Policia

“Viúva Negra” e amante são condenados a 15 anos de prisão

Cabisbaixos, réus (à esquerda) ouvem a sentença que os condenou a 15 anos de prisão     (Créditos: André Almeida)

IPATINGA – Foram condenados a 15 anos de prisão os amantes acusados de mandarem assassinar um gerente de restaurante no final do ano passado, no bairro Bela Vista. Nayza Nelle Silva Graças, 32, e Cleidiomar Ferreira Dornelas, 30, receberam o veredito no início da noite desta quinta-feira (24).

O caso em questão foi o homicídio cometido contra Wallace Junio das Graças, 34. Ele foi morto na avenida Vinte e Seis de Outubro por um motociclista que, simulando um assalto, disparou seis vezes contra o homem e levou apenas R$ 2 em dinheiro.

A princípio, as investigações apontaram que o crime era um latrocínio – roubo seguido de morte. Nayza, a única testemunha do fato, contou que dirigia o veículo do casal quando foram abordados pelo suposto assaltante.
Entretanto, dois meses após o assassinato, a Polícia Civil concluiu o inquérito e conseguiu apurar que Nayza Nelle e Cleidiomar foram os responsáveis pelo mando do crime, que foi cometido por um menor de idade.

PLANO

Segundo o relatório da Polícia Civil, o crime foi planejado com três meses de antecedência. O adolescente foi contratado pela quantia de R$ 1.200, pagos em parcelas de R$ 400, e a moto utilizada no dia do assassinato era do pai de Cleidiomar, que também forneceu a arma usada.

Ainda segundo o inquérito, no dia do fato, a esposa conduzia o carro a 50 quilômetros por hora, estratégia utilizada para facilitar a abordagem do motoqueiro. Wallace foi alvejado com um disparo no peito, quatro nas costas e mais um, dado à queima roupa, na cabeça.

Em 7 de fevereiro, o casal foi preso e confessou o crime, em uma operação denominada “Viúva Negra”. O casal foi mantido no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga desde então, aguardando a realização do Júri Popular.

SESSÃO

O julgamento teve início às 9h da manhã e se estendeu por toda a tarde, ultrapassando as nove horas de duração. Na primeira parte, foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, além dos próprios réus. Em um segundo momento, foi a vez dos advogados e promotoria tentarem convencer os jurados da inocência e culpa dos acusados.

Cleidiomar foi defendido pelo advogado Kaster Lúcio Rodrigues Abreu e Nayza pelo criminalista José Constantino Filho. Já a acusação ficou sob responsabilidade do promotor Francisco Angelo Silva Assis. A sessão foi presidida pelo juiz da 2ª Vara Criminal, Antônio Augusto Calaes.

ACUSAÇÃO E DEFESA

O Ministério Público pediu que o casal fosse condenado por homicídio duplamente qualificado e tentou demonstrar aos jurados que Nayza Nelle e Cleidiomar agiram de forma cruel ao planejar e contratar a morte de Wallace.

Já a defesa do casal tentou abrandar as penas sob alegação de que, no caso de Nayza, o crime foi cometido em um momento de desespero, uma vez que a mulher era vítima de violência doméstica e teria sido estuprada pelo marido e também sofrido um aborto em função das agressões de Wallace. Os dois foram casados por 15 anos e tiveram dois filhos. Um deles testemunhou na sessão de ontem e confirmou que o pai era um homem violento.

A defesa de Cleidiomar usou a tese de que o homem teria sido cúmplice do crime porque estava apaixonado pela amante, mas que, antes, havia tentado convencê-la a não partir para a medida extrema.
Reconhecendo a culpa do cliente, o advogado pediu que os jurados o absolvessem ou que considerassem o crime como um homicídio privilegiado para que a pena fosse reduzida em até um sexto.

MORTE NÃO É SOLUÇÃO

A promotoria rebateu dizendo que problemas de casal não podem ser resolvidos com o assassinato de um dos cônjuges. O promotor ainda questionou as alegações de Nayza e pediu que fossem mostradas provas das acusações feitas contra Wallace.

Ao final de horas de embate, os jurados se reuniram e votaram pela culpabilidade dos réus, que foram sentenciados a 15 anos de reclusão em regime fechado, cada um, sem o direito de recorrer em liberdade.
Após a sessão, os advogados não souberam dizer se iriam ou não entrar com recursos contra a sentença, mas que a possibilidade seria estudada. “Nós vamos agora averiguar se vai ser benéfico recorrer da sentença”, disse Kaster. “Ainda é cedo para decidir isso”, complementou José Constantino.

FAMÍLIA

A família e amigos de Wallace estiveram presentes durante toda a sessão no Fórum de Ipatinga. Ao final, a mãe, Sônia Maria das Graças Silva, 52, disse que não estava totalmente satisfeita com a sentença. “Eu queria mais. Vivi um momento desesperador, mas agora é esperar a justiça divina”, afirmou.

Já o promotor Francisco Ângelo considerou a pena para o casal razoável e destacou que o casal foi considerado culpado das acusações feitas pelo Ministério Público. “Tudo que o MP pediu foi acatado pelo Conselho de Sentença”, explicou.

O casal aguarda a atuação da Vara de Execuções penais para ser transferido para uma penitenciária e iniciar o cumprimento da pena.


Usando camisa com imagem do filho, Sônia Maria disse que
considerou a pena baixa: “Eu queria mais”

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