Cidades

Chuvas causam inundação e prejuízos na Ocupação Macuco

Juliana Vieira de frente à água acumulada na porta de sua casa

Texto e fotos: Nilmar Lage

TIMÓTEO
– As inundações causadas pela chuva estão atingindo em cheio e provocando prejuízos às famílias da Ocupação Macuco em Timóteo.
Juliana Vieira, uma das lideranças da Ocupação disse que foi acordada por sua companheira, Juliana de Paula e de imediato começou a buscar melhor forma de lidar com a situação: “Era por volta de 4h, quando a Juliana acordou com a chuva e me chamou assustada para ver a água tomando conta das ruas”.
Timóteo, assim como outras cidades do Brasil, vive uma crise urbana, exemplificada pelos dados do IBGE de 2010 que confirmam o déficit habitacional de 6.490 unidades, ao mesmo passo que 6.052 domicílios encontram-se vagos. A relação entre o número de domicílios vagos e o déficit habitacional indica que não há somente uma má distribuição das moradias, como também aponta a inadequação do estoque habitacional às camadas sociais de baixo poder aquisitivo.

Juliana Vieira observa a rua, Juliana de Paula, Davi e Marco Antônio posam para foto

MACUCO
O macuco é uma ave com habilidade de sentir o odor de terra exposta (no caso terra úmida facilmente vista quando se cava ou risca um chão de terra) para buscar alimento. A Ocupação Macuco pode ser uma metáfora dessa busca por uma possibilidade de terra para moradia e sustento. Localizada no bairro homônimo, desde 2012, cerca de 100 famílias advindas de diferentes experiências deram novo sentido ao antigo campo do Macuco e lá construíram suas moradias. De maneira espontânea e com os recursos que dispunham, os barracos foram surgindo, mas a falta de infra estrutura básica é uma grande questão para eles. Parte da rede esgoto foi feita pelos próprios moradores, que também organizam a distribuição de água potável, luz e internet. O fato de não serem reconhecidos como parte da cidade, coloca-os em uma situação de invisibilidade social e por conveniência, ficam à mingua com saúde, educação, transporte e lazer.

Moradores pelas ruas da Ocupaçãodo Macuco

PREJUÍZOS
Ao chegar na casa de Maria Lúcia, uma das mais atingidas e que passou o dia limpando os estragos e contabilizando perdas, como colchões e móveis, o cheiro do jantar tomava conta da pequena moradia. Aparentando um mix de sentimentos, entre o desespero e alguma esperança, Lúcia lembra que em maio, no último alagamento, seu filho contraiu Celulite Infecciosa, uma infecção que quando não tratada adequadamente pode evoluir para infecção generalizada e causar a morte. Ainda traumatizada pelos oitos dias que Gustavo passou no hospital, Maria Lúcia disse que acordou com a água molhando o seu colchão, com problemas de visão, a moradora agora consegue rir e relaxar um pouco após o dia tenso, ao lembrar que teve que procurar seus óculos no meio da água tateando com os pés.

SECA E CHUVA
Passava das 20h quando o casal Juliana conseguia improvisar banho quente para as três crianças (desde o último domingo a família de cinco pessoas ocupa provisoriamente um barraco até que a reforma da casa seja concluída). Contudo, Juliana Vieira é outra que conseguia manter certo humor, ao lembrar que sua filha do meio estava sofrendo com alergias por causa do tempo seco e a poeira da casa, momentaneamente ela não tinha que se preocupar com esse fato já que a umidade do ar melhorou com as chuvas. De pé desde antes das 5h da manhã, Juliana disse que apesar de muito preocupada, precisava transparecer calma, principalmente para o filho mais novo, que quando exaltado costuma sofrer variação de pressão arterial.

SEM APOIO

Ela sente que precisa ser para os filhos a segurança que o Estado não tem com sua família e demais moradores da comunidade, “não adianta ligar para a Defesa Civil, eles não vem aqui. Só em caso, Deus nos livre e guarde, de uma tragédia catastrófica”. Apesar da chuva ainda ter continuado por parte da noite desse dia 02, foi possível passar uma noite menos tensa e com mais horas de sono, pois não houve mais alagamentos.
Na próxima semana está agendada uma visita do Ministério Público para um relatório sobre a situação do despejo da ocupação, certamente preocupada, mas esperançosa, Juliana vê como positivo o fato de hoje haver uma associação de moradores do bairro Macuco. Na associação, dois moradores da ocupação fazem parte da diretoria. “Ainda não somos um bairro, mas é um reconhecimento importante porque eles são as vozes da ocupação”, afirma com um leve sorriso, Juliana.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com