Cultura

Ator ipatinguense é jovem Rei do Baião em Gonzaga – De Pai pra Filho

IPATINGA – O ipatinguense Land Vieira, 20 anos, morador do bairro Canaazinho é o intérprete do jovem Luiz Gonzaga em “Gonzaga – de Pai pra Filho”, novo filme de Breno Silveira, que conquistou o Brasil com o sucesso de “2 Filhos de Francisco”, apresentou também em 2012 “À Beira do Caminho”, com canções de Roberto Carlos, e chega agora com outro filme com a música brasileira servindo de pano de fundo, no caso, as cantadas por Gonzagão e Gonzaguinha.
O ator Land Vieira iniciou a carreira nas artes cênicas na Escola de Teatro do 7 de Outubro e no Grupo Farroupilha. Atualmente trabalha com o grupo Casa Laboratório. De Ipatinga foi para o Rio de Janeiro tentar a sorte, assim como o personagem que interpreta no filme. Fez teatro na Casa de Artes Avancini. “Depois de algum tempo, quando o cerco começou a fechar e estava quase voltando para Ipatinga surgiu a oportunidade de participar do concurso Procura-se um Príncipe, do programa TV Xuxa, para escolher o par romântico de Sacha no último filme da apresentadora”, conta Land, lembrando que na época ficou em segundo lugar no concurso. Não ficou com o papel, mas conseguiu se fazer notar. “Durante o concurso me chamaram para fazer a novela Cama de Gato. Eu fiz o Tarcísio, que era o filho da Camila Pitanga, um rapaz surdo, que era músico, tocava piano. Depois disso fiz Cordel Encantado, interpretando Timbungo. Em seguida fiz uma participação em Gabriela e, agora, no filme. Estes foram os trabalhos de maior destaque na mídia nacional”, sublinha.

A PERSONAGEM
“No filme eu faço o Luiz Gonzaga dos 17 aos 23 anos. Interpreto o Luiz Gonzaga em Exu, saindo da cidade dele e indo para Fortaleza, onde entra para o exército. Faço toda essa parte da vida dele. Este é meu segundo papel com este perfil musical. O primeiro foi Tarcísio, em ‘Cama de Gato’, que tocava piano; e o segundo foi esse, tocando sanfona.
“Para interpretar Gonzaga tivemos um preparador de elenco, que foi o Sérgio Penna, também preparador do Rodrigo Santoro em diversos papeis e de vários outros atores. Ele é um dos melhores da área. Tive a oportunidade de trabalhar com ele, de ter alguns encontros com os outros ‘gonzagas’ para poder unificar o personagem, pegar o mesmo cacoete um do outro para deixar homogênea a personagem do Rei do Baião. Tive só umas três ou quatro aulas de sanfona com o Chambinho do Acordeon, que faz o Gonzaga depois de mim.
“O Sérgio Penna promoveu vários encontros com o Chambinho, mais do que com o Adélio – que faz o gonzagão mais velho. E assim, tive a oportunidade de aprender com o Chambinho, muito pouco porque foram poucas aulas, mas foi uma experiência muito rica, além de pegar alguns cacoetes deles. Mas, o trabalho de construção do meu personagem se deu mesmo a partir do primeiro amor de Luiz Gonzaga, que foi a Nazinha, da alma do sanfoneiro, da alma de músico à frente de sua época e esse lance do orgulho que ele tinha do pai, que ele tinha de ser sanfoneiro igual ao pai, de ir em busca de um sonho e mostrar para as pessoas e que ele era digno e que ser sanfoneiro era uma profissão digna. Então a gente trabalhou o personagem a partir deste tripé. Tive também alguns encontros com a produção para discutir era o relacionamento entre pai e filho. Não conta no filme, mas na vida real eles (Gonzagão e seu pai) já estavam juntos há uns dois anos, quando aconteceu dele enfrentar o pai na feira”.

A DIREÇÃO
“Foi muito gratificante também trabalhar com o [diretor] Breno Silveira que estava em todos os ensaios e todo os encontros do elenco. A gente foi gravar na Feira de São Cristóvão, no Rio, e ele estava na Feira. Chegava pra mim e falava: ‘Vai lá atrás de sua Nazinha’. Mandava a menina andar e a menina sumia no meio da multidão na Feira e eu tinha que procurá-la. Foi um trabalho muito gostoso. Ele é um profissional muito dedicado, muito, muito cuidadoso. Geralmente quando se tem um set de filmagem chega a equipe de produção e monta tudo, só depois é que chega a direção com o elenco. O Breno chegava uma hora, uma hora e meia antes, marcava tudo, escrevia no chão onde ia colocar as coisas [câmeras, iluminação, etc]. Quando a equipe chegava já estava tudo pronto, tudo marcado, não tinha que ficar olhando onde ia fazer o plano [captação da imagem dos atores]. Ele tem uma dedicação ao trabalho muito grande, é muito sensível. Eu fui perguntar pra ele porque ele fazia isso e ele falou que era porque depois que já estava tudo montado, tudo certo, ele tinha mais condições de conversar com os atores e explicar o que queria deles. O cara é um gênio, virei fã mesmo”.

