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Moro pede à PGR abertura de inquérito sobre citação a Bolsonaro em caso Marielle

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu nesta quarta-feira ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a abertura de inquérito para investigar a citação feita ao nome do presidente Jair Bolsonaro em apuração sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco.

O pedido de Moro veio horas depois de o presidente Jair Bolsonaro ter reagido à reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, afirmando que o porteiro do condomínio de Bolsonaro no Rio disse em depoimento que Élcio Queiroz, um dos suspeitos da morte de Marielle, entrou no local dizendo que iria à casa do então deputado.

Queiroz, no entanto, foi para a residência do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser autor dos disparos que mataram a vereadora do PSOL e seu motorista, Anderson Gomes, em março do ano passado, segundo a reportagem.

ÁLIBI

Bolsonaro negou ter autorizado a entrada em seu condomínio do suspeito no dia do crime e se ofereceu a falar com a polícia para se defender. O presidente fez uma transmissão de vídeo ao vivo em sua página no Facebook de madrugada na Arábia Saudita, onde está em visita oficial.

“Eu tenho registrado no painel eletrônico da Câmara 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse elemento no condomínio, e tenho também 19h36, e tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação”, disse Bolsonaro no vídeo em uma resposta exaltada.

Segundo a reportagem do JN, o porteiro do condomínio teria dito que um homem com a voz de Bolsonaro teria autorizado pelo interfone a entrada de Queiroz, acusado de dirigir o carro usado no assassinato de Marielle. Queiroz e Lessa foram presos em março deste ano e se tornaram réus por duplo homicídio triplamente qualificado sob acusação de terem assassinado Marielle e Anderson.

HIPÓTESES

A reportagem da TV Globo ressalvou que o sistema da Câmara registra a presença de Bolsonaro no Congresso no dia da visita de Élcio Queiroz, e o presidente confirmou em sua transmissão de vídeo que estava na capital federal.

“O que cheira isso aqui, não quero bater o martelo, o que parece: ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou àquele que foi ouvi-lo na portaria”, acrescentou.

FANTASMA

O presidente disse que quer falar com o delegado responsável pelo inquérito para se defender, e acrescentou que vai tornar público seu depoimento, independentemente de o processo correr em sigilo.

“Eu quero falar sobre esse processo. Vou chegar na madrugada de quinta-feita, a partir dessa madrugada estou à disposição de vocês. Senhor delegado, quero te ouvir, olhar nos seus olhos, e que o senhor faça perguntas para mim, quero te responder”, afirmou.

Em entrevista pela manhã, Bolsonaro disse que iria pedir a Moro que acionasse a Polícia Federal para ouvir o porteiro, de forma que “esse fantasma que querem colocar no meu colo, como um possível mentor da morte de Marielle, seja enterrado de vez”.

CULPA DO PORTEIRO

Pouco depois, Moro enviou o ofício ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que abra um inquérito a fim de investigar a citação feita pelo porteiro ao nome do presidente.

No ofício a Aras, Moro mencionou o fato de que a própria reportagem aponta o registro de presença de Bolsonaro na Câmara. Para o ministro, a inconsistência sugere “possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro ou eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do presidente da República no crime em questão”.

Segundo Moro, isso pode configurar crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa, neste último caso tendo por vítima o presidente da República, o que determina a competência da Justiça Federal e, por conseguinte, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

WITZEL

A assessoria de imprensa do ministro da Justiça não soube informar se a requisição feita por Moro a Aras ocorreu após um contato do presidente. Moro está no Equador.

Em sua transmissão de vídeo de madrugada, Bolsonaro também acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter vazado as informações do inquérito para a imprensa, segundo o presidente, com a intenção de “destruir a família Bolsonaro” de olho nas eleições presidenciais de 2022.

Em nota oficial, Witzel afirmou que não compactua com vazamentos e negou interferência política nas investigações.

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público a cargo da Polícia Civil”, afirmou.

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