta com representantes do Governo Federal e também entidades de classe como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além de profissionais da área de comunicação.

A nota afirma que foi solicitado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que sejam avaliados os riscos a que estão submetidos os profissionais da imprensa do Vale do Aço, intimidados após as mortes de Rodrigo Neto, em 8 de março, e Walgney Carvalho, no último domingo (14). A possibilidade de incluir jornalistas ameaçados do Vale do Aço no Programa Nacional de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Provita) também foi cogitada.

Segundo o comunicado, “essa proteção torna-se ainda mais necessária após o recente assassinato do repórter fotográfico Walgney Assis Carvalho, no último domingo, em Coronel Fabriciano, que merece uma investigação criteriosa e responsável. Assim como no caso do assassinato do jornalista Rodrigo Neto, em Ipatinga, o Grupo de Trabalho solicitou informações a todas as autoridades envolvidas e acompanhará os desdobramentos para não permitir que fiquem impunes”.

ATENTADO
Mais uma vez, o Grupo de Trabalho afirmou que os crimes contra profissionais da comunicação em todo o país, mas muito especialmente no Vale do Aço, representam um atentado à liberdade de expressão e aos Direitos Humanos. “O Brasil, como país democrático e com uma imprensa livre, não pode conviver com essa realidade”, concluiu a nota.

Ontem, em Brasília, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, esteve articulada com diversos setores do poder federal para tratar da situação vivenciada no Vale do Aço com relação aos dois homicídios. De acordo com fontes ligadas à pasta, os órgãos do Executivo em Brasília estão escandalizados e preocupados com os casos.

POLÍCIA FEDERAL
Setores do alto escalão do poder Executivo Federal, como o Ministério da Justiça e a Procuradoria Geral da República, foram colocados a par das execuções. A Polícia Federal também está acompanhando toda a movimentação no Vale do Aço e os pedidos para que ela intervenha nas investigações dos crimes contra Rodrigo Neto e Carvalho estão sendo estudados. Algumas informações extra-oficiais dão conta da possibilidade de a PF apurar, “anonimamente”, os assassinatos dos dois repórteres.

ONU
Ainda durante as visitas desta quinta-feira, foi debatida a presença da Organização das Nações Unidas (ONU) no Vale do Aço. O órgão vem programando para este ano um grande encontro na Costa Rica, onde serão tratados temas referentes à violação dos direitos dos jornalistas em todo o mundo. A intenção da Organização é trazer para o Brasil um plano de ação em vista da proteção dos profissionais da imprensa e o Grupo de Trabalho sobre Direitos Humanos dos Profissionais de Comunicação seria o intermediador.

A princípio, a proposta da ONU era realizar a discussão no Rio de Janeiro, mas a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República vem defendendo que a região mais apropriada para o recebimento da iniciativa é o Vale do Aço. Se a proposta for concretizada, os agentes de segurança seriam o tema central das discussões.


Caso Carvalho


Durval Ângelo acusa Polícia Civil de omissão
BH –
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais deputado Durval Ângelo (PT) declarou na tarde desta quarta-feira (17) que a Polícia Civil, responsável pela investigação da morte do repórter Rodrigo Neto, foi negligente ao não dar proteção ao fotógrafo Walgney Assis Carvalho, de 43 anos, assassinado no último domingo (14).

Segundo Durval, foi levado a conhecimento do chefe da PC Cylton Brandão, e também ao subcorregedor da Polícia Civil mineira, Antônio Gama Júnior, uma denúncia de que Carvalho seria o “próximo a morrer” no Vale do Aço – a denúncia foi recebida por ele três dias após o assassinato de Rodrigo Neto.

Durval ainda afirma que no dia 19 de março, data em que a ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário esteve em Ipatinga, foi divulgada – durante uma reunião privada entre os membros da PC responsáveis pelas investigações do caso de Rodrigo, ao deputado Nilmário Miranda, aos representantes da OAB Nacional e também à ministra – a informação de que o repórter fotográfico corria risco de morte.

Informação
“Em uma reunião a portas fechadas com a ministra e com os representantes da Polícia Civil de Belo Horizonte e com a corregedoria, eu informei a eles sobre a denúncia anônima que eu havia recebido dizendo que Carvalho tinha a informação de quem havia matado Rodrigo”, conta.

De acordo com Durval Ângelo, na oportunidade ele pediu à PC que realizasse uma interceptação telefônica do aparelho celular de Carvalho para dar proteção ao repórter fotográfico. “Foi uma negligência da parte do delegado responsável pelo caso, pois ele foi avisado por mim que Carvalho corria risco de vida por saber demais. O que foi feito? Nem a interceptação telefônica foi realizada”, relata o deputado.

Depoimemto
Durval afirma que o delegado responsável pela investigação da morte de Rodrigo, na oportunidade, disse que iria chamar o fotógrafo para ser ouvindo como testemunha do crime. “Ele disse que ia arrolar Carvalho e fazer todas as investigações necessárias para saber qual era o envolvimento do fotógrafo com o crime do Rodrigo Neto, daí para frente não sei como ficou a situação de Carvalho”, relata.

Conforme já foi publicado pelo DIÁRIO POPULAR, Carvalho foi chamado para prestar depoimento no inquérito policial da morte de Rodrigo Neto e também foi expedido um mandado de busca e apreensão pelo Poder Judiciário, posteriormente cumprido na residência de Walgney, no bairro Caladinho, em Coronel Fabriciano.
Entretanto, as investigações não concluíram se houve participação do fotojornalista no homicídio, mas informações extra-oficiais dão conta de que Carvalho sabia os nomes de quem executou Rodrigo Neto.

Queima-de-arquivo
O deputado completa suas declarações dizendo que não há dúvidas de que a morte de Carvalho teve relação com a morte de Rodrigo Neto. “Os fatos ligados não deixam dúvidas de que a morte do fotógrafo foi uma queima-de-arquivo. Como presidente da Comissão de Direitos Humanos eu recebo as denúncias, mas não posso fazer nada mais do que encaminhá-las para os órgãos responsáveis. Foi o que eu fiz. Recebi a informação anônima de que Carvalho corria risco de morte e passei para polícia. Cabia a eles terem feito o seu papel”, finaliza o deputado.

Proteção
Procurada pela reportagem, a assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais informou que as informações anônimas recebidas por Durval foram repassadas ao delegado Emerson Morais, que comanda as investigações sobre o caso Rodrigo Neto em Ipatinga. O delegado respondeu que Carvalho seria ouvido como uma das partes no inquérito. Quando foi interrogado, Carvalho afirmou não saber nada sobre o crime e também não solicitou nenhum tipo de proteção, não sendo, portanto, possível incluí-lo em nenhum tipo de programa.

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