CONVITE PARA O FILME
“Eu estava em Cordel Encantado e cerca de um mês depois que havia acabado as gravações, me ligaram dizendo que era para fazer um teste do filme do Luiz Gonzaga. Não sabia que eu ia fazer, não tinha idéia de nada, mas pesquisei sobre o Luiz Gonzaga. Pensei: é uma coisa nordestina, então vou chegar lá com algum sotaque. Além disso, não conhecia muito da música e achei que não parecia com o Luiz Gonzaga. Fui desacreditado, mas decorei meu texto, vou dar o meu máximo, mas vou deixar como material para a produtora. Fui preparado para fazer um teste, mas não para passar. Fiz o teste e me ligaram uma semana depois para uma segunda etapa. Cheguei lá, tiraram meu bigode, minha barba, que usava para fazer o personagem do Tibumgo, em Cordel. Eu estava com o cabelo black, um bigodão e uma barbicha. Me perguntaram se podiam tirar para ver como ficava, deixei, porque já tinha terminado o trabalho anterior que precisava dessa caracterização. Aí me perguntaram seu podiam cortar o cabelo, falei que o cabelo eu queria segurar um pouco porque tinha outro trabalho em vista e não sabia se precisaria dele curto ou grande. Deram uma amassada no cabelo e subi para o palco, quando subi já estavam lá o Chambinho e o Adélio e mais três rapazes que faziam o teste disputando o papel comigo. Ficamos um ao lado do outro e eles [a produção] ficaram olhando pra gente um pouco. Depois pediram que fizéssemos a interpretação do texto. Quem assistiu ao teste foi Chambinho, Adélio, Sérgio Pena, Breno Silveira e Cicele Santa Cruz, que é produtora de elenco. Fiquei nervoso pra caramba, fiz o teste e eles acabaram me chamando, graças a Deus! Até à leitura não estava resolvido, fui eu e outro rapaz. Depois da leitura decidiram por mim e ficou tudo resolvido.

O SUCESSO COM A REPERCUSSÃO DE “GONZAGA”
É difícil acreditar que eu tenha feito um filme desta dimensão. Falando assim por alto não se tem noção do que o Luiz Gonzaga significou no Nordeste. Lá ele é endeusado, é um santo. Tem estátua e as pessoas rezam pra ele. Fiquei honrado. Nego sempre fala comigo: ‘Agora tem o peso desse papel’. Não gosto de falar de peso, quero falar de honra mesmo. Me sinto muito honrado de fazer um personagem deste. Já quanto ao filme eu acreditei que ia ‘bombar’ porque tudo conspirou: é o ano do centenário, os estudantes estão fazendo trabalhos sobre o Luiz Gonzaga… Depois que comecei a pesquisar sobre a vida dele, nos laboratórios, o Breno colocava um toca-fitas para gente ouvir alguns depoimentos dele, então, a gente ia se emocionando e se apaixonando cada vez mais pela história. Eu tinha a certeza de que ia atingir um público bom. É um filme que conta muito a história do brasileiro, tipo ”Dois Filhos de Francisco”, quem assiste dificilmente não se identifica com alguma coisa ali. A luta por um sonho, o amor do pai pela carreira do filho, ver o filho se dar bem. Acho isso o máximo, tem muito a ver comigo também, que sai daqui e fui pro Rio de Janeiro atrás de um sonho. Me identifiquei muito com a história dele, muito, muito… Eu fiz essa parte da história em que ele sai da cidade dele para ir em busca do sonho. Então, eu fiquei muito feliz.

RELAÇÃO ENTRE GONZAGÃO E GONZAGUINHA
Sempre foi complicada. Não gosto de colocar a culpa em nenhum deles, mas acho que foram prioridades da vida de cada um que acabou virando uma bola de neve. Uma coisinha aqui, outra ali, foi se acumulando, acumulando até atingir a proporção que teve. Não acho que o Gonzagão desprezasse o filho porque tivesse dúvida se era filho dele de sangue ou não. Acho que ele focou tanto nessa coisa de mostrar pro mundo que ser sanfoneiro era o máximo, que era importante levar a cultura dele pra outro lugar, que ele foi se distanciando. Não que ele não gostasse do filho, era o jeito dele. Não era apegado às pessoas, tanto que vivia brigando com a Adaleia que foi uma das esposas dele. Ele teve várias mulheres, tinha fama de mulherengo, ele não tinha apego às pessoas e Gonzaguinha se sentia muito mal com isso. E tinha Helena, uma das esposas do Gonzagão que não gostava dele, achava ele um bastardinho. Gonzaguinha, então, passou a viver com Dina e cresceu lá e tinha Dina como mãe e Xavier como pai. Até que tentou sair pro tráfico e Gonzagão deu um jeito de levar ele para um colégio interno. Gonzaguinha foi crescendo com aquele rancor, ‘pô, porque ele não me pegou pra cuidar, porque me colocou num colégio interno’. Ele queria carinho. Cada um fez sua limonada. No final acabaram se juntando, deixaram de lado o orgulho e deu tudo certo. Não sei como seria com os dois se não tivessem feito aquela turnê, ‘Vida de Viajante’.

O FUTURO
Já apareceram algumas propostas, mas eu estou estudando. Não são da Globo, mas estou analisando. No teatro, fiz o espetáculo “O Que Querem as Mulheres”. Tem o espetáculo “O Que Querem os Homens”, com um elenco todo feminino. E a gente quer fazer “Guerra dos Sexos”, mas como tem uma novela com este título, então, devemos mudar o nome. Este é um projeto da Casa Laboratório, do João Carlos Cardoso e equipe. A idéia é fazer um trabalho com um elenco masculino, um feminino e depois juntar todo mundo. Na sexta-feira encenamos “O Que Querem os Homens”, no sábado “O Que Querem as Mulheres” e no domingo “Guerra dos Sexos”. É um projeto bacana, mas deve ficar para meados do próximo ano.

TEATRO, CINEMA OU TV?
Fiquei apaixonado pelo cinema. Gostei muito do cinema. Quero fazer mais cinema e TV. Eu gosto muito daquela correria, estúdio, externa, 45 cenas por dia. É tudo muito louco. Não gosto de ficar parado. Onde tiver um lugar para mostrar a arte estou lá. Todo artista tem de ir aonde o povo está. Isto é uma frase de Luiz Gonzaga: “Eu vou tocar pro povo!”

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