Nacionais

O Brasil sabota o Brasil

(*) Fernando Benedito Jr.

Ao mesmo tempo em que afirma que não vai gastar um minuto com polêmica, o ministro do meio ambiente Ricardo Salles – que já perdeu quase dois meses sem fazer nada enquanto as manchas de óleo se espalham pela costa do Nordeste brasileiro, insiste em dizer que óleo é venezuelano. Melhor: “Da ditadura comunista da Venezuela”. Seu chefe já chegou a afirmar que a maior poluição em extensão da costa brasileira é uma ação de sabotagem para prejudicar o leilão do petróleo da cessão onerosa do pré-sal. Trata-se de um leilão do qual participam empresas como a Petrobras, multinacionais como Exxon e Shell, BP, Equinor e Total, atuantes no Brasil, que vão abocanhar em regime de partilha da produção, áreas de desenvolvimento da Bacia de Santos, como Atapu, Búzios, Itapu e Sépia, sem risco exploratório. Em mais uma teoria de conspiração para justificar sua incompetência, o presidente não explica direito quem teria interesse em tal sabotagem e o que ganharia com isso, derramando óleo no mar do Brasil.

Mais lúcido, o comandante da Marinha, Ilques Barbosa, disse hoje (22) que o governo está concentrando as investigações sobre as causas da mancha de óleo nas praias do Nordeste em 30 navios de dez países diferentes. Mas, para ele, a maior probabilidade é que o vazamento partiu de um navio irregular, chamado de dark ship. “Nós saímos de mil navios, para 30 navios”, disse, após reunião com o presidente em exercício, Hamilton Mourão, no Palácio do Planalto. E negou envolvimento da Venezuela no caso, para desespero do presidente, do ministro e da milícia digital de bolsonaristas. “O que se sabe pelos cientistas, é que o petróleo é de origem venezuelana. Não quer dizer, que houve em algum momento, e não houve isso, envolvimento de qualquer setor responsável, tanto privado quanto público, da Venezuela nesse assunto”, descartou.

Vaiado por onde passa, Salles mantém em sigilo sua agenda, como a passagem-relâmpago nesta terça-feira (22) por Pernambuco, onde sequer se dignou a ver de perto o estrago que seu Ministério e seu governo deveriam ajudar a resolver. Prefere polemizar, politizar e ideologizar o desastre ambiental ao invés de assumir suas funções, assim como deveria ter feito no caso do incêndio amazônico, e não fez.

Se não vai perder um minuto com polêmica ou dois meses com incompetência e desorientação, o fato é que os principais pontos turísticos do Nordeste estão sendo seriamente afetados pela poluição. Pescadores e marisqueiros ficam sem trabalho, a fauna marinha morre, hotéis, bares, restaurantes e operadores de turismo, certamente, vão ter o pior verão de todos os tempos e a arrecadação dos Estados do Nordeste vai cair terrivelmente neste alto verão que se aproxima.

Então, quem está sabotando quem?

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com