Cultura

Filmes que retratam tensão social abrem o Festival de Tiradentes

TIRADENTES – O foco do cinema brasileiro nas tensões sociais será tema da 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, cidade histórica mineira a 200 quilômetros de Belo Horizonte. O festival inaugura o calendário audiovisual no país com uma série de mostras gratuitas com o tema “Espaços em Conflito” e uma homenagem ao cineasta ítalo-brasileiro Andrea Tonacci, 72 anos, autor de importantes produções nacionais.
Até dia 30, a expectativa é reunir 30 mil pessoas para assistir a 117 filmes. Muitas películas estreiam no festival e terão sessões acompanhadas de debates com realizadores. Na abertura, às 21h de hoje (22), será feita uma montagem com cenas que percorrem os últimos 66 anos do cinema nacional e destacam a relação dos filmes com o contexto nacional.

TEMA
O tema deste ano lança luz sobre dilemas e questões sociais colocadas em evidência pelos filmes, ora gerando desconforto na plateia, ora discussões na sociedade. Entre eles, os longa-metragens Índios Zoró – Antes, Agora e Depois?, do cineasta baiano Luiz Paulino dos Santos, de 83 anos, Animal Político, do pernambucano Tião – que acaba de ser selecionado para o Festival de Roterdã, na Holanda –, além de Aracati, das cineastas Aline Portugal e Julia De Simone. Este retrata o Vale do Jaguaribe, no Ceará, observando a relação do homem com a paisagem.

CURTAS
Entre os 82 curtas em exibição, os destaque são Enquadro, de Lincoln Péricles, em que a câmera percorre becos da periferia de São Paulo, mostrando a relação dos jovens com o lugar e com a polícia, e o curta Território, mais centrado nos conflitos psicológicos das personagens. Também está na seleção o filme USP 7%, dos repórteres da Agência Brasil Daniel Mello e Bruno Bocchini, sobre a ausência de estudantes negros em um das principais universidade do país.

NOVOS HÁBITOS
De acordo com a coordenadora geral da mostra, Raquel Hallak, os filmes brasileiros, desde as décadas de 1950 e 1960, tratam de conflitos socioeconômicos e espaciais na sociedade, como Rio, 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos. Nos últimos anos, a temática se diversificou e incluiu críticas aos hábitos da classe média.
“O sertão e a favela sempre estiveram na pauta do cinema brasileiro, que agora se amplia. A proposta [do festival] é justamente discutir o que mudou, o que permaneceu e fazer uma analogia com a própria história do país”, acrescentou Raquel Hallak.
Das nove mostras de Tiradentes, que ocuparão espaços públicos e abertos na cidade histórica, como Largo das Fôrras, Largo da Rodoviária e no Sesi- Tiradentes, duas são competitivas, a Aurora e a Transições. Os premiados serão escolhidos por um júri técnico.

INFANTIL
Pensando em novos públicos, também foram selecionados filmes que podem ser assistidos em família. Na Mostrinha de Cinema, voltada para os mais novos, serão quatro longas e quatro curtas, com destaque para O que queremos para o mundo, de Igor Amin.
Para os adolescentes, a dica é o Últimas Conversas, última produção do documentarista Eduardo Coutinho, que entrevista jovens, e o premiado Tudo o que aprendemos juntos, de Sérgio Machado. A animação As aventuras do Avião Vermelho é de Frederico Pinto e José Maia.

BOX

Curador de Cannes
participa de debates

Além da exibição de longas e curtas, o festival terá debates com participação de profissionais do audiovisual, críticos de cinema, intelectuais e pesquisadores sobre a cena contemporânea. Os especialistas também discutirão políticas públicas para o setor. Uma das principais presenças é de Paolo Trotta, membro do Comitê de Seleção do Festival de Cannes, uma das competições internacionais mais prestigiadas, realizada na França.
O evento também homenageará o cineasta Andrea Tonacci, que, em 2006, fez sua estreia na mostra de Tiradentes, com a exibição do documentário Serras da Desordem. Exibido no próprio festival há dez anos, a obra fala do massacre de madereiros e fazendeiros contra a etnia Awá-Guajá na Amazônia. “Foi um filme com uma proposta estética e temática muito impactante”, disse Raquel.
O público também terá a chance de ver Blábláblá (1986) e Bang Bang (1970), além de conversar com Tonacci, que participa de um debate sobre sua obra amanhã (23), no Cine Teatro Sesi.

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