Nacionais

Transição para onde

(*) Fernando Benedito Jr.

Em entrevista recente à “Folha de S. Paulo”, quando disse que o governo Bolsonaro não é a volta dos militares, mas que há o risco de politização dos quartéis, o comandante do Exército, Eduardo Villas Boas, disse também que o governo de transição “tem algumas coisas bem definidas, mas em outras ainda está tateando”, fica batendo cabeça, como na política externa. Foi até generoso. O que está bem definido, ainda não está bem claro. Além de ficar imitando seu ídolo Donald Trump, com uso sistemático do twiter, transferência da Embaixada brasileira para Jerusalém, críticas à política comercial chinesa, boicote ao Mercosul e de encrencar com a Venezuela, Bolsonaro não falou nada de muito interessante, para continuar na generosidade. Nesta linha, não demora a propor a construção de um muro em Roraima, para evitar a entrada dos comunistas bolivarianos, ou coisa que o valha.

Entre outras besteiras, já disse que vai revisar as provas do Enem quando assumir. Quer ver antes. Só que o governo não tem nada a ver com isso. Aliás, essa sandice de escola sem partido vem perdendo ações judiciais em quase todos os estados do País pela fronta que representa à Constituição, à liberdade de ensinar, o risco de intimidação que encerra, entre outas doideiras.

Dia desses, no Twiter, como de costume, Bolsonaro foi taxativo: “Firmo o compromisso de iniciar o meu mandato determinado a abrir a caixa-preta do BNDES e revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos. Acredito que esse é um anseio de todos”.

Hoje (12) chamou para presidente o BNDES o economista Joaquim Levy, que foi ministro da Fazenda de janeiro a dezembro de 2015, no segundo mandato de Dilma Rousseff; e também secretário do Tesouro Nacional entre 2003 e 2006, durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Tem que ver se esse comunista bolivariano vai mostrar quanto foi para Cuba, Venezuela e Bolívia,

Também chamou o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldjfan, que foi colocado lá por Henrique Meirelles, outro que vem dos tempos de Dilma e continuou com o golpista Michel Temer. Justifica-se: Goldjfan é israelense, país que Bolsonaro cultua assim como cultua seu ídolo Trump. Devia colocar Ilan Goldjfan nas Relações Exteriores, que já facilitava a mudança da embaixada. Mas a idéia deve ser mais ou menos essa, diminuir atritos: “Aí, tem até um judeu no meu governo”. E de quebra ainda mostra que não é fascista.

A nomeação de Sérgio Moro é outro ponto polêmico. Embora Bolsonaro tenha sido eleito com uma campanha centrada no preconceito, na defesa da violência, do porte de armas, etc. Moro já disse que o presidente eleito não é nada do que parece. Também à “Folha de S. Paulo”, Moro afirmou que não viu proposta de cunho discriminatório às minorias durante a campanha eleitoral e que, inclusive, tem grandes amigos homossexuais. Ou seja, é tudo um fake news.

O paladino da corrupção vai ter que conviver, lado a lado com Ônyx Lorenzzoni, que recebeu caixa 2 da JBS, “mas já pediu desculpa”; com Joaquim Levy, que integrou governos do PT, principal símbolo da corrupção no País da “era Bolsonaro”; e com o que há de vir, inclusive o crescimento da violência, se o porte de armas for mesmo liberado e o estatuto do desarmamento revogado. Vai ter tanto problema de violência e falta de cadeia para resolver que o combate à corrupção vai ficar para o próximo mandato.

No ritmo em que as coisas estão indo nesse período de transição, será interessante observar quem começa primeiro o tiroteio: a oposição ou os próprios bolsonaristas, muitos já inquietos, mas de bandeira em punho pela “intervenção militar constitucional” – que nem o general Villas Boas sabe exatamente do que se trata, nem como fazer.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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