Cidades

‘Nem saúde para continuar essa batalha eu tenho mais’

Na Casa da Esperança, que abriga pessoas com necessidades especiais e adolescentes em situação de risco, são consumidos 70 litros de leite por dia   (Fotos: Mariana Goulart)

 

IPATINGA – Além das 52 creches conveniadas à Prefeitura Municipal de Ipatinga, as entidades ligadas à Secretaria de Assistência Social também estão sofrendo com a falta de repasse do convênio deste ano. É o caso da Casa da Esperança, que atende a 180 pessoas com necessidades especiais e 14 crianças e adolescentes.
O local funciona como uma casa de abrigo e as pessoas assistidas moram lá. Mas, de acordo com a responsável pela Casa da Esperança, Maria Lúcia Valadão, a Tia Lúcia, a situação da entidade está difícil. “A entidade foi fundada por mim há 21 anos e há exatamente 20 anos nós contamos com esse convênio da Prefeitura. Mas neste ano ainda não recebemos nenhum valor. Por isso, as coisas estão mais complicadas aqui na Casa”, contou tia Lúcia.
Ainda de acordo com ela, o repasse mensal da PMI representa um terço do rendimento da entidade. “O valor que recebo do convênio é usado basicamente para pagar um terço da minha folha de pagamento. Mas, sem dúvida, é extremamente necessário e útil para a entidade porque nos dá suporte para continuar o nosso trabalho”, disse a fundadora.
O convênio anunciado para o ano de 2012 não sofreu nenhum reajuste. A entidade irá receber o mesmo valor referente ao último ano. Segundo informações de um funcionário, o abrigo não tem nenhuma pendência junto à Prefeitura. Toda a documentação solicitada foi entregue, a prestação de contas está correta e o plano de trabalho também foi feito de acordo com o que foi pedido pela administração municipal, explicou o funcionário.

LUTA
Além do repasse da Prefeitura, a entidade sobrevive de doações da comunidade. “Desde que existimos, nós contamos com diversas doações, mas precisamos do dinheiro do convênio. Eu lamento porque sei que muitas pessoas gostam de nós e estão lutando para nos ajudar”, revelou Tia Lúcia.
Ela disse que se sente mal por ter que reclamar daquilo que a entidade tem o direito de receber. “Infelizmente, existe burocracia e alguns outros problemas. A cidade não está zelando pelo nosso trabalho, mas a minha expectativa é que o convênio seja assinado ainda essa semana. Porque é impossível ter que continuar passando por essa dificuldade. E nem saúde para continuar essa batalha eu tenho mais”, declarou Tia Lúcia.

NÚMEROS
Os gastos mensais da entidade são elevados. “Todas as vezes que eu falo em números com alguém, percebo a surpresa no olhar das pessoas. Gastamos 70 litros de leite e 40 quilos de arroz por dia e temos carência de várias outras coisas. Acredito que, para uma casa deste tamanho, nós ainda gastamos pouco”, considerou Maria Lúcia Valadão.
A Casa da Esperança chega a servir mais de 400 refeições diárias. “Na hora do almoço, nós servimos cerca de 450 refeições. Atendemos também jovens que estão cumprindo pena social e realizamos projetos com quase 70 crianças da comunidade”, enumerou a fundadora da entidade.

NECESSIDADE
Os funcionários da Casa da Esperança estão sem receber os salários de janeiro a março. “Passar fome, nem os nossos funcionários e nem os meus internos passaram. E também a solidariedade do povo de Ipatinga, quando tomou conhecimento da situação, através da imprensa, nos ajudou muito. Muitos nos telefonaram perguntando o que estava faltando”, disse tia Lúcia.
No início de março, a entidade foi obrigada a reduzir as dívidas. “Eu tive que escrever uma carta para cada local que nos atende e que o pagamento é feito depois. Cancelei todos os nossos créditos porque não podemos gerar mais dívidas. Dever um mês tudo bem, mas já chegamos ao terceiro mês, aí preferimos cancelar essas contas com as empresas”, revelou.
Segundo Tia Lúcia, no momento, a entidade está necessitando de cadeira de rodas. “Estamos precisando muito de cadeiras de roda e de banho. Os meninos são pesados e não gosto que eles fiquem no leito. Porque ninguém nasceu pra ficar na cama. Mas por andar muito com as cadeiras, elas acabam rapidamente. E estamos precisando de qualquer tipo de ajuda”, concluiu Maria Lúcia.


Sobre a greve das entidades, Tia Lúcia argumenta: “como eu fecho as portas e mando essas pessoas embora?
A casa delas é aqui”

PMI diz que convênio está em fase final de análise
Ipatinga
– A Prefeitura Municipal de Ipatinga informou por meio de nota que os convênios da Secretaria Municipal de Assistência Social estão sendo assinados e pagos na medida em que as entidades entregam o Plano de Trabalho e a documentação completa no Departamento de Políticas de Assistência Social-DEPAS.
A documentação relativa à entidade Casa da Esperança já foi entregue e concluída na Secretaria de Assistência. O convênio está em fase final de procedimentos para a assinatura e respectivo pagamento.

Entidade não pode aderir à greve
Ipatinga
– Diferentemente das entidades conveniadas à Prefeitura Municipal de Ipatinga que estão em greve desde a última semana, a Casa da Esperança não tem condições de aderir à greve. “Não tenho como participar dessa greve. Porque para eu aderir, teria que fechar as portas da entidade e mandar as pessoas para a casa delas, mas a casa dessas pessoas é aqui. Não tem como eu deixar de atender aos internos, aqui funciona como um abrigo. A nossa situação é diferente e não pode ser tratada como as outras”, considerou tia Lúcia.
Ainda de acordo com ela, os funcionários também não aderiram à greve em consideração aos assistidos. “Eu também não posso ficar sem os meus funcionários. Como eu vou cuidar de todas essas pessoas sem eles, que dão comida na boca? Cuidam deles durante o dia e durante à noite e ainda dão os remédios. Aqui é um abrigo, não tem como eu levar as crianças pra casa. Aqui a mãe deles sou eu”, concluiu a responsável pela Casa da Esperança.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com