Opinião

Os fascistas querem se apropriar do conceito de liberdade

(*) Fernando Benedito Jr.

O fascismo bolsonarista, refletido no apoio acrítico de milhares de pessoas manipuladas por grupos nas redes sociais, mobilizados pelos detentores do grande capital, principalmente pelo agronegócio, que reúne gente em caravanas de todo o País para lotar Brasília e a avenida Paulista, numa demonstração de força, de tudo ou nada – foi tudo e foi nada – quer a todo custo se apropriar de símbolos nacionais, como a bandeira. Mas, o mais interessante é quererem se apropriar do conceito de liberdade.

Liberdade para eles é deixar que Sara Winter, Daniel Silveira, Roberto Jeferson, Zé Trovão e outros integrantes de milícias digitais e milícias de verdade ameacem e vilipendiem impunemente  a Constituição e as leis, as instituições democráticas, os direitos de quem não pensa como eles.

A “liberdade” que defendem é a da exploração desmedida do trabalho pelo capital. O fim da Consolidação das Leis do Trabalho, a privatização das empresas estatais e sua entrega ao capital privado a preço de banana (que também, não está tão barata). É a concessão de rodovias, dos Correios, da Base de Alcântara, dos parques nacionais (que correm sério risco de virar grandes plantações de soja). É passar a boiada. A liberdade que querem é de poder queimar a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado para transformar tudo em pasto. Querem liberdade para desmatar sem serem importunados pelo Ibama e calcinar a terra até não sobrar nada. Querem liberdade para secar os reservatórios de água, liquidarem o Aquífero Guarani e todas as fontes de água doce do País. Querem liberdade para cometer o genocídio de índios e negros, promover o discurso de ódio, homofóbico e xenofóbico sem serem importunados.

A liberdade que querem e defendem é a de “empreender”. De construir altos edifícios nos centros urbanos sem preocupação com o meio ambiente, com a segurança e bem-estar, com a capacidade das redes de esgoto, água e eletricidade de comportarem o lixo e a poluição que geram. Sem precisarem dar satisfações a ninguém porque depois o poder público, com os recursos arrecadados pelos impostos pagos por toda a população, se encarrega de investir para consertar o estrago feito pelos grandes “empreendimentos”.

Querem a liberdade para comprar fuzis e revólveres e promover a violência como se não bastasse a que já existe, para que as milícias e facções criminosas se tornem cada vez mais poderosas e violentas. Cada vez mais fortes para intimidar os mais pobres, tomar-lhes o pouco que ainda resta.

Querem liberdade para mentir, propagar fake news sem que as redes sociais possam remover seus conteúdos golpistas e antidemocráticos.

Os fascistas bolsonaristas querem a liberdade da impunidade. Muitos sequer sabem o que querem, porque ora querem uma coisa, ora querem outras, dependendo do que lhes sugere a pauta do momento. Mas, é certo que não querem as liberdades democráticas, as liberdades individuais, a liberdade para construir um mundo melhor.

Aquela liberdade que liberta a alma da ignorância, da falta de empatia com a natureza e com o outro, que respeita os direitos humanos, a vida, a liberdade que leva ao caminho da felicidade plena, esta eles não querem, está claro.

Esta apropriação indébita da bandeira, podem ficar com ela, não é de todo mal. Já a do conceito de liberdade, leva a outro questionamento: com as idéias de liberdade que têm estes fascistas, qual a razão deles existirem se querem destruir o mundo com ela?

(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.

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