Cidades

O que querem os comunistas

O presidente municipal do PCdoB, Zacarias Almeida, e a deputada federal Jô Moraes

 

Para a deputada federal Jô Moraes (PCdoB), as eleições municipais de 2012 servem para os partidos se fortalecerem e ganharem posição para o pleito nacional de 2014. Nesse sentido, colocam-se visivelmente dois grupos políticos tentando influenciar a disputa eleitoral nos municípios, o PSDB, do senador Aécio Neves, e o PT, da presidente Dilma. Segundo a deputada, “o PCdoB defende a eleição de prefeitos que apoiem e se integrem no rumo que o Brasil está seguindo”. No entanto, no Vale do Aço, o PCdoB protagoniza uma relevante contradição: a candidatura do partido em Coronel Fabriciano, representada pelo sindicalista Celinho do Sinttrocel, contraria a aliança histórica da legenda com o Partido dos Trabalhadores, e encampa o campo político do PSDB. O vice de Celinho é Francisco Lemos, do PSD. A chapa tem o dedo do secretário de Estado Alexandre Silveira, um dos defensores mais ferrenhos de Aécio. Na visão da deputada, não há dúvida sobre o campo político de seu partido: “O PCdoB é o único partido que esteve sempre neste campo, na disputa presidencial, desde a primeira eleição do presidente Lula, em todas as campanhas, inclusive da presidente Dilma (…) Nós não temos dúvida, nós sabemos do lado que estamos e sabemos do lado que estaremos em 2014”. No entanto, ela justifica: “o partido não vai cometer a ingenuidade de não ocupar também posições para que possa falar diretamente para o povo as suas ideias e propostas”. Jô Moraes esteve no Vale do Aço, no último sábado, quando visitou o comitê do PCdoB em Ipatinga, localizado no bairro Iguaçu. Ela também participou de ações de campanha de Celinho, em Coronel Fabriciano. Confira a entrevista.

DIÁRIO POPULAR – O que querem os comunistas nestas eleições?
JÔ MORAES – O PCdoB entende que estas eleições municipais são a hora de cada força política, cada partido, apresentar suas propostas e fincar raízes, ganhar posições para se fortalecer para as eleições de 2014. Neste sentido, o PCdoB apresenta candidaturas do campo da presidenta Dilma. Considera que é importante a contribuição para fortalecer este campo, sobretudo, aqui em Minas Gerais, onde o candidato à presidência da república do PSDB disputa com o nosso projeto, e está tentando fazer com que a força demonstrada pela presidente Dilma em 2010 não se repita nestas eleições municipais. Por isso, o PCdoB defende a eleição de prefeitos que apoiem e se integrem no rumo que o Brasil está seguindo.
O PCdoB também defende o seu fortalecimento, a eleição de seus candidatos. O PCdoB, durante muito tempo, disputou pouco as candidaturas a prefeito, a governador e ficou concentrado. Agora, o PCdoB cresceu muito em MG. Em um ano, cresceu praticamente 48%. Por isso, nós criamos condições para lançar chapas próprias. Grandes e importantes nomes se integraram às fileiras do PCdoB, criando condições para que possamos eleger bancadas. Em Ipatinga, a chapa de vereadores do PCdoB é uma chapa forte, é uma chapa que integra lideranças com ligação com povo, com consciência da importância da mudança, da luta pelo desenvolvimento, para modernizar a máquina administrativa que nos últimos anos, em Ipatinga, tem sofrido grandes problemas, uma verdadeira paralisia, seja pela disputas internas, pelas brigas e, certamente, pela ineficiência da máquina administrativa. Então, o PCdoB quer eleger vereadores, ter uma bancada forte e ajudar a eleger uma candidatura que é do campo da presidente Dilma, numa cidade operária que precisa assegurar que as indústrias permaneçam, que os empregos se ampliem. E, com toda certeza, fincar posições para o nosso projeto de País.

DP
– Durante muito tempo, os comunistas seguiram a orientação de não disputar o Poder Executivo e, através do Parlamento, fazer o debate sobre suas posições. Isso mudou?
– Mudou. Mudou sim. O PCdoB entende que a luta pelo socialismo vive uma etapa nova no mundo. O capitalismo criou uma ofensiva política grande e, junto com ela, uma ofensiva militar, tentando quebrar a resistência dos povos na sua luta anti-colonial, interferindo em países independentes. Essa ofensiva se realiza particularmente na África, tendo à frente os EUA. Por isso, nós analisamos e vimos que hoje a luta pelo socialismo se materializa na luta pelo desenvolvimento e pelo crescimento do Brasil. Desenvolvimento com distribuição de renda, com condições de superação das desigualdades, com o enfretamento dos desafios ambientais, da sustentabilidade e com a garantia dos direitos democráticos e da dinâmica da sociedade. Por isso, nós estamos disputando executivos, particularmente nesta eleição, em 6 capitais com chances muito palpáveis de viabilização da vitória.

