Cultura

Unidades de saúde e UPA terão nomes de vítimas do Massacre de Ipatinga

IPATINGA – As vítimas oficiais do trágico evento conhecido como Massacre de Ipatinga, ocorrido no dia 7 de outubro de 1963, serão homenageadas por meio de sete projetos de lei aprovados durante a reunião ordinária realizada na Câmara de Ipatinga (21). As proposições, apresentadas pelo vereador Agnaldo Bicalho (PT), tratam da denominação de seis Unidades Básicas de Saúde em vários bairros da cidade e da Unidade de Pronto Atendimento – UPA que está sendo construída no bairro Canaã.

“O ano de 2013 marca a memória dos 50 anos do Massacre de Ipatinga e uma série de atividades foi realizada na cidade para se preservar a história. E a história de Ipatinga é contada pela construção de uma grande indústria, pelo seu povo, pelos sobreviventes e também pelos seus mortos”, afirmou Agnaldo Bicalho.

JUSTIÇA
O vereador afirmou que, ao aprovar os projetos, a Câmara Municipal de Ipatinga mais uma vez faz justiça à memória das pessoas que foram barbaramente assassinadas pelas forças policiais em outubro de 1963.

“Há dois anos, a Câmara aprovou um projeto de nossa iniciativa homenageando um dos mortos do Massacre, que foi Eliane Martins, uma menina de três meses que passava pela portaria da usina no colo de sua mãe. Ela não era metalúrgica e não tinha nada a ver com a empresa, mas passava pelo local e foi atingida por um tiro daquela metralhadora sanguinária. Ela deu nome ao Hospital Municipal, porém, ainda restavam mais sete vítimas oficiais daquele trágico dia”, detalhou Agnaldo.

HOMENAGEADOS
O parlamentar petista reconheceu que a homenagem está sendo prestada com atraso pelo Legislativo ipatinguense. “Há dois anos a Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou leis de denominação de ruas da capital prestando homenagem às vítimas do Massacre de Ipatinga. E nós, vereadores que já exercemos mais de um mandato, até esta data não havíamos tomado esta iniciativa. Mas hoje, coletivamente, estamos corrigindo esta falha”.

Na tribuna, Agnaldo recordou um pouco da história do fotógrafo amador José Isabel Nascimento, uma das vítimas do Massacre e que dará nome à UPA do bairro Canaã. Conforme o vereador, José Isabel também trabalhava como metalúrgico e resolveu fazer algumas fotos da confusão na porta da usina. “Ele já havia acabado com um filme inteiro e na primeira foto do segundo filme foi baleado, morrendo alguns dias depois. Mas, graças à coragem daquele homem, hoje temos o registro fotográfico daquele dia, do caminhão da polícia com aquela metralhadora em cima”.

Os outros homenageados são: Gilson Miranda, que dará nome à Unidade de Saúde do bairro Iguaçu; Aides Dias de Carvalho, Unidade de Saúde do Bom Retiro; Alvino Ferreira Felipe, Unidade de Saúde do Limoeiro; Sebastião Tomé da Silva, Unidade de Saúde do Canaã; Antônio José dos Reis, Unidade de Saúde do Esperança; e Geraldo da Rocha Gualberto, Unidade de Saúde da Vila Celeste.

INDIGENTE
Neta de Alvino Ferreira Felipe, a farmacêutica Cléria Lúcia Gomes acompanhou a reunião ordinária e a aprovação dos projetos de lei que prestam homenagem às vítimas do Massacre de Ipatinga. Funcionário da empreiteira A.D. Cavalcanti, Alvino seguia para uma perícia médica em Timóteo e passou pelo local onde ocorria o conflito, quando foi morto. O trabalhador, na época com 42 anos de idade, foi tido pelas autoridades como indigente por causa das roupas que usava, um paletó muito simples, diferente do uniforme dos colegas. Porém, um funcionário da usina reconheceu o corpo na sala da empresa e avisou a família.

Pai de cinco filhos, Alvino era natural de Ferros (MG) e residia no distrito de Barra Alegre. Cléria Lúcia disse que a situação da família ficou muito difícil com a morte do avô. Sua mãe, Maria da Conceição Gomes, tinha na época 16 anos de idade e teve que começar a trabalhar para ajudar no sustento dos irmãos, o mais novo com apenas 2 anos.
“Minha mãe está muito feliz com esta homenagem, pois sempre cobrou um reconhecimento deste tipo. Não repõe a perda, mas o nome do meu avô na Unidade de Saúde do bairro Limoeiro nos deixa mais confortados”, declarou Cléria Lúcia.


Cléria Lúcia é neta de Alvino Ferreira Felipe, funcionário da empreiteira
A.D. Cavalcanti que morreu no confronto

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