Opinião

Hospital Municipal de Ipatinga, UPA e “Grey’s Anatomy”

Estrutura física das principais unidades de saúde do município está degradada e pode causar mais riscos à saúde dos pacientes

(*) Fernando Benedito Jr.

IPATINGA – Tetos com goteiras, paredes sujas, mofadas e com pinturas descascadas, pisos comprometidos e instalações em geral em situação degradada e exigindo reparos. Este é o cenário nada esterilizado que se observa no Hospital Municipal Eliane Martins e na Unidade de Pronto Atendimento de Ipatinga (UPA). Muito diferente do que se vê nas séries médicas que viraram febre nas plataformas de streaming e vendem uma ideia quase heróica dos médicos e quase perfeita da medicina que tudo cura. Claro que a comparação é injusta, mas ilustrativa. Na dura realidade da porta de entrada do Pronto Socorro público e da estafante jornada dos profissionais da linha de frente, a história é outra e estas unidades precisam de reparos e reformas urgentes, sob o risco de comprometer ainda mais a qualidade dos serviços de saúde que prestam à população. Senão por isso, por aquilo. Por isso entenda-se a falta de remédios, médicos, especialistas, enfermeiras, atendentes capacitados, sobrecarga de trabalho, baixa remuneração, etc. Por aquilo, leia-se, locais insalubres e uma estrutura física que garanta respeito e dignidade aos que buscam no serviço público de saúde o conforto para suas dores e sofrimentos.

Os usuários que recorrem aos serviços destas instituições, em muitos casos, não reclamam da qualidade da unidade hospitalar ou ambulatorial porque se sentem até agradecidos pelo fato de terem sido atendidos e resolvido seu problema de saúde mais imediato. Exceto os mais açodados – e na porta do Pronto Socorro todos têm pressa –, muitos reconhecem a boa acolhida pelos profissionais de saúde e do SUS, dentro de suas possibilidade e conforme a realidade que vivem. Por outro lado, ninguém que está à beira da morte vai reclamar de goteiras ou mofo nas paredes. Outros se calam por temer retaliações ou porque tem algum familiar ou amigo internado e precisam dos serviços, independentemente da forma como são prestados ou como são tratados. Mas o fato é que algumas unidades, em particular o HMI e a UPA, que são os mais demandados não dão o devido acolhimento e parecem mesmo hospitais de campanha em plena guerra, tal o nível de depredação de sua estrutura física, principalmente nas alas destinadas às emergências e mesmo internação de pacientes.

PORTA ABERTA À DOENÇA

O risco de infecção hospitalar, não decorre somente da livre circulação de bactérias e vírus que contaminam os pacientes que precisam de tratamento, mas também do ambiente degradado e insalubre.

A situação destas unidades de saúde que são a porta de entrada do atendimento de urgência e emergência no município se torna ainda mais grave durante a pandemia do coronavírus e suas variantes, acumuladas com outras síndromes gripais e respiratórias graves. No Hospital Municipal, por exemplo, a ala para pacientes com sintomas ou acometidos por covid-19 permanece de portas abertas, durante um entra-e-sai de médicos e enfermeiras, em meio a visitantes e pacientes com outros sintomas e problemas. É também uma porta aberta para o vírus e a contaminação.

REFORMA FÍSICA E CONCEITUAL

É tão público e notório quanto o SUS, que a maioria dos hospitais e instituições públicas de saúde no Brasil são tratadas de qualquer maneira, assim como os pacientes que as frequentam. Mas este conceito precisa ser repensado a partir de noções e conceitos mais humanitários, dignos e respeitosos. Visto de maneira superficial, o problema parece apenas físico, mas é mais profundo e requer uma avaliação conceitual mais abrangente. Ou será que são assim porque esta é a natureza dos espaços de saúde reservado aos pobres, àqueles que não tem planos de saúde nem condições de ser atendidos nos hospitais do “House”, do “Doc” ou da “Grey” – ou Albert Einstein, para não ir muito longe. Não se trata de reformar apenas as paredes e o teto, a aparência. Os gestores precisam abrir a mente e estabelecerem as prioridades de acordo com aquilo que a população mais precisa.

Não é possível levar um paciente para buscar a cura num lugar onde pode encontrar mais doença e, quem sabe, a morte.

RECURSOS E NADA

O município de Ipatinga aprovou para este ano um Orçamento de total de R$ 1.210.459.000,00 (um bilhão, duzentos e dez milhões e quatrocentos e cinquenta e nove mil). Deste total, R$ 415.710 milhões, a maior fatia dos recursos, será destinada ao Fundo Municipal de Saúde, mas as únicas reformas previstas são as da Unidade Básica de Saúde do bairro Iguaçu e da Policlínica Municipal. Ou seja, as duas unidades principais, a UPA e o HMI, continuarão em situação de calamidade.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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