Nacionais

Nas entrelinhas

(*) Fernando Benedito Jr.

 

“E complica pra gente quando você fala em reforma da Previdência, onde você vai tirar alguma coisa dos mais pobres, você aceitar um reajuste como esse”. A declaração é do presidente eleito Jair Bolsonaro, no twiter, reagindo contra o aumento de 16% do Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmando que se fosse o presidente Temer vetaria o reajuste.

Jair Bolsonaro disse que o STF “é a classe que mais ganha no Brasil, a melhor aquinhoada”, e que o reajuste do salário dificulta o discurso a favor da reforma da Previdência.

A crítica ao reajuste do STF é merecida, porque o Supremo já se constitui numa das castas mais bem remuneradas do País, ao lado dos militares e dos políticos. E foi esse tema, a crítica ao reajuste que ganhou evidência. Entretanto, essa afirmação de que se “vai tirar alguma coisa dos mais pobres”, este pequeno detalhe, este pequeno, digamos, “ato falho” que parece ser um lugar comum entre os integrantes do novo governo – tantas são as idas e vindas de declarações desencontradas –, deixa antever pra onde vai caminhar a reforma da Previdência, se caminhar.

Primeiro, que “tirar alguma coisa dos mais pobres” nas atuais circunstâncias, significa tirar muito. Afinal, significa tirar algo de quem não tem nada. É menos zero.

Segundo, é interessante até agora não falarem que vão dar alguma coisa para os pobres. Só falam em dar aos banqueiros, ao agronegócio, à indústria, ao grande capital. Neste caso mesmo, da Previdência, quem “está na fita” são os banqueiros, um pessoal que paga imposto igual a todo mundo e ainda ganha pouco.

Ao admitir que vai tirar alguma coisa dos mais pobres, Bolsonaro, na verdade quer dizer que uma eventual reforma da previdência não vai tirar dos militares, não vai penalizar demais a classe média e muito menos vai atingir os ricos, que sequer precisam de aposentadoria. Ou seja, não sobra para ninguém menos que os “mais pobres” e assalariados. Mas é de se supor que grande parte dos brasileiros queira isso. Foi nisso que votaram, ainda que não soubessem.

Aliás, a proposta de Paulo Guedes é manter os atuais beneficiários do INSS como estão e, a partir de seu governo transferir a previdência para bancos privados, fundos de previdência (Petros, Previ, etc), estas instituições com as quais Paulo Guedes está acostumado a pactuar e a tratar desde que fundou o Banco Pactual, ingressando e enriquecendo no mercado de capitais à espera de um momento oportuno como esse para ajudar o Brasil a crescer e superar o déficit da Previdência. Sair do buraco. Se alguém duvida das boas intenções do Paulo Guedes, pergunte ao Bolsonaro o quanto esse homem é bom. Tanto que virou superministro. E no governo de transição já vem mostrando quais são os seus superpoderes.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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