Cidades

Infectologista constata rápido avanço de Covid-19 e defende isolamento rigoroso

Médico Márcio Castro alerta para gravidade da situação em Santana do Paraíso que tem a maior taxa de contaminação por habitante do Vale do Aço; falta de medidas rigorosas de isolamento, leitos e testagem contribuem para o aumento da disseminação do vírus e óbitos na região

IPATINGA – O infectologista Márcio Castro participou nesta semana da reunião do Conselho Estadual de Saúde com os representantes dos municípios do Vale do Aço, quando apresentou uma “Análise do panorama da epidemia de Covid-19 em Ipatinga”. Castro participou como convidado do CES por indicação dos usuários e fez uma explanação sobre a situação regional. Em sua análise, Márcio Castro destaca o alto índice de contaminação por habitante em Santana do Paraíso, que, com uma população de 34 mil habitantes, registrou neste sábado o 12º óbito e tem 411 casos confirmados, o que representa uma taxa de 11,913 por milhão de habitantes.

Ele enfatizou a necessidade urgente de instituir medidas rigorosas de isolamento social ou lockdown e emergência de leitos de UTI. As propostas foram respaldadas por todos participantes. Na oportunidade, Márcio Castro abriu a discussão sobre a necessidade de acionar o Ministério Público Estadual para adoção das medidas mais efetivas de combate à pandemia, uma vez que não se tem perspectiva real dos prefeitos e governador instituírem medidas rigorosas de isolamento. Ele também questionou o Estado e a União quanto ao credenciamento de UTIs e disponibilização de respiradores.

CONTÁGIO

O estudo de Márcio Castro aponta que os primeiros casos de transmissão comunitária de COVID no Vale do Aço foram notificadas em início de março/20. Sendo instituídas medidas de isolamento social em meados de março, com fechamento de escolas e, posteriormente, do comércio não essencial. Observada resposta satisfatória com incidência baixa e crescimento lento (baixo índice de infectividade – sugerindo que em média uma pessoa infectada transmitia para apenas uma outra) durante os meses de março e abril. Entretanto, já se observava aumento importante das internações e óbitos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), com elevação de até 1.000% em relação a 2019, conforme boletim da SES/MG. Estes dados sugeriam crescimento da COVID, sem confirmação laboratorial, dado que a testagem pela rede pública era muito baixa (em média 300 testes/dia para todos estado de MG, realizados pela FUNED), afirma ele com base em dados divulgados pela Prefeitura de Ipatinga.

FLEXIBILIZAÇÃO

Em final de abril, a Prefeitura de Ipatinga flexibilizou o isolamento social, com liberação do comércio, incluindo até shopping center, além de academias e igrejas. “Como resposta, foi observado rápida disseminação do N-Cov a partir de início de maio, expresso pelo aumento de diagnósticos a partir de 15 de maio (resultados de exames coletados próximo a 10 de maio). A partir de 15/5 observou-se rápido crescimento, com o número de casos dobrando a cada 5 dias, refletindo R0 (índice de infectividade) > 2 (cada doente transmitindo, em média, para mais duas pessoas). Pulando de cerca 30 para 250 casos, um aumento de 800% na segunda quinzena de maio. E em trinta dias, houve aumento de 30 para 700 casos – 2.200%”, constata o infectologista.

AUMENTO

Em junho, apesar de redução do R0, manteve elevada disseminação, chegando a mais de 100 casos/dia. Nas últimas três semanas, manteve cerca de 500 casos novos por semana epidemiológicas e com um acumulado de casos confirmados subindo de 200 para quase 1500 casos (quase de 700%). Atualmente, Ipatinga atinge uma taxa de 5.700 casos por milhão de habitantes. Santana do Paraíso 11.913/milhão, Fabriciano com

4.642/milhão, ao lado de Itabira com 5.450/milhão, GV com 3.604/milhão e Uberlândia 8.783/milhão, estão entre as cidades mineiras com maiores taxas de Covid. TTimóteo tem uma taxa de 2.367/millhão.

ÓBITOS

Os óbitos por Covid também começaram a crescer a partir de meados de maio, mas acentuaram a partir do início de junho, em paralelo com a lotação das UTI’s. Em junho as mortes confirmadas por Covid elevaram de 03 para 37 em Ipatinga, até 27/6 (aumento de 1.000%), totalizando 37 óbitos/mês em Ipatinga e aproximando de 100 mortes no Vale do Aço.

LEITOS

Nestes mais de três meses de epidemia, o município relatou a criação de apenas três leitos no Hospital Municipal, além dos 30 leitos de UTI criados por iniciativa privada, em hospital credenciado ao SUS. Não se criou o hospital de campanha, que só agora é noticiado, mas apenas com leitos de enfermaria de baixa complexidade. O que pode ser pouco útil, dado que cerca de metades dos pacientes internados demandam cuidado intensivo, como observado, com os dados de internação até início de junho. O governo estadual não se contribuiu com a criação direta de nenhum equipamento de saúde pública regional, não criou nenhum leito de internação, nem contribuiu com respiradores, um dos maiores limitadores do momento. Nas cidades vizinhas, há relato de leitos ociosos em Cel. Fabriciano. Em Caratinga, a ocupação das UTI também está elevada e seu leitos têm sido compartilhados pela regional, ao contrário de CF

DISCREPÂNCIA

Quanto a Coronel Fabriciano, cidade vizinha e conurbada a Ipatinga, chama-se a atenção que apesar de mais de 400 casos confirmados, com uma das mais elevadas taxas de incidência do estado, há relato de apenas duas mortes. E, a fim de justificar a suspensão das medidas de isolamento social no município, incluindo a retomada das aulas (suspensa por ordem judicial), sendo relatada reiteradas vezes que os leitos de Covid do hospital municipal (HJMM) estariam ociosos. Tais dados são discrepantes de todas estatísticas gerais de COVID e dos registros de aumento de internação e óbito por

SRAG nos boletins da SES MG. Dado que pelos dados apresentados pela SES houve acentuado aumento de casos e óbitos por SRAG no município e região.

TESTAGEM

Quanto aos testes de diagnóstico, o RT-PCR, único com real valor para diagnóstico individual de COVID, sua oferta tem sido muito limitada pelo governo estadual. Só tem sido disponibilizado para pacientes internados com critérios de SRAG. Grande parcela dos diagnósticos na região tem sido feito pela rede privada. No último mês, foram disponibilizados testes sorológicos (sangue), na modalidade de teste rápido, que é um teste de baixíssima acurácia, sendo recomendado apenas para diagnóstico coletivo, ou seja, monitorar a taxa de circulação no município ou região, mas não é adequado para diagnóstico individual. Estes testes não corroboram com o diagnóstico de pessoas doentes com Covid. Segundoi dados divulgados esta semana, Minas Gerais realizou 155 testes/100.00 habitantes, o pior índice de testagem do país, enquanto outros estados chegam a mais de 4.000 testes/100.000 habitantes. E, pior, o Brasil é um dos países com pior testagem do mundo, testando cerca de 20-50X menos que países vizinhos da América do Sul e cerca de 100X menos que países europeus.

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