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Comissão da Verdade vem a Ipatinga debater Massacre

Foto histórica do Massacre de Ipatinga mostra soldado sobre caminhão antes de atirar em trabalhadores
(Crédito: José Isabel do Nascimento)


IPATINGA – A Comissão Nacional da Verdade (CMV) realiza no dia 7 de outubro uma audiência pública para tratar do assassinato de trabalhadores da Usiminas em um episódio que ficou conhecido como o “Massacre de Ipatinga”. O evento será realizado no dia exato em que a tragédia completará 50 anos e a intenção é recolher depoimentos que tragam novas informações sobre o caso.

Segundo os registros históricos, o Massacre de Ipatinga, ocorrido em 1963, foi originado por um atrito entre militares e funcionários da Usiminas, que protestavam por melhores condições de trabalho e contra a truculência de vigilantes da empresa e da Polícia Militar na cidade. A lista oficial de mortos traz os nomes de sete vítimas, entre elas Eliane Martins, morta aos três meses no colo de sua mãe, e que hoje dá nome ao Hospital Municipal da cidade. No entanto, o número ainda é contestado e algumas versões chegam a afirmar que foram mais de 80 mortes.

A chacina ocorreu em uma entrada da companhia siderúrgica onde hoje está o bairro Horto. Segundo o livro “O Massacre de Ipatinga”, de Carlindo Marques, cansados das más condições de trabalho e após sofrerem diversas humilhações e abusos por parte de militares e também de vigilantes da Usiminas, operários se reuniram em uma portaria da empresa, no bairro Horto, para manifestar. Para tentar conter o protesto, policiais teriam efetuado disparos usando metralhadoras, matando indiscriminadamente.

O ato trouxe a Ipatinga, então distrito de Coronel Fabriciano, representantes do Governo estadual e da Polícia Militar. Uma negociação pôs fim ao manifesto e alguns militares que participaram do massacre foram expulsos da corporação. Contudo, nenhum inquérito foi instaurado e o assunto até hoje é tabu entre os moradores da cidade.

REQUERIMENTO
O requerimento para a realização da audiência pública sobre o Massacre de Ipatinga é de autoria do presidente da associação dos Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais, Edinho Ferramenta. Segundo ele, a intenção é trazer para a discussão vítimas, e também representantes da Usiminas e do Sindicato dos Metalúrgicos, já existente à época dos fatos.

“Destacamos a vinda da Comissão da Verdade por completar 50 anos desse episódio que ainda é um mito em Ipatinga. Essa história não pode morrer”, afirmou Edinho, que ainda adiantou que durante o mês de outubro será inaugurado em Ipatinga um monumento em homenagem aos mortos na chacina e haverá o lançamento de um livro com novos detalhes dos fatos.

GT SINDICAL

A audiência pública está sendo organizada pelo Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, criado pela Comissão da Verdade em parceria com as centrais sindicais brasileiras. O GT apura as violações de direitos humanos, perseguição e políticas que provocaram desemprego e insubsistência dos trabalhadores.

Será a primeira vez que a Comissão se reunirá na região Leste e segunda em Minas Gerais. O local para o debate em Ipatinga ainda não foi definido, mas pelo menos um nome já foi confirmado pela assessoria de imprensa da CMV: o da advogada e mestre em direito penal Rosa Maria Cardoso da Cunha, que chegou a coordenar a Comissão da Verdade entre maio e agosto de 2013.

O evento do dia 7 de outubro faz parte de uma série de audiências e atos de sensibilização por todo o país para envolver o máximo possível de categorias de trabalhadores que possam relatar episódios de repressão no período investigado pela Comissão.

A Comissão Nacional da Verdade foi instituída em 16 de maio de 2012, tendo como finalidade investigar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.


A advogada Rosa Maria Cardoso teve seu nome confirmado para
a audiência de outubro; local ainda não foi definido

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