Opinião

Bolsonaro quer que Biden reduza barreira ao aço que Trump criou

Na Cúpula das Américas, presidente brasileiro quer pedir a Joe Biden redução das barreiras ao aço brasileiro, criadas por Trump em 2018

Fernando Benedito Jr.

Curiosamente, uma das pautas do presidente brasileiro na Cúpula das Américas é um pedido a Joe Biden para reduzir as barreiras ao aço brasileiro impostas pelo aliado de Bolsonaro, o ex-presidente Donald Trump. Os democratas não prestam, o presidente brasileiro sequer teve a educação de cumprimentá-lo pela eleição, passou a maior parte do tempo bajulando Trump, que o esfolava, mas, agora, quer pedir ajuda ao adversário. Talvez consigam fazer algum negócio. Joe Biden quer arrancar de Bolsonaro um compromisso com a democracia e com o resultado que vier das urnas este ano. O único problema é que Bolsonaro não sustenta em pé o que disse sentado. Portanto, é provável que as barreiras alfandegárias sobre o aço persistam.

ARGUMENTO

Um dos argumentos para a retirada das barreiras de importação ao aço brasileiro para os EUA, criadas pelo ex-presidente Donald Trump em 2018 é que as medidas atuais acabam beneficiando a Rússia. A mesma Rússia que Bolsonaro visitou dias antes da deflagração da guerra contra a Ucrânia e que Bolsonaro tanto bajulou. Para continuar mantendo o apoio do agro, Bolsonaro defendia que a Rússia era uma amizade imprescíndivel para o fornecimento de fertilizantes ao Brasil.

Esta é a política externa brasileira. Não tem qualquer lógica, nem alinhamento, é governada pelos interesses imediatos e sem qualquer compromisso com quem quer que seja. O inimigo de ontem pode ser o amigo de hoje e vice-versa e o reverso.

SEÇÃO 232

Como medida protecionista, os EUA criaram uma sobretaxa de 25% ao aço importado, em uma medida chamada de Seção 232. O Brasil, assim como alguns outros países, obteve uma cota de exportação de aço livre desta cobrança, e o pleito agora é que esse limite seja ampliado, extinto ou que o país pague uma alíquota menor, segundo diplomatas brasileiros envolvidos na preparação do encontro.

Um dos produtos mais exportados pelo Brasil são placas de aço semi-acabado, cuja cota atual é de 3,5 milhões de toneladas anuais. A produção dessas placas usa carvão metalúrgico vindo dos EUA. Assim, a ampliação da cota levaria a um aumento de empregos também em estados como a Virgínia, que exporta US$ 400 milhões do material ao Brasil por ano, argumentam negociadores brasileiros.

DEMOCRATAS

Diplomatas buscam também apoio de parlamentares democratas para a mudança, que podem ajudar a convencer Biden sobre a alteração. Outro argumento é que a ampliação de exportações brasileiras poderia fazer com que os EUA comprem menos aço da Rússia, que segue como um dos principais fornecedores do material para a indústria americana.

Quando presidente, Trump adotou várias medidas protecionistas para conter importações, sob argumento de que pretendia preservar empregos nos EUA. Biden, há um ano e meio no cargo, ainda mantém várias daquelas medidas em vigor.

NEAR-SHORING

No entanto, após a pandemia e a Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos passaram a falar em near-shoring, um movimento de trazer para mais perto indústrias e cadeias de produção espalhadas pelo planeta, em um movimento que pode beneficiar a América Latina. O governo americano espera que isso, além de melhorar a economia da região, também ajude a desestimular a migração de latino-americanos rumo aos EUA.

Na terça, o governo americano anunciou que dez empresas americanas farão investimentos totais de US$ 1,9 bilhão em países da América Central. A lista de novos empreendimentos inclui redes de banda larga fixa e de telefonia móvel, expansão de pagamentos digitais, fábricas de roupas e autopeças e plantações de banana e abacate.

PAUTA

Além do aço, a pauta da conversa entre os dois presidentes pode incluir a recuperação econômica pós-pandemia, insegurança alimentar e a crise climática, mas a lista final de tópicos será definida pelos dois. Sobre a reunião, um representante da Casa Branca disse que é notório que há desentendimentos com o governo brasileiro, mas que a conversa deverá ser sincera e direta, já que os países possuem muitos interesses e preocupações em comum.

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