Cidades

São Camilo faz balanço de atendimentos em Fabriciano

O médico Nicolas Carvalho disse que casos clínicos estão sendo remetidos para as unidades de saúde: prioridade é das urgências e emergências

FABRICIANO – O médico Nicolas Carvalho, que trabalha como clínico geral do Pronto-Atendimento do Hospital São Camilo, concedeu entrevista na tarde de ontem (12) para avaliar e quantificar os atendimentos feitos desde a reabertura da unidade.
A constatação feita por ele foi de que grande parte da demanda recebida no hospital deveria ser resolvida nas unidades de saúde. “O município tem mais de 100 mil habitantes e ficou um bom tempo com o hospital fechado e sem a atividade hospitalar. Com a abertura, demanda um tempo até a população entender o que é um atendimento de urgência e emergência, e atendimento hospitalar”, explicou.
Até a última terça-feira (11), foram registrados 842 atendimentos, volume muito acima da previsão. Pacientes de Coronel Fabriciano representaram 91% (772 pessoas) desse total. O segundo município que mais requereu atendimento foi o de Timóteo (18), seguido de Ipatinga (12), Marliéria (10) e Antônio Dias (10).
A capacidade do Hospital São Camilo é de atender 2.000 pacientes na urgência e emergência mensalmente. Dos casos acolhidos, entre 80% e 90% das pessoas que procuraram o Hospital não se enquadraram em urgência ou emergência.
“Isso demora e exige um trabalho de médio e longo prazo, esse paciente buscar atendimento na rede básica. Até a população entender e criar essa cultura e esse hábito de que algumas patologias e demandas são para a atenção básica. As demandas que vêm da atenção primária atrapalham o atendimento de urgência e emergência, porque quando chega uma emergência você não sabe quanto tempo vai ficar por conta daquele paciente”, avaliou.

CLASSIFICAÇÃO
Cada paciente que chega ao Hospital São Camilo retira uma senha e aguarda ser atendido pelo enfermeiro, que realiza a triagem segundo o protocolo de Manchester. Os casos de emergência (vermelho) nem passam pelo acolhimento e são imediatamente atendidos pela equipe médica.
“Nesse período seco que estamos passando, em que temos um quadro virótico, muito comuns são as infecções aéreas superiores como as gripes e resfriados. Às vezes o paciente começa com os sintomas de dor de cabeça, garganta e coriza. Logo no primeiro sintoma, o paciente vem para o hospital para resolver aquele problema. Isso não é demanda de hospital e sim de unidade de saúde”, falou.
Os casos de maior urgência são atendidos com prioridade pelo enfermeiro. Os casos de menor urgência aguardam em segurança, e os casos sem nenhum risco são encaminhados para as Unidades Básicas.
“O usuário que está do lado de fora à espera fica angustiado querendo resolver o problema dele. Acaba tumultuando e criando uma certa confusão, em um lugar que não deveria, que é a portaria de um hospital. Do lado de dentro existe pessoal que realmente precisa e demanda atenção dos médicos, enfermeiros e técnicos. É esse paciente que queremos atender aqui, é essa demanda que temos que ter numa urgência e emergência”, ponderou.

ATENÇÃO PRIMÁRIA
O médico exemplificou que troca de sonda, busca de medicamentos, resfriados e dores comuns, como de cabeça, no corpo ou cansaço, não são quadros de saúde que o hospital atende. Esses casos estão sendo encaminhados para as unidades de saúde.
“Mas não quer dizer também que quando a pessoa chegar na unidade de saúde vai ter o médico ali de prontidão. Ele vai receber o atendimento, ser acolhido pela enfermeira que vai ouvir o paciente e a demanda, e aí sim encaminhar fazer a avaliação, se o paciente deve passar pelo médico agora ou se pode ser agendado para outro momento. Para isso, serve a estratégia do PSF”, lembrou.
Ao chegar na unidade, os usuários passam pela classificação com base no protocolo de Manchester. Os casos classificados como equivalentes à demanda de unidades de saúde estão sendo encaminhados para o posto de sua referência, que é no bairro onde o usuário mora.

PRIORIDADES
O médico reiterou que a comunidade precisa entender que o Hospital São Camilo é para casos graves como queimaduras, picadas de inseto, dispneia, traumas, choques e outros que envolvem riscos.
“Um dia, pode ser que qualquer um de nós precisaremos de fato do atendimento médico e encontraremos hospitais cheios. Se não instituirmos essa educação de busca pelas Unidades Básicas primeiramente, poderemos ter um Hospital de 200 ou 300 leitos que sempre estará lotado. Essa não é a finalidade de um Hospital”, alegou o médico.

LEITOS
Carvalho lembrou que a região do Vale do Aço possui um alto déficit de leitos, e nem mesmo a reabertura do Hospital em Fabriciano será suficiente para suprir a alta demanda existente. Por isso, ele disse ser necessário uma melhor estruturação da rede de saúde primária e secundária em todo o Vale do Aço
“O paciente que é acompanhado na unidade de saúde, a exemplo, um hipertenso. O médico acompanha e avalia o quadro e as medicações. Esse profissional está ali para evitar que esse usuário venha a ter complicação e demande vir ao hospital. Porque no hospital, o paciente vai ter um custo maior. Ao ser controlado na rede básica, às vezes esse paciente precisa de um especialista, de uma atenção secundária. Se isso não estiver muito bem amarrado e pactuado, quem vai sofrer são as portas dos hospitais”, justificou.


Pacientes que procuram a unidade hospitalar passa por uma triagem para classificar os casos mais graves

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