Cidades

Ocupação do Limoeiro vira bairro sem infraestrutura

A viúva Maria Ângela vai se mudar na próxima semana para a casa de tijolo construída por seus filhos, mas ela não esconde a preferência pelo seu barraco de tábuas             (Fotos: Nadieli Sathler)

TIMÓTEO – Há 14 anos várias famílias que moravam de aluguel nos bairros Alegre, Limoeiro e imediações ingressaram ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLMO), em busca do sonho da casa própria.

Foi assim que o casal José Anacleto de Freitas, 61 anos, e Marlene Aparecida da Cruz, 42 anos, foram morar no terreno de uma tradicional família de Coronel Fabriciano que possui terras em toda a região. “Morávamos de aluguel e optamos por ingressar no movimento, que com o tempo se perdeu. Mas resistimos em nosso objetivo de fazer dessa terra o nosso lar. Hoje não temos mais a ameaça de ter que sair daqui porque a Prefeitura comprou o terreno da família Maia. Agora esperamos a regularização”, relatou Anacleto.

HISTÓRIA
O movimento citado pelo motorista foi articulado por um casal identificado apenas como moradores de Rio Piracicaba. O MNLM era uma mobilização que estimulava famílias a ocuparem terrenos ociosos em áreas urbanas. Por isso, os moradores deram ao local o nome de Invasão do Limoeiro.
José Anacleto e Marlene, juntamente com os dois filhos, que na época tinham nove e sete anos, ingressaram no movimento em julho de 1998. Assim que chegaram ao terreno ocuparam uma moradia de lona.

A casa deles é uma das primeiras na entrada da Invasão do Limoeiro. Atualmente há mais de 220 famílias residindo no local. As casas de tábuas e lonas foram substituídas por moradias de tijolo e concreto.
“Não quero sair daqui de jeito nenhum. Esse é o meu lar. Gosto dos vizinhos e o ambiente é tão agradável que não me imagino residindo em outro local. O que buscamos são melhorias como água encanada e o fornecimento de energia”, explicou.


O casal José Anacleto e Marlene Aparecida vai esperar o tempo necessário para que sejam ligadas a luz e
a água na sua residência construída na Invasão do Limoeiro

‘GATOS’
A luz que abastece as residências da ocupação são de ligações irregulares feitas nos postes de iluminação pública da avenida dos Rodoviários. Os moradores sabem do risco da ligação clandestina e já se articularam junto a Cemig para regularizar a situação.

“Passamos por vários problemas em função da falta de energia. Os eletrodomésticos queimam por conta das descargas. A fiação vive descascando e temos de trocar. Na loja, se falamos que moramos na Invasão os vendedores não dão garantia nos eletroeletrônicos. Mas nem por isso quero deixar de morar aqui”, afirmou Marlene.
A dona-de-casa revelou que para a instalação de padrões individuais basta apenas que a Prefeitura regularize as ruas que já existem no local, que é considerado um bairro. As residências têm numeração individual, o que facilitaria a identificação pela concessionária para fazer a medição do consumo e emitir a fatura.

“Não nos recusamos a pagar pela energia que consumimos, apenas não temos um padrão para que isso aconteça. Esperamos em breve resolver essa situação para termos melhores condições. Mas, ainda assim, morar aqui é muito gratificante para minha família”, declarou a mulher.

SEGURANÇA
Outro fato motivador para os moradores é a segurança de saber que suas casas não serão alvo de furtos ou roubos. Marlene revelou que quando sai de casa nem se dá ao trabalho de trancar a porta. Na varanda da casa dela ficam a geladeira e vários eletroeletrônicos que nunca foram mexidos.

“Os vizinhos compreendem uns aos outros, nunca houve um caso de furto ou roubo nas casas. A Polícia Militar também dá uma assistência diária, a viatura passa pelas ruas do bairro”, lembrou.

ENDEREÇO
Marlene contou que as correspondências em seu nome são direcionadas para o endereço de um amigo que reside no bairro Alegre. Além de não ter o fornecimento de energia, as famílias também dependem de água do caminhão pipa para encher a caixa d’água.

Duas vezes por semana, às quartas e sextas-feiras, o caminhão pipa faz uma série de viagens para garantir o abastecimento de água tratada para os moradores da Invasão do Limoeiro.
“Hoje temos uma casa confortável, coisa que não tínhamos antes. Queremos pagar até mesmo o IPTU se isso nos garantir mais qualidade de vida. Gosto dos meus vizinhos, é todo mundo solidário. Não temo mais casas de alvenaria ou lona, o lugar ganhou característica de bairro; de um ano para cá até mesmo o caminhão de lixo passa na porta de casa para recolher os resíduos”, contou.

Antes, como não havia a coleta regular, os moradores tinham que botar fogo nos restos de comida e demais matérias para evitar o acúmulo de lixo e possível bichos como ratos, baratas e animais peçonhentos.
O vai e vem de pessoas pela área é constante. No começo do movimento 400 famílias residiam no terreno. Só que muitos acabaram se mudando para outros bairros. Em alguns casos os moradores acabaram voltando para a Invasão.

“Não queremos mais sair daqui, tanto que nunca me mudei desde que vim para cá. A proposta dos governantes é de regularizar a nossa situação, e para isso vamos esperar o tempo que for necessário. Essa é minha casa e o meu lar”, concluiu José Anacleto.

CASA DE TÁBUA
Se por um lado muitos sonham com a casa própria feita de tijolos e cimento, a viúva Maria Ângela da Silva, 53 anos, resiste em ter que deixar sua casa de tábua construída há 14 anos quando, ela veio com a família para a Invasão.
“Estamos terminando de construir a minha casa. Lá tem uma sala, cozinha, dois quartos e banheiro. Só que gosto demais dessa casa de madeira. Foi aqui que meu marido me ajudou a criar meus filhos e também faleceu depois que adoeceu do coração. São muitas lembranças”, confessou a viúva.

Assim que desocupar a casa de madeira, a filha de dona Maria, Liliane dos Santos, 24 anos, pretende construir no mesmo local uma casa para ela morar. Mas a mãe está relutante em ter que deixar a casa de alvenaria.
“Pelo meu gosto só trocava as madeiras por outras novas e continuava na minha casinha. Tenho vontade de escrever para o Silvio Santos e contar minha história, para quem sabe ele reformar minha casa de tábua”, confidenciou Dona Maria.

Outro desejo da viúva é ver asfaltada a porta da sua casa, assim como colocar água encanada e energia elétrica regular para que seus netos e filhas possam ter melhores condições de vida.
“Gosto muito de morar aqui e não pretendo nunca sair. Como o meu marido, quero passar meus últimos dias nessa casa, ao lado dos meus netos e netas. Não preciso de mais nada para ser feliz”, disse.


A ocupação do Limoeiro foi iniciada em 1988 pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia

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