DP
– O PCdoB é herdeiro de um legado importante da história brasileira, na luta contra a ditadura e pela construção do socialismo. Agora, no pós-guerra fria, como os comunistas fazem o debate sobre este processo? Onde entra a revolução nesta história?
– Evidente que a luta pelo socialismo é o motor que mantém viva e atuante a ação do PCdoB, nas entidades do povo – movimentos sindicais, movimentos sociais, movimentos de mulheres, comunitários, negros, juventude. Isso tem sido um esforço constante do PCdoB, de se colocar presente nestas lutas, inclusive, alimentando a ideia de que o povo muda e os governos avançam pela luta popular, pela mobilização do povo, mas, ao mesmo tempo, o PCdoB compreende esta etapa histórica da consciência, da hegemonia da mídia, dos meios de comunicação (que vivem um processo de diretização) – a oposição hoje à presidenta Dilma é mais forte nos meios de comunicação do que na própria ação do Parlamento. Assim como ocorre em vários países da América Latina, onde a eleição de governos progressistas e avançados é um caminho para viabilização do crescimento e de aproximação de processos revolucionários, aqui no Brasil também nós consideramos que esta etapa da consciência do povo está presente. A luta ou a revolução não se faz por desejos de partidos, se faz por processos objetivos de sentimento do povo, da compreensão do povo sobre o único caminho que pode avançar nas transformações: o caminho da lutas, das greves, das mobilizações da sociedade. Nós consideramos que a luta nos espaços institucionais, governamentais, nos parlamentos, é uma luta que contribui para elevar o crescimento do povo e fazer com que ele possa efetivamente entender que o Brasil desenvolvido, com distribuição de renda, com sustentabilidade e com democracia, é um Brasil que tem que ter governos sensíveis, mas também um povo organizado, mobilizado e consciente para se contrapor às pressões do setor empresarial, sobretudo, dos grandes bancos, que fazem com que este País, praticamente, trabalhe para lhe garantir a renda.
O PCdoB tem hoje uma bandeira central, que é a defesa da indústria. O desenvolvimento do Brasil hoje só se realizará com o desenvolvimento da indústria. Não adianta só a exportação, exportação de matérias-primas, exportação de aço, de soja, de café. Tudo isso é importante, mas nós temos que elevar e desenvolver a produção industrial, a produção de máquinas, para que o País seja impulsionado pelo seu parque industrial, tendo autonomia de investimentos produtivos e possa com isso crescer e distribuir renda…

DP – O problema é que os camaradas chineses estão acabando com a gente, pelo menos no Vale do Aço, que vive em torno da siderurgia…
– É…É uma contradição da vida. A China realiza uma política econômica de desenvolvimento com sustentabilidade. Então, a China hoje investe pesado na criação de sua própria indústria, atraindo, inclusive, capitais estrangeiros para se somarem aos seus recursos e elevarem o nível se investimento de sua produção industrial. Mas, por incrível que pareça, a China hoje, além de grande produtora de aço, também é grande importadora do aço brasileiro. Eles ainda não alcançaram um nível de sustentabilidade tal que o aço produzido por eles possa satisfazer as suas necessidades. Apesar da crise econômica, eles ainda estão num ritmo de crescimento elevado, eles ainda são os principais importadores do aço brasileiro. Claro que o nosso problema não é só a China, que reduziu o ritmo de seu desenvolvimento; mas também da crise nos EUA e na Europa – particularmente na Zona do Euro. A redução da nossa produção e exportação do aço é fruto da crise destes outros países do mundo capitalista, que praticamente não conseguiram se recuperar desde 2008; crise que se aprofunda, sobretudo, na Zona do Euro, que era uma das áreas para onde estávamos exportando; não retoma o crescimento nos EUA e com isso, nós que exportávamos para essas áreas vimos reduzir as nossas exportações.

