Cultura

‘Senta a Pua’ mostra relatos sobre o Massacre de Ipatinga

IPATINGA – Uma história real, contada por alguns de seus atores. Essa é a proposta do documentário “Senta a Pua”, dos jornalistas Nilmar Lage e Thiago Moreira, que será apresentado nos dias 5, 6 e 11 deste mês, em Ipatinga. A primeira sessão ocorre nesta sexta-feira, dia 5, na praça do bairro Santa Mônica, um dos cenários onde se desenrolaram os acontecimentos que ficaram conhecidos na história da região como “O massacre de Ipatinga”.

Corria o ano de 1963. No dia 7 de outubro, trabalhadores da Usiminas, após uma série de descontentamentos com a vigilância da empresa e condições de moradia oferecidas pela siderúrgica, fizeram uma paralisação e logo depois entraram em confronto com a Polícia Militar. Por volta de 7:00h, centenas de operários, 19 policiais e um fuzil FMZB, em cima de um caminhão Opel, estavam na portaria da empresa quando teria vindo a ordem: “Senta a pua!”

Os números não batem, oficialmente seriam oito mortos, mas testemunhas falam em mais de 30. Essa tensa manhã de outubro ficou durante muitos anos no ostracismo da memória ipatinguense. Em “Senta a Pua”, a proposta é trazer alguns personagens mais uma vez a público, dando-lhes autonomia para relatarem sua versão.

Nilmar Lage conta que começou a produção totalmente independente e filmou grande parte das entrevistas mas não conseguiu finalizar e lançar na data que lembraria os 50 anos do massacre. “Conseguimos apresentar uma prévia do documentário, com um bate papo ao final, e deixamos para finalizar tudo em 2014, com recursos para finalização e lançamento pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Ipatinga, que é o que estamos fazendo agora”, explica.

Ele esclarece que o filme não tem a pretensão de resolver nenhuma das grandes questões que ficaram na dúvida no desenrolar dos fatos ao longo dos anos, como por exemplo, o número exato de mortos. “Na verdade, nossa intenção era muito mais registrar essa história de Ipatinga contada por seus personagens, que poucas vezes tiveram oportunidade de falar nisso. ‘Senta a Pua’ é documentário, mas tem pequenas intervenções ficcionais, que servem para fazer links entres as passagens que compõem a história”, disse.

Na parte ficcional, o ator ouropretano Julliano Mendes interpreta um possível sobrevivente das investidas policiais contra os trabalhadores. Com base no conceito de Walter Benjamin, esses narradores tiveram voz, para falar sua verdade. Sem julgamento de valor, conforme adiantam os produtores, “Senta a Pua” foi montado para recontar o episódio conhecido como Massacre de Ipatinga. Nilmar Lage esclarece que a Usiminas não quis se pronunciar.


SERVIÇO

Direção, entrevistas e fotografia: Nilmar Lage e Thiago Moreira
Fotografias dos entrevistados: Nilmar Lage
Still: Charles Sant`Anna
Ator: Julliano Mendes
Entrevistados: Dinah Resende (enfermeira), Helena Santos (moradora), Adil Albano, José Horta, Jacaré, Hélio Matheus, Geraldo Fontes, Enias de Souza e Serrinha (trabalhador da Usiminas); Cley Villian (motorista do caminhão), Geraldo Ribeiro (presidente do Sindicato), Hélio Guimarães (vigilante da Usiminas), Capitão Xavier (PM), sargento José Francisco (PM), e Rossi do Nascimento (filho de vítima fatal).

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