Cidades

Agora é o SAMU que pede socorro

Ambulâncias do SAMU estão precisando de manutenção e falta de equipe completa prejudica o atendimento

 

IPATINGA – As provas de que o governo Robson Gomes (PPS) vai de mal a pior não param de vir a público. Depois de paralisar a educação e a limpeza pública, e ainda comprometer o atendimento no Hospital Municipal Eliane Martins, agora a crise afeta o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
O corpo clínico da unidade protocolou no Ministério Público e no Conselho Regional de Medicina documento contendo uma série de irregularidades na gestão do serviço, com assinatura da maioria dos médicos. Os problemas vão desde a falta de mão-de-obra até a desativação do software que registrava as ligações recebidas pelo 192.
“A ausência dos registros (gravações) das chamadas para serviços e das orientações médicas impedem o funcionamento do serviço, pois ficamos expostos às ameaças, que não são gravadas. Além de comprometer a possibilidade de uma eventual defesa, devido ao fato de que as gravações, a técnica e o protocolo da regulação colaboram nas estatísticas das ocorrências quando associadas ao sistema de informática, que também se encontra inoperante”, registrou o documento.
Os médicos atestaram ainda que nos últimos quatro meses a rotina mudou, pois as ambulâncias nem sempre estão disponíveis para serem utilizadas como deveriam, falta equipe completa de profissionais especializados, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e condutores socorristas.
“Como não está autorizada a fazer horas extras, a falta de equipe resultou na desativação de quase metade das ambulâncias. Assim, não temos condições de prestar atendimento adequado à população, colocando em risco iminente os que venham necessitar do nosso trabalho, o que poderá aumentar o número de óbitos pela ausência desse atendimento”, denunciam os médicos no documento. Ao final, os profissionais da saúde pedem que a promotoria e a sua entidade de classe se posicionem para tentar para sanar os problemas.

VERACIDADE
Todas as reclamações levadas ao conhecimento do MP e do CRM foram confirmadas pelo médico concursado Adalberto Dias Campos, ouvido pela reportagem do DIÁRIO POPULAR. Ele trabalha no SAMU há seis anos e relatou nunca ter presenciado uma situação de precariedade como a dos últimos quatro meses. Sem o suporte da área de informática, os médicos se sentem expostos.
“Todos os formulários estão sendo preenchidos à mão, porque o sistema interno do SAMU não funciona. Isso porque os computadores apresentam falhas por falta de manutenção. Outro problema é a falta da gravação dos atendimentos telefônicos. Se o paciente morrer em casa e alegar que houve omissão de socorro, como vamos nos defender?”, questionou.
Ao todo, o SAMU possui 23 médicos. Contudo, parte desse efetivo foi desviado da função para trabalhos administrativos ou estão atendendo no Hospital Municipal.

ATENDIMENTO
Normalmente, quem aciona o 192 é atendido por uma Telefonista Auxiliar de Regulação Médica (TARM), profissional responsável pela identificação do solicitante com nome, situação do paciente e endereço da ocorrência. Em seguida, a chamada é repassada ao médico para um prognóstico. Enquanto isso, um segundo profissional denominado de Operador de Rota aciona via rádio a unidade do SAMU mais próxima do requerente.
É essa metodologia que garante o tempo de resposta pré-hospitalar capaz de salvar vidas em situações de emergência, como nos casos de acidentes de trânsito. Pelo protocolo do SAMU, com o atendimento rápido, o tempo de internação desse usuário diminui. “Estamos sem operador de rota, e isso prejudica muito a qualidade do atendimento. Além da telefonista que atende os chamados, ela precisa acionar as unidades do SAMU descentralizadas. Mas, enquanto faz isso, o telefone não para de tocar. Continuamos recebendo diariamente 150 chamadas”, comentou o médico.
O atendimento não está comprometido apenas em função da falta de mão-de-obra. Com vocação para atender a demandas de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica e de saúde mental da população, falta material para entubar e drogas básicas para sedar pacientes, como é o caso de usuário que esteja sofrendo enfarto.

SEGURANÇA
Sem o aparelho de gravação e com desativação de duas ambulâncias em vários dias da semana, os médicos temem pela sua segurança, já que a central de regulação do serviço do SAMU fica a poucos metros do Hospital Municipal e não há no imóvel segurança capaz de garantir a integridade física dos funcionários. “Sem as gravações e a documentação digital dos registros, temos falsas verdades. Mas o pior é que os dados enviados ao Ministério da Saúde não são reais. Não atendemos a todos os chamados, e quando informamos que não tem como enviar a ambulância, o usuário não entende. A ambulância está parada aqui em frente”, disse.

RECURSOS
A equação financeira de funcionamento do SAMU é: 50% de recursos da União, 25% governo estadual e outros 25% do município. A gestão pelo menos deveria ser assim. Só que a Prefeitura alega que os repasses de R$ 120 mil mensais do Estado e da União para manter o serviço não pagam a conta.
O SAMU custa hoje cerca de R$ 300 mil ao mês. O município recebe aproximadamente R$ 35 mil do Estado e R$ 84 mil do governo federal. Somente a folha de pagamento dos funcionários custa cerca de R$ 260 mil. Os demais gastos somados – água, luz, telefone, manutenção das ambulâncias e combustível – somam quase R$ 50 mil.
As informações obtidas pela reportagem é que parte dos repasses é calculada com base no número de habitantes do município (para custear a central de atendimento) e parte tendo como referência o número de ambulâncias que o município possui.

FROTA
Em Ipatinga, o SAMU tem quatro ambulâncias, uma equipada como vários aparelhos e identificada como UTI Móvel e outras três classificadas como USB – Unidades de Suporte Básico. Para os casos mais urgentes, a equipe empenhada é composta por médico, enfermeiro e o motorista socorrista Nas demais, são escalados apenas dois técnicos de enfermagem e o motorista socorrista.
As unidades móveis de Ipatinga foram substituídas em 2007, e devido ao longo tempo de uso, necessitam de substituição. Recentemente, a porta de um dos veículos caiu em frente ao Hospital Municipal enquanto levava um paciente para atendimento.
A inoperância do governo Robson Gomes (PPS) é tamanha que não conseguiu preencher a documentação para doar as unidades reservas – ambulâncias com mais de 250 mil km rodados – ao município, e assim solicitar ao governo federal a sua substituição.


O médico Adalberto Dias confirmou todas
as denúncias feitas ao Ministério Público e
ao Conselho Regional de Medicina (CRM)

 

Secretário desmentiu problemas no serviço
Ipatinga –
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que é improcedente a denúncia de que o sistema de informatização da Central de Operações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Ipatinga foi desativado.
“O que houve foi uma falha técnica, com correção em andamento. Em relação à escassez de efetivo, essa não é uma carência somente de Ipatinga, mas em todo o País”, alegou.
Diante da impossibilidade de remunerar funcionários por horas extras, de acordo com decreto nº 7.285 de 8 de agosto de 2012, o secretário de Saúde, Wagner Barbalho, estuda forma de compensar a demanda junto ao governo Estadual e Federal.
A uma rádio local, o secretário de saúde também desmentiu as informações de que as unidades do SAMU estejam paradas. Ele declarou que o serviço funciona normalmente e que ainda vai contratar quatro novos condutores socorristas.

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