DP
– Sim. Mas remete também ao problema da falta de investimentos na infraestrutura do País, que foi, inclusive, motivo de um desafio da senhora ao ministro dos Transportes (enfrentar o trânsito na BR-381). A senhora acha que ele vai aceitar o desafio?
– Eu diria que o mundo político tem que apresentar gestos de ousadia. A maior ousadia de um político diante de um desafio é ir lá, no chão. Passei hoje (sábado) na 381, não é a primeira vez que enfrento um congestionamento – se eu tivesse vindo de trem, talvez eu chegasse mais rápido em Coronel Fabriciano e Ipatinga, do que vindo pela 381. Meu desafio é um desafio de coração, de sentir que é um absurdo que gente demore tanto a tomar medidas que resolvam esse problema da duplicação da 381. E mais estranho é que quando sai a licitação, não sei o que estava na cabeça desta figura política do Tribunal de Contas, que suspendeu a licitação. Olha, meu Deus, se você demora tanto a fazer a licitação e quando ela sai você ainda suspende, por possíveis equívocos ambientais ou outros, aí, é pra dizer ‘o Estado brasileiro não está preparado para crescer, para desenvolver e assegurar infraestrutura para os investimentos’. Eu diria até que provavelmente logo após das eleições, já que não podemos fazer nada agora por questões legais, mas devemos fazer na região do Vale do Aço, uma ocupação. A população destas cidades próximas deve fazer um dia de ocupação da 381 com a mobilização dos caminhoneiros de todos aqueles que dependem desta estrada, das pessoas que trabalham entre uma cidade e outra, para defenderem a vida, defender o progresso e o desenvolvimento.

DP – Aqui em Ipatinga, o PCdoB apoia uma candidatura do campo da presidenta Dilma Rousseff, mas em Coronel Fabriciano a candidatura do partido está no na oposição do governo do PT local. Como o PcdoB vai lidar com esta contradição?
– O PCdoB, como o PT, como o PMDB, como o PDT, como o PSB, nas eleições municipais tem feito alianças as mais diferentes. O Partido dos Trabalhadores, inclusive, em recente reportagem, tem uma série de alianças municipais com o PSDB. É preciso entender que o PCdoB tem uma posição clara. Em Coronel Fabriciano, numa aliança na qual está um conjunto de partidos que integram a base da presidenta Dilma, como em vários outros municípios continua defendendo o governo da presidenta Dilma, o projeto popular iniciado pelo presidente Lula e Dilma, e continuará levantando as suas bandeiras. Não há nenhum tipo de alteração no projeto político do PCdoB, o que evidentemente as circunstâncias políticas levaram em Minas Gerais a uma grande confusão. Isso porque há uma disputa antecipada de 2014, e nessa disputa antecipada as forças políticas estão se posicionando para assegurar seu espaço. O PCdoB é refém da sua linha política, não é refém de nenhum partido. O PCdoB quer ocupar os espaço porque tem um projeto, porque a história deste projeto popular se iniciou com a conversa que o então presidente do PCdoB João Amazonas (já falecido) manteve com o ex-presidente Lula e que Lula recuperou recentemente no aniversário de fundação do PT. Foi quando João Amazonas lhe disse para não sair candidato sozinho e sugeriu a criação da Frente Brasil Popular. Em 1989, pela primeira vez, a candidatura do presidente Lula já saiu em aliança como PCdoB e o PSB. O PCdoB é o único partido que esteve sempre neste campo, na disputa presidencial, desde a primeira eleição do presidente Lula, em todas as campanhas, inclusive da presidente Dilma, porque esta aliança representa em nível nacional o projeto popular, acumulado na história da luta dos trabalhadores e do povo brasileiro, nestas duas últimas décadas. Por isso, nós não temos dúvida, nó sabemos do lado que estamos e sabemos do lado que estaremos em 2014. Mas estas eleições municipais são um jogo de xadrez, uma ocupação de posições, e o PCdoB não vai cometer a ingenuidade de não ocupar também posições para que possa falar diretamente para o povo as suas ideias e propostas.


“O PCdoB tem hoje um bandeira central que é a defesa da indústria. O desenvolvimento do Brasil hoje só se realizará com o desenvolvimento da indústria. Não adianta só a exportação, exportação de matérias-primas, exportação de aço, de soja, de café”.

“A redução da nossa produção e exportação do aço é fruto da crise destes outros países do mundo capitalista, que praticamente não conseguiram se recuperar desde 2008”.

“Estas eleições municipais são um jogo de xadrez, uma ocupação de posições e o PCdoB não vai cometer a ingenuidade de não ocupar também posições para que possa falar diretamente para o povo as suas ideias e propostas”.
  

 


Jô Moraes posa para foto ao lado de candidatos a vereador do PCdoB, na sede do partido, em Ipatinga

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