Cidades

Vacinação a conta-gotas e mortes por covid às centenas

Sem vacinas e sem isolamento social, resta aos ipatinguenses a opção de morrer calados. Tão calados quanto a maioria da Câmara Municipal em seu alinhamento incondicional ao prefeito

(*) Fernando Benedito Jr.

Com uma população estimada de 265.409 pessoas em 2020 e em 239.468 almas conforme o último Censo, realizado em 2010, o município de Ipatinga atingiu nesta terça-feira (13) a marca de mais de 604 mortos pela covid-19 – o que diminui a contagem do IBGE. Por outro lado, tem-se um total de 29.240 pessoas vacinadas contra o coronavírus e suas variantes – com a primeira dose, o que não garante a imunização completa. Ao baixíssimo índice de cobertura vacinal diante de uma mortalidade devastadora e de altos índices de contaminação diária, soma-se a lentidão do processo de imunização.

A principal alegação, enquanto as pessoas morrem cada vez mais próximas do círculo de familiares e conhecidos, é que não existe vacina, a demanda mundial é alta e é praticamente impossível que consórcios de estados e municípios consigam comprar vacinas mais rápido ou que disponham de mais recursos que o Ministério da Saúde para esta empreitada. Mas, no caso de Ipatinga, nem tentam. Sequer tocam no assunto. Parece ser uma hipótese descartada a priori e sobre a qual é proibido falar. Também é proibido se falar em lockdown total e em medidas mais rígidas de isolamento. Ocorre que estas são as duas únicas formas de conter o avanço do vírus, pelo menos nos atuais níveis de contaminação e óbitos na cidade. Então, nos resta a opção de morrer calados.

Tão calados quanto a Câmara Municipal, por exemplo. Com raríssimas exceções, a maior parte dos vereadores pratica um silêncio tumular em nome do alinhamento incondicional com o governo em troca sabe-se lá de quê, já que o máximo que conseguem é uma foto ao lado do prefeito. Outras eventuais benesses como um cargo aqui e outro ali, facilidades na máquina da burocracia municipal ou mercadorias de menor valor não valem a pena diante do cenário de horror pelo qual passa a cidade. Mais de 600 mortos não é pouca coisa, nobres edis. Afinal, com toda a banalização, já temos em menos de 4 meses de 2021 o mesmo tanto de mortos que o ano passado inteiro – eram precisamente 307 óbitos em 1º de janeiro deste ano.

Administrar a pandemia com a criação de leitos de UTIs e enfermarias, hospital de campanha – medidas paliativas necessárias diante da superlotação do sistema público de saúde – não são suficientes, enquanto o vírus continuar circulando em sua rota ascendente rumo a uma curva que nunca acaba. Evidentemente, estes espaços de retaguarda são importantes em estágios iniciais ou graves da doença e as pessoas contaminadas têm que ser cuidadas e acolhidas em algum lugar e com toda a infraestrutura necessária. Mas para conter o vírus é preciso a vacinação em massa e urgente para toda a população.

Também é estranho silêncio do governo municipal, dos vereadores, do Ministério Público e do Judiciário em relação ao governo federal que, em tese, deveria fornecer vacinas em quantidade suficiente para todos. Apoiado em primeira hora pelo presidente Bolsonaro, era de se esperar que o prefeito Gustavo Nunes se manifestasse de forma mais aguerrida junto a seu grande aliado. Pelos números, em relação a outros municípios, estado e País, tem argumento suficiente para tentar convencer o presidente de que a cidade precisa de mais vacinas do que as doses a conta-gotas que são enviadas vez ou outra, sem data marcada, com previsões cada vez mais imprecisas.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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