Cidades

Após sete anos, Chacina de Belo Oriente ainda é ‘mistério’

Reportagem publicada pelo jornalista Rodrigo Neto em 14 de janeiro de 2010: todo “aniversário” da chacina, radialista fazia questão de cobrar respostas

Enquanto o assassino do detetive Lahyre está preso após ser condenado a 14 anos, autores da matança que vitimou família de Juliano Ferreira não foram sequer identificados

BELO ORIENTE – Há sete anos, dois meses e um dia, acontecia em Belo Oriente um dos crimes mais bárbaros da história do Vale do Aço: uma chacina que ceifou a vida de três pessoas e que até hoje permanece sem elucidação.

O repórter Rodrigo Neto, executado em Ipatinga há uma semana com três tiros, denunciou à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado a participação policiais no crime. O jornalista acompanhou o desenrolar da história e sempre buscou, por meio de seus trabalhos, rememorar o caso em busca de soluções.

Quando a tragédia completou um ano sem solução, Rodrigo apresentou um programa especial sobre o caso na rádio em que trabalhava.

Foram assassinadas Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, o filho dela, Paulo Felipe Cândido Alves Ferreira de 16 anos, e Heraldo Ciro de Souza, de 25 anos, genro de Terezinha. Elas dormiam no momento em que a residência foi invadida por cinco homens armados que disparam contra os moradores. Além das vítimas fatais, estavam na casa Ana Cláudia Cândido, de 19 anos, que estava grávida de oito meses e uma criança de cinco anos. As duas escaparam da matança.

Os três mortos eram, respectivamente, mãe, irmão e cunhado de Juliano Batista Ferreira, que meses antes havia tirado a vida do detetive da Polícia Civil, Lahyre Paulinelli. Após uma discussão com Lahyre, Juliano procurou o policial em sua residência e efetuou quatro disparos contra o detetive, que não resistiu aos ferimentos. Após o crime, Juliano conseguiu fugir, mas sua família passou a ser misteriosamente retaliada.

O primeiro indício de perseguição aconteceu três dias após a morte de Lahyre, quando o pai, a mãe e a irmã de Juliano foram internados com um quadro de intoxicação alimentar provocada por veneno usado para matar ratos. Momentos antes da internação, policiais estiveram na casa de Juliano à procura do então suspeito de matar o detetive.

Após um mês do assassinato de Lahyre, o irmão mais novo de Juliano, Paulo Felipe de Oliveira Ferreira, sofreu uma tentativa de homicídio no Centro da cidade. Ele foi alvejado com dois tiros nas costas, encaminhado ao Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, e sobreviveu.

Juliano foi encontrado no fim de 2005, na cidade de Cacoal, em Rondônia. Apurações da Polícia Civil deram conta da existência de familiares do assassino do detetive na região. Após averiguações, Juliano foi encontrado em uma fazenda e trazido para o Vale do Aço.

Entretanto, mesmo com a prisão, as retaliações contra a família não terminaram e no início de janeiro de 2006, outro irmão de Juliano, Jardel Cândido Alves Ferreira, foi assassinado por dois homens encapuzados enquanto estava em um bar de Belo Oriente. Já no dia 14 de janeiro do mesmo ano viria a acontecer o episódio mais trágico desta história: a chacina.

O caso provocou comoção na região e trouxe para o Vale do Aço policiais da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte, que assumiram as investigações do crime. A hipótese de que policiais tenham participado da chacina sempre foi considerada. O delegado Fausto Ferraz foi o responsável pelo inquérito e concluiu as investigações pouco antes de se aposentar, em meados de 2012: ninguém foi indiciado. Os autos foram remetidos à Comarca de Açucena, mas não apontou nenhum culpado.

Em março de 2008, Juliano foi condenado a 14 anos de prisão e encontra-se preso na Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem. Os parentes de Juliano que sobreviveram ao massacre não moram mais em Belo Oriente e chegaram a ser incluídos em um programa de proteção a testemunhas. Na cidade, a rua onde está localizada a delegacia da Polícia Civil leva o nome do detetive Lahyre Paulinelli, morto por Juliano.


Um dos membros da família se escondeu no guarda-roupa: não adiantou

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