Cidades

Na Onda Lilás em Ipatinga tudo é essencial

(*) Fernando Benedito Jr.

Com algumas raras exceções como salões de beleza, lojas de roupas, bares e restaurantes (mesmo assim com certa “flexibilidade”), quem sai às ruas de Ipatinga pode constatar que a “Onda Roxa” assume mesmo tons de lilás e o “lockdown” não passa de um estrangeirismo sem nenhum significado prático para conter o avanço da contaminação pelo coronavírus. Os setores que mais aglomeram continuam funcionando normalmente e os que aglomeram menos, com “jeitinho”, à meia porta, seguem funcionando sem muita importunação.

Desde o primeiro momento em que aderiu à Onda Roxa, o prefeito municipal Gustavo Nunes (PSL) manifestou em claro e bom tom que era contra a medida. Acenando aos empresários, pequenos empreendedores e a seu eleitorado, ele fez questão de reiterar em “lives” que a idéia não era dele e que simplesmente acatava uma medida impositiva e que a culpa era do Zema. Se a principal autoridade do município tem suas reservas, que dirá o empreendedor do churrasquinho da esquina. Os exemplos que vem de cima também não são lá nada rigorosos nem simpáticos à idéia de “paralisar a economia”. Ao contrário, estimulam as aglomerações que desandam para os bailes funk, festas proibidas, comemorações do aniversário presidencial…

O vírus e o medo da morte já paralisaram a economia. Não preciso ir além do PIB negativo de 4,1%. Então, é preciso paralisar o vírus com a vacinação em massa, que também não há. Aliás, os mesmos que são contrários às medidas de isolamento social também sabotam a vacinação em massa.

A Carta Aberta à Sociedade Brasileira divulgada no domingo por banqueiros e economistas, independente de seus reais objetivos – entre os quais, evidentemente, salvar os próprios negócios –, traz dados ilustrativos para mostrar que é totalmente falso o dilema entre salvar a economia e salvar vidas, muito utilizado pelo inominável. No atual estágio da pandemia, a economia já derreteu e as vidas se esvaem cotidianamente, aos milhares.

“A falta de vacinas – diz a carta – é o principal gargalo. Impressiona a negligência com as aquisições, dado que, desde o início da pandemia, foram desembolsados R$ 528,3 bilhões em medidas de combate à pandemia, incluindo os custos adicionais de saúde e gastos para mitigação da deteriorada situação econômica. A redução do nível da atividade nos custou uma perda de arrecadação tributária apenas no âmbito federal de 6,9%, aproximadamente R$ 58 bilhões, e o atraso na vacinação irá custar em termos de produto ou renda não gerada nada menos do que estimados R$ 131,4 bilhões em 2021, supondo uma recuperação retardatária em 2 trimestres”.

E mais: “O ritmo de vacinação no país é insuficiente para vacinar os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) no 1º semestre de 2021, o que amplia o horizonte de vacinação para toda a população para meados de 2022.

“As consequências são inomináveis. No momento, o Brasil passa por escassez de doses de vacina, com recorrentes atrasos no calendário de entregas e revisões para baixo na previsão de disponibilidade de doses a cada mês. Na semana iniciada em 8 de março foram aplicadas, em média, apenas 177 mil doses por dia.

“No ritmo atual, levaríamos mais de 3 anos para vacinar toda a população. O surgimento de novas cepas no país (em especial a P.1) comprovadamente mais transmissíveis e potencialmente mais agressivas, torna a vacinação ainda mais urgente”.

Ou seja, o -4,1% do PIB sentiu de forma figadal o golpe provocado pelo coronavírus e pela Covid-19, a ponto de se mobilizar pela vacinação em massa como única solução para a retomada da economia. Os únicos que ainda não sentem a dimensão da tragédia humanitária, social e econômica são o inominável e seus seguidores, que seguem sem máscaras, contrários ao isolamento social e sabotando a vacinação.

Em Ipatinga, enquanto a cidade bate recordes diários de óbitos, a onda segue lilás para as atividades econômicas, ainda que o município pouco arrecade com ela, principalmente se se levar em conta o que se perde com ela em vidas humanas. E também economicamente. Já a população vive uma outra onda, tétrica e descolorida. Tristemente pálida.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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