Cidades

Keisson defende o financiamento público como medida anti-corrupção

“O que acontece hoje é que as pessoas se aproveitam da campanha para tentarem se beneficiar depois com obras e várias outras coisas que o serviço público pode oferecer. Então é preciso buscar o financiamento público das campanhas eleitorais.”

TIMÓTEO – Em entrevista ao “Diário Popular”, o prefeito de Timóteo Keisson Drumond discute o atual momento político nacional, que coloca o Partido dos Trabalhadores como centro das investigações da Operação Lava Jato, submete o ex-presidente Lula à “prisão coercitiva” e pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Eleito pelo Partido dos Trabalhadores, Keisson avalia que as investigações anti-corrupção são necessárias, mas devem se estender a todos os partidos. “Não há autoridade política que possa fazer nenhuma coisa, sem que o MP intervenha, a PF intervenha, sem que todos os órgãos de fiscalização intervenham. Nós estamos numa situação que toda autoridade política tem que andar com advogado do lado”, diz o prefeito sobre o clima de perseguição e da extrema judicialização da política brasileira, que chega às raias do estado policial. Keisson não teme um golpe, mas admite que está em marcha um movimento capitaneado por setores da direita, que não admitem a vitória de Dilma e tentam destituí-la a qualquer custo. “É preciso saber quem está no poder, quem quer o desenvolvimento do País e quem quer a política do quanto pior, melhor”, diferencia.

"Estamos vivendo no Brasil uma crise em que tínhamos um País em pleno desenvolvimento, que parou em decorrência de uma crise econômica global e também em razão da crise política e institucional.”

DIÁRIO POPULAR – O País vive um momento de tensionamento político entre as forças da oposição e da situação. O Partido dos Trabalhadores e suas principais lideranças são alvos fixos da grande mídia, da Operação Lava Jato, do Ministério Público, da Polícia Federal. No Congresso e nos tribunais, busca-se o impedimento da presidenta Dilma Rousseff. Como o senhor avalia este ambiente político, na condição de prefeito do Partido dos Trabalhadores
KEISSON DRUMOND
– Eu acho que fiscalizar é necessário. Mas tem que fiscalizar todos. Não se pode concentrar toda a fiscalização no PT e esquecer que existem outros partidos como o PP, PSDB, PMDB, DEM e diversos outros que fizeram parte dos esquemas de corrupção, inclusive, muito antes da Lava jato. Então, o que acontece é que estamos vivendo no Brasil uma crise em que tínhamos um País em pleno desenvolvimento, que parou em decorrência de uma crise econômica global e também em razão da crise política e institucional. Tínhamos um PIB melhor a cada ano, a questão social cada vez melhor, milhares de brasileiro deixaram a linha de pobreza, os trabalhadores deixaram de ganhar um salário de US$ 64 e passaram a ganhar um mínimo de mais US$ 200. O brasileiro passou a ter uma vida digna com o Partido dos Trabalhadores, que abriu as portas para os que estão em vulnerabilidade social, através dos programas de distribuição de renda; abriu as portas para a universidade. Todos nós sabíamos que o Brasil em pleno desenvolvimento também estava suscetível à crise – os EUA em 2008 enfrentaram uma crise profunda. Com a chegada da crise ao País, uma das primeiras baixas, vale lembrar, foi o Eike Batista. A falência de suas empresas representou um grande prejuízo nacional e, várias outras empresas, quebraram a partir daí.
De outro lado, politicamente, temos uma direita que não aceitou a derrota eleitoral para uma mulher. Eu nunca vi um governo ser tão perseguido igual ao governo Dilma. Tudo que ela fala, até para melhorar o governo, tem sido criticado. A gente tem que perceber quem está no poder, quem quer o desenvolvimento do País e quem quer a política do quanto pior, melhor.
Na minha visão existem vários erros estratégicos em diversos aspectos da política nacional. Aquela “prisão coercitiva” do Lula, foi só para desgastar a imagem do político Luis Inácio da Silva, sendo que ele nunca se negou a depor, não deixou o País, tem residência fixa. De certa forma, a Justiça tem pesado muito a mão naquele homem que, com todo respeito, pode ter errado, mas fez muito por este Brasil. Portanto, acho que nós estamos vivendo uma judicialização de todos os processos. Não há autoridade política que possa fazer nenhuma coisa, sem que o MP intervenha, a PF intervenha, sem que todos os órgãos de fiscalização intervenham. Nós estamos numa situação que toda autoridade política tem que andar com advogado do lado.

“De outro lado, politicamente, temos uma direita que não aceitou a derrota eleitoral para uma mulher. Eu nunca vi um governo ser tão perseguido igual ao governo Dilma”.

Hoje, as políticas públicas são todas vinculadas a legislações específicas. Qualquer coisa que saia fora do eixo, nós estamos sujeitos a ser processados e “condenados” antes mesmo do julgamento pleno da situação. Esta é a pior coisa. O que estão fazendo com o Lula é condenando-o antes de lhe darem o direito de defesa. Esse é o maior problema que acho que está acontecendo. Isso me lembra a época dos militares. Me relembra uma memória adormecida no País…

DIÁRIO POPULAR – O senhor acha que está em marcha um golpe?
KEISSON
– Não acho que esteja em marcha um golpe. Mas existem nas ruas algumas forças políticas para tentar acabar com o governo da Dilma. Isso é um grande problema porque as pessoas às vezes se esquecem dos benefícios que foram feitos durante todo esse tempo.

“Nós estamos numa situação que toda autoridade política tem que andar com advogado do lado”.

DIÁRIO POPULAR – A oposição coloca como se a corrupção fosse invenção do PT, como se pode romper com este conceito?
KEISSON
– Acho que a gente tem que buscar o financiamento público de campanha. Através dele, nenhum empresário irá se aproveitar do momento eleitoral para se estabelecer indevidamente no município, no estado ou na União. O que acontece muitas vezes é que o político precisa fazer campanha e o empresário tem recurso para custear essa campanha e aí se aproveita dos números de pesquisa para apoiar aquele que está mais perto de ganhar. O financiamento público, com o mesmo percentual para cada partido para que e eles possam, realizar sua campanha de forma igualitária, resolveria parte do problema político do País, sem dúvida nenhuma. O que acontece hoje é que as pessoas se aproveitam da campanha para tentarem se beneficiar depois com obras e várias outras coisas que o serviço público pode oferecer.

DIÁRIO POPULAR – O senhor propõe então uma reforma política e eleitoral profunda?
KEISSON
– Na verdade, a reforma que foi enviada ao Congresso era uma reforma digna, mas foi totalmente retalhada e recheada com outras propostas que não condizem com os interesses do País. O que precisamos falar para os brasileiros é que tem que cortar custos e viver na austeridade. Mas temos que coibir qualquer chance de financiamento de campanha acontecer através de doações privadas. Deve ser um processo digno, transparente e que a população tenha acesso integral às informações para a que disputa se dê de forma igualitária.

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