Opinião

Rússia e o Eurasianismo

(*) Wanderson R. Monteiro

Durante a história da humanidade muitas foram as ideias que tentaram mudar – e moldar – a sociedade, todas fundadas em determinadas bases teóricas que lhes servem para traçar os alvos e objetivos a serem alcançados, e os meios e princípios que devem ser utilizados para alcançar tais empreitadas ideológicas. Dentre as variadas ideias – e ideologias – que se destacam em nosso mundo atual, uma que ganhou bastante destaque com o conflito entre Rússia e Ucrânia foi o Eurasianismo, teoria geopolítica/ideológica na qual são baseadas inúmeras ações provenientes do Kremlin.

O eurasianismo surgiu do antigo movimento “nacional-bolchevique”, inaugurado pelo cientista político Aleksandr Dugin e o romancista Eduard Limonov, no início dos anos 90. A ideia inicial era reunir um vasto front ideológico com tudo o que fosse anti-ocidental e anti-israelense no mundo: comunismo, fascismo, nazismo e, sobretudo, os vários movimentos “tradicionalistas”, herdeiros dos ensinamentos de René Guénon, Julius Evola, Frithjof Schuon, Amanda K. Coomaraswamy, entre outros.

Dugin e Limonov tinham opiniões discordantes em relação ao governo de Vladimir Putin, pois, Limonov, crítico feroz da administração de Putin, era contra, e condenava as ações do presidente russo. Já Dugin, viu o governo Putin como uma grande oportunidade de subir na vida. Assim, Dugin se tornou ideólogo do governo Putin, enquanto seu amigo, Limonov, acabou sendo preso pelo mesmo governo.

Com a prisão de Limonov e a participação de Aleksandr Dugin no governo de Vladimir Putin, o nacional-bolchevismo chegou ao fim, dando origem a um novo movimento, encabeçado por Dugin: o “eurasianismo”. O movimento eurasiano é praticamente o mesmo “nacional-bolcheviquismo” acrescido de novos elementos extraídos de pensadores russos do século XX e, principalmente, das obras do geólogo inglês Halford J. Mackinder, de onde Dugin tira sua principal teoria sobre as nações, e a ideia do “Heartland” (que abordarei no próximo artigo), pontos basilares na teoria geopolítica de Dugin.

O núcleo desse pensamento é a ideia de que toda a história humana é pautada por infinitas guerras entre “potências terrestres”, ou, “eurasianas”, e “potências marítimas”, ou, “atlânticas”. Hoje em dia, essas forças são representadas pelo bloco russo-chinês e pela “aliança atlântica” dos Estados Unidos com a Inglaterra e Israel.

Assim, Dugin resume não só o conflito Rússia e Ucrânia, mas todos os conflitos armados e guerras já deflagrados na história mundial, classificando todos eles como a disputa de poder entre estes dois pólos, as “potências terrestres” e as “potências marítimas”, onde as mesmas eram os principais atores ou aqueles que influenciavam tais conflitos.

A partir da teoria eurasiana, Dugin interpreta todas as ações e acontecimentos no mundo e, a partir dela, baseia as ações que a Rússia deve tomar diante de todos acontecimentos mundiais de forma que, para muitos, as decisões da Rússia, principalmente de Putin, no tabuleiro mundial são completamente incompreensíveis sem que se tenha um conhecimento das ideias de Dugin, mostrando sua importância, e as possíveis, e prováveis, consequências que sua teoria geopolítica/ideologia pode trazer para o mundo.

(*) Wanderson R. Monteiro é formado em Teologia, coautor de 4 livros e vencedor de três prêmios literários.

(dudu.slimpac2017@hotmail.com)

São Sebastião do Anta – MG

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