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Após escândalo de roubo, Aapec encerra as atividades

Sede da Aapec, no Cidade Nobre

IPATINGA – A Associação de Assistência às Pessoas com Câncer (Aapec) encerrou definitivamente as atividades. A entidade existia desde 2003 com a suposta finalidade de atender a pacientes com câncer, mas uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), formado por representantes do Ministério Público, Polícia Civil e Militar, desvendou o real objetivo da associação: enriquecimento ilícito.

No mês passado, o grupo descobriu que a associação nada mais era que uma fachada para uma quadrilha que usava o nome Aapec para angariar doações da população em benefício próprio. Treze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público de Ipatinga pelos crimes de estelionato, contra a economia popular, lavagem de dinheiro e peculato.

O Promotor de Justiça Bruno Schiavo, representante do Ministério Público no Gaeco, explicou que o MP irá entrar com uma Ação Cível para resolver o problema da Aapec, que parou de funcionar devido ao escândalo descoberto.

“Atualmente foram nomeados dois administradores judiciais, um deles não aceitou, o outro iniciou os trabalhos, mas também não conseguiu continuar. Então hoje nós temos uma associação inativa. Na realidade, não há um administrador na entidade, de forma que por cautela o contribuinte não deve doar nada para a Aapec. Existem outras em Ipatinga que dependem disso. A Aapec por enquanto não está funcionando”, esclareceu.

DENUNCIADOS
Entre os denunciados estão a presidente vitalícia da Aapec Zilma Ferreira da Silva, o filho dela, Eduardo Silva de Souza e a mulher dele, Dafny Sá Domingos. Ainda foram acusadas pessoas que trabalhavam na gerência e prestadores de serviço: Indiamara Brunetti Boaventura Domingos, Orione Dias Queiros e Thiago Pedro da Silva, Adnaldo Cardoso Gomes, Maria Cecília Lima de Oliveira, Flávia Magalhães Fernandes, Aline Moreira Lourenço, Pedro Rogger Modesto Pimentel e Ritchelly Sá Domingos.

Todos os denunciados respondem ao processo em liberdade. Mas segundo o promotor de justiça, bens adquiridos foram apreendidos e as contas bancárias estão bloqueadas. “Os denunciados não conseguem movimentar as contas, ou utilizar qualquer tipo de bem que foi apreendido. Com relação às prisões, elas foram deferidas em Ipatinga, mas os acusados obtiveram junto ao TJ liminares em habeas corpus. A decisão de soltá-los não partiu de Ipatinga, mas da segunda instância, que entendeu de forma diversa e aplicou aos denunciados algumas medidas. Algumas pessoas ainda têm que ficar em casa, e caso descumpram as determinais judiciais provavelmente poderão voltar à prisão”, disse Schiavo.

ACUSAÇÕES

O escândalo da Aapec foi descoberto durante uma operação denominada “Carcinona”, em agosto passado. Na ocasião, foram ouvidos diversos denunciantes que relataram a existência de inúmeras irregularidades na gestão da entidade. No curso das investigações foram realizadas diversas interceptações telefônicas.

“Durante as investigações, foi possível constatar que os denunciados se dedicavam com habitualidade à prática de crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, peculato, crime contra a economia popular, constituindo uma verdadeira organização criminosa, voltada para a prática de desvios e ocultação de numerários pertencentes à Aapec, sendo tais irregularidades praticadas pela presidente da associação, por seus gestores, bem como por funcionários de outras empresas ligadas à Aapec, de forma direta ou indireta”, diz trecho da denúncia.

Além de Ipatinga, a entidade tinha sede em Viçosa, Governador Valadares e Sete Lagoas. Segundo o promotor de Justiça Bruno Schiavo, a rede criminosa atuava em mais de cem municípios mineiros em volta dos municípios sedes. Os pedidos de doações eram feitos por uma empresa criada com a única finalidade de pedir dinheiro à população. No caso de Ipatinga, a Aapec possuía convênio com o município.

ARRECADAÇÃO

De acordo com as investigações o dinheiro chegava em espécie de diversas cidades mineiras e, antes que fosse contabilizado, os administradores se apoderavam dele para pagamento de despesas pessoais, como viagens, alimentação, personal trainer, festas, seguro, água, luz, cartão de crédito, entre outras. “A arrecadação da Aapec em todas as cidades era de mais ou menos R$ 1 milhão por mês. A quantia efetivamente empregado aos doentes era cerca de 15%. A vida luxuosa dos denunciados era toda custeada por pessoas de boa fé que infelizmente foram enganadas e doavam achando que estavam ajudando doentes”, enfatizou